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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

22
Jun17

Um S. João na praia

Desde que me conheço e que me mudei para a casa onde estou atualmente que festejo o São João. Para além do Natal, sempre foi a minha altura favorita do ano e quando os meus irmãos viviam cá em casa eram festas de 50, 60 ou 70 pessoas - para além dos familiares, vinham os amigos e os amigos dos amigos; fazia-se aqui uma festa a sério. Decorávamos a casa a rigor com grinaldas, manjericos, enfeites de papel e luzinhas de várias cores, montávamos vários grelhadores para as carnes e para as sardinhas e púnhamos uma quantidade infindável de cerveja dentro de um barril que, uma semana antes, já estava dentro da piscina para a madeira inchar.

Era uma festa muito animada, com muita música, em que o álcool e os amigos do meu irmão enchiam a casa inteira. Mesmo as crianças - da qual eu fazia parte - eram tantas que enchiam os quartos, os viravam do avesso e a circulação se fazia de forma difícil ainda que a casa seja grande. Quando tocava a meia-noite, enquanto no Porto todos olhavam para o céu, nós olhávamos para baixo - mais propriamente para a piscina para onde nós íamos atirar. E depois por lá ficávamos, ríamo-nos por os nossos pais não se estarem a aperceber daquilo que estávamos a fazer e tentávamos não estar em silêncio - coisa que não é fácil quando se anda aos saltos para dentro de água. Para nós, ver os corpos sair dentro da água  - que à noite parece negra  - e ter a sensação de que, cá fora, estavam a "fumegar" já era tradição - assim como era tradição eu ligar para todos a meio da tarde e lembrar para trazerem os fatos de banho para festejarmos a noite mais curta do ano.

Mas as tradições acabam, assim como as crianças crescem e os irmãos saem de casa. E nos últimos anos, fazer o S. João era - para mim - uma tristeza, porque ainda me lembro dos tempos de casa cheia. Os miúdos passaram a graúdos, já não andam necessariamente com os pais e já não ficam assim tão felizes por ser a noite mais curta do ano (menos noite, menos diversão, não é verdade?); o meu irmão emigrou e raramente está cá, os outros nem sempre comparecem por terem outros compromissos; os amigos vão para casa de outros amigos - e eu, que não tenho praticamente nenhuns e quase nunca os trouxe a minha casa, também não alimento essa prática. Por isso, nos últimos anos, a festa foi ficando vazia, só com os habituais e os fortes, que não arredam pé.

Mas pior que ter um São João vazio, achava eu, era não fazer São João. E isso aconteceu há dois anos, à custa da meteorologia que nos deu chuva em vez do sol e do bom tempo típico dessa altura do ano. Abortamos os planos e ficamos em casa, como num dia normal - só mais triste que o resto dos dias (mais tarde, quando o temporal abrandou, eu ainda fui sair mas a festa já não era a mesma). E eu diria que nesse ano, ainda que não tenha sido de propósito, se abriu um precedente perigoso: o de não se festejar o S. João.

Perigoso porque este ano decidimos repetir - e não foi pelo tempo. Vivemos sempre condicionados com o dia 23 de Junho, queríamos sempre estar cá e fazer um arraial - e fazíamos, melhor ou pior, adoentados ou em perfeita saúde, comigo tendo ou não exame nos dias seguintes. Mas este ano viemos de férias. Ao longo dos últimos anos têm caído tantas tradições como o número de pessoas que cá vem e a boa disposição que cá se vive, por isso deixamos cair a derradeira: este ano, aqui em casa, não há festa. E é estranho como isso me deixa triste mas, ao mesmo tempo, muitíssimo aliviada. Hoje não penso em doces, grinaldas, carregar mesas ou limpar cadeiras. Hoje vou para a praia e isso também é bom.

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