Porque é que as bolas vêm sempre aos pares?
Calma, suas mentes depravadas. Estou a falar das bolas de berlim.
O verão acabou há um mês, mas eu já estava em modo-luto de bolas de berlim há muito tempo. Isto porque podem fazer o que quiserem, mas não há nada que saiba igual a uma bola de berlim na praia. Podem inventar todo o tipo de marmitas (são, no entanto, automaticamente elegíveis para uma picada de peixe-aranha se levarem coisas saudáveis para a praia - sabiam disso, certo?) ou até comprarem a bolinha na pastelaria mais próxima e levá-la na mochila térmica - está cientificamente comprovado pelas minhas papilas gustativas que não é igual. A bola de berlim a sério compra-se (e come-se!) na praia, aos vendedores que gritam "bolinhaaaaa" e que, preferencialmente, fazem rimas e trocadilhos como ladainha para a sua venda; tem de sair de uma arca em forma de mala de picnic e ter como vizinhas muitas outras bolas, ainda que de sabores e recheios diferentes. Só o preenchimento de todos estes requisitos é que determina a compra da verdadeira bolinha de berlim. Isto faz com que só no verão é que tenhamos hipótese de degustar esta iguaria que, apesar de nome de capital alemã, é bem portuguesa.
Dados os meros três a quatros meses de vida, por ano, da real bola de berlim, somos muitas vezes obrigados a recorrer à contrafação. É mais ao menos como as Louis Vuitton - quando não há dinheiro para uma verdadeira, compram-se na feira, parecidas, mas com um preço mais simpático. Aqui é semelhante: à falta de berlineiros de serviço, pode-se sempre ir a uma pastelaria ou supermercado. Ainda há dias vi um vídeo da La Dolce Rita (pasteleira cujas receitas eu adoro) a comparar as bolas de berlim de supermercado. Como boa pasteleira que é, não conseguiu eleger nenhuma como a melhor (pois essa, a real, e se leram bem os parágrafos acima, só pode ser encontrada num certo e determinado local, com areia e água à volta) - mas provou-as e apontou os pontos fortes e fracos de cada uma delas.
E eu não consegui ficar como mera espectadora - a saliva crescia-me na boca à medida que os minutos do seu vídeo iam passando. E eu, que não punha o dente em nenhuma bola desde Julho, fraquejei e tive de recorrer à contrafação de supermercado. Vi as várias opções disponíveis nos estabelecimentos mais próximos e foi no Lidl que descobri a que mais me agradou (e que, por acaso, a Rita não provou): a bola de berlim de alfarroba, com creme. Não me posso queixar - era boa, tendo em conta que é uma bola pré-congelada e que eu não estava de férias a apanhar sol na praia.
Há, no entanto, um problema generalizado: em todos os supermercados as bolas são sempre vendidas aos pares. E eu, que tenho um marido pouco dado a doces, deparo-me com uma constatação difícil: se quiser uma bola, terei de comer duas. É um verdadeiro problema de primeiro mundo - principalmente para as minhas ancas, que gritam de horror só com a perspetiva. Mas agora a sério: depreende-se que as bolas de berlim são para ser partilhadas? Ou que são tão boas que nunca se consegue comer só uma? Ou que as bolas... vêm sempre aos pares? São muitas dúvidas. Preciso de esclarecimentos.
(esta é das reais, com certificado de qualidade)