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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

25
Out17

Dez coisas que ninguém nos conta sobre os cruzeiros

Para terminar em grande esta minha saga sobre o cruzeiro, quero deixar um post que idealizei há muito tempo mas que só fazia sentido partilhar depois de ter concluído todos os diários de bordo. E, finalmente, é o momento! Depois de no ano passado ter feito uma descrição exaustiva daquilo que é fazer um cruzeiro, com todos os detalhes que achei necessários, pensei em não vos tornar a maçar com algo tão pesado. Por isso selecionei dez factos sobre viajar em navios que nunca antes tinha encontrado - a maioria deles por serem caricatos ou simplesmente estranhos ao ponto de ninguém se lembrar de os mencionar! 

Este é o culminar das minhas duas experiências em cruzeiros, uma vez que muitos dos procedimentos são os mesmos. Não quer dizer que sejam medidas universais, mas parece-me que se sentem um pouco por todos os barcos de cruzeiro que navegam por aí. Vamos lá:

 

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1 - Os guardanapos querem-se no regaço. Quando chegam pela primeira vez ao restaurante principal - aquele onde jantam pratos mais gourmet, onde há as noites de gala e que está incluído na estadia completa -, ainda meio atarantados à procura da vossa mesa e sem perceber bem aquele sistema, mal se sentam e o vosso empregado se aproxima uma coisa é certa: ele vai tirar o vosso guardanapo da mesa, abri-lo e colocá-lo no vosso regaço. E não, não pedem licença. Isto aconteceu-me em ambos os cruzeiros e das duas vezes fui apanhada de surpresa (como quem diz "wow, mal tive tempo para respirar! Onde é que estás a pôr a mão?!"). Nos jantares seguintes já sabia: mal me sentava, mesmo que ainda meia torta, já estava com o guardanapo nas pernas. Just in case.

 

2 - Uma das coisas mais chatas nos cruzeiros é o "drill" - ou seja, um simulacro para estarmos preparados caso aconteça alguma coisa e seja preciso evacuar o navio. Acontece normalmente antes do barco zarpar e é obrigatório a todos os passageiros - e sim, eles contam-vos e chamam o vosso nome caso não estejam presentes (por isso não vale a pena fingirmo-nos de mortos). Os dois que fiz eram diferentes - num tive mesmo de ir para a beira dos barcos salva-vidas, no outro dirigimo-nos para o ponto de encontro para onde teríamos de ir em caso de emergência. Ambos foram chatos e eu adorava dizer que foram úteis, mas nem quero imaginar se algo acontecesse mesmo, porque tudo parece um pouco desorganizado. No fundo, contem estar uma hora calados, a ouvir o que diz o capitão. E não há mesmo ponto de fuga: todas as estruturas do barco param, há funcionários por todo o lado e não vos deixam ir para mais lado nenhum até aquilo acabar.

 

3 - Não querem lavar as mãos? Lavam na mesma! Este facto é até motivo de gozo internamente - um dos espetáculos que fui ver, com um humorista, gozava com o assunto. O que acontece, principalmente nas zonas de refeições, é que há sempre dispensadores com líquidos para desinfetar as mãos (como aqueles que, aqui há uns anos, estavam espalhados por todo o lado devido à gripe das aves). Mas nas horas de mais afluência há sempre empregados destacados, com um dispensador na mão, que vos intercetam e vos despejam líquido nas mãos - mesmo que não queiram! O que se passa ali é uma espécie de placagem disfarçada: sorriem muito, dizem-nos com imensa simpatia "hello, how are you today?" e depois, sem se aperceberem... squich! Agora não têm outro remédio senão esfregar.

 

4 - A água de beber é horrível, mas as outras bebidas podem levar-vos à falência. Se não querem gastar balúrdios em bebidas enquanto estão a viajar não vos restam muitas opções: na maioria dos sítios têm água, limonada e sumo de maçã (que eles dizem ser bom para desenjoar). Eu estou habituada a beber água em casa e por isso fazia sentido beber lá também - mas não consigo. Sei que sou pessoa de um paladar muito específico e extremamente apurado, mas acho que qualquer um notaria: a água é intragável, penso que devido ao sistema de recuperação e purificação da água que usam internamente. Nos restaurantes bebia sempre sumo, mas no quarto tinha sempre uma garrafa de água que trazia das cidades e que punha no frigorífico, para ter sempre sempre algo fresco para me matar a sede.

 

5 - Não são americanos? Problema o vosso! Isto pode não ser uma verdade universal, até porque viajei sempre em companhias americanas: primeiro na Royal Caribbean e depois na Celebrity Cruises. Mas tudo está desenhado e pensado para os americanos, começando pelas línguas faladas no barco. A primeira é, obviamente, o inglês e a segunda o espanhol - mas se por acaso não perceberem ou não falarem bem uma das duas, estão feitos ao bife. Primeiro porque não percebem o drill, depois porque não entendem os espetáculos, porque não podem participar em muitas das atividades que são feitas por animadores (que falam inglês) e, em último caso, terão mesmo dificuldade em comunicar com a tripulação. As bebidas são americanas, as perguntas dos quiz são feitas para americanos e para pessoas cuja primeira língua é o inglês e as comidas do buffet são feitas muito à imagem daquilo que se come na América.

 

6 - Quem faz tours tem números colados à camisola. Sempre! O ano passado perguntaram-me porquê que nas fotos eu aparecia sempre com um autocolante com um número colado à camisola: é para identificarmos qual o nosso grupo quando vamos em excursões. As tours são compradas no barco (ou pela net, antes de embarcar) e são-nos dados bilhetes com as informações úteis, como a hora de encontro e a hora de partida. Normalmente o ponto de encontro é sempre no teatro, onde se encontram todas as pessoas que vão fazer visitas guiadas. Mas dependendo das visitas que cada um escolheu, é-nos atribuído um número, que passa a ser o número do nosso grupo e do nosso autocarro. Quando é para sair chamam pelas pessoas com o autocolante número X e lá vamos nós. Como frequentamos sítios turísticos e muito movimentados, este método é bom para encontrarmos pessoas do nosso grupo e não nos perdermos. As guias normalmente também andam com placas com o nosso número para que as possamos encontrar com mais facilidade.

 

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 Neste caso era o número 2

 

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A guia com a placa na mão

 

7 - Os empregados tratam-se pelo nome. A simpatia do staff é uma das coisas irrepreensíveis nos cruzeiros. Senti-o mais no do ano passado do que neste - todos se esforçavam, mas os da Royal Caribbean faziam-no sem qualquer tipo de esforço, notava-se que era algo natural. Isto marcou-me de tal forma que ainda hoje sei o nome dos empregados que me atenderam o ano passado: na mesa era a Cecília, no quarto era o Nikolay. Isto porque os empregados que vos servem (nos serviços constantes, como limpeza de quarto ou no restaurante principal) são sempre os mesmos e, no início, se vêm apresentar: dizem o nome, às vezes de onde vêm, e dão os contactos caso precisemos de algo. Muitos deles também nos tratam pelo nome e o serviço é altamente personalizado, o que me leva ao próximo ponto.

 

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A relação com os empregados é de tal forma cúmplice que muita gente (nós incluídos) tira foto com eles antes de terminar a viagem.

 

8 - As gorjetas são algo normal quando se faz um cruzeiro. É claro que a simpatia pode ser natural, mas a gorjeta que pode estar no horizonte também importa. Na América é regra dar-se uma agraciação num restaurante e nos cruzeiros não é excepção: na Royal Caribbean não havia cerimónias e eram até dados envelopes para se deixarem notas aos empregados, já na Celebrity as coisas eram feitas com um pouco mais de discrição (mas a sugestão era dada nos papéis que nos forneciam). É muito difícil ser empregado num barco - principalmente trabalhando em restaurantes ou na limpeza de quartos. Estamos a falar de pessoas que durante semanas não têm folgas e trabalham mesmo muitas horas por dia, num trabalho que não é descansado. Eu via o empregado que nos servia ao jantar a trabalhar às 7 da manhã no pequeno-almoço, por exemplo; e a minha room atendant a trabalhar desde as oito da manhã às oito da noite. O meu cruzeiro foi de doze dias e nenhum deles folgou enquanto eu lá estive. Para além disso, no que diz respeito aos empregados de quarto, eles estão disponíveis 24 horas por dia - basta ligar do nosso quarto para a extensão deles, e eles atendem. E, por isso, é um trabalho que (para além de ser muito bem feito e ser também bem remunerado), merece uma compensação.

 

9 - A última noite é passada sem malas, a menos que as queiram carregar no dia seguinte. Normalmente, no dia anterior ao final do cruzeiro, são-nos deixadas indicações sobre como despachar a mala. Das duas vezes que viajei tive de deixar a mala no corredor, na noite anterior à partida: elas são identificadas com etiquetas, que têm um número e a nossa identificação pessoal (caso se percam), e só depois de atracarmos e de sairmos do barco é que as vamos buscar à zona correspondente ao número que nos foi atribuído para pôr na mala. É um sistema confuso e um bocado caótico, porque normalmente têm de se deixar as malas antes do jantar, o que faz com que tenhamos de pôr na nossa mochila/carteira (ou numa mala mais pequena) todos os bens essenciais para passar a noite e para o dia seguinte, até sairmos do barco (escova e pasta dos dentes, pijama, roupa do jantar anterior, etc.). Há a opção de sermos nós próprios a levar a mala, mas nesse caso somos os primeiros a sair do barco (lá para as seis da manhã) e temos de as carregar - e malas de duas semanas não são propriamente leves. Mas é muito giro sair do corredor e ver milhares de malas lá encostadas, de todas as cores e feitios, à espera de serem recolhidas. A verdade é que durante a noite acontece magia e no dia seguinte, logo de manhã, lá estão as nossas malas, prontas para serem entregues.

 

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 Uma das secções de malas, no terminal de cruzeiros.

 

 10 - "De onde vens?" é a pergunta que impera. Não esperem encontrar portugueses - durante 80% da duração do último cruzeiro, eu e os meus pais achávamos ser os únicos lusitanos no barco. Mas, afinal, havia mais quatro - com os quais acabamos por nem falar, porque a diversidade é tanta que nem vale a pena. Na viagem que fizemos no Báltico havia mais alguns, mas nada expressivo. A maioria das pessoas são americanas ou britânicas, havendo depois pequenos núcleos de todo o mundo, que é sempre bom conhecer. O ano passado conheci imensos israelitas; desta vez conheci americanos, porto-riquenhos, sul africanos, entre outros que já não me recordo. É sempre um bom tópico de conversa, principalmente se são países mais atípicos: e para além de conhecermos novas pessoas e de aprendermos algo sobre a sua cultura, ainda ajuda a passar o tempo - o que por vezes, nos tempos mortos (que não são muitos, é maioritariamente à noite), ajuda. Já os funcionários têm normalmente a identificação do país de origem. Se virem portugueses, é provável que vos façam uma festa - esta ano cruzei-me com dois, uma rapariga da Baixa da Banheira que trabalhava nas lojas (e que mandou um berro tal quando percebeu que falávamos a mesma língua que ela que eu até me assustei) e um oficial, que sorriu imediatamente quando lhe disse "bom dia" e que me agradeceu por ouvir falar português. É uma mistura interessante entre culturas e nacionalidades, onde sabe bem apreciar tanto aquilo que nos é desconhecido, aproveitando para reter algum conhecimento daí, mas também o "doce sabor a casa", quando encontramos alguém que partilhe a nossa bandeira, a nossa língua e a nossa cultura.

 

Há muito mais coisas que ainda poderia contar mas penso que, onze mil caracteres depois, já estão provavelmente bastante esclarecidos e fartos de me ler. Com este post dou por concluída a minha saga "cruzeiro 2017", que demorou a sair, mas que está finalmente completa. São publicações muito trabalhosas mas, ao mesmo tempo, muito boas de fazer: porque enquanto escrevo vivo tudo de novo. E é sempre bom reviver memórias, viagens e partilhar ideias e experiências com os outros. Que mais venham =)

10
Out16

Como é fazer um cruzeiro?

Este post vem com quase três meses de atraso, o que é uma vergonha. Normalmente, sempre que deixo passar as "datas úteis" para este tipo coisas, esqueço e avanço para outra - mas o cruzeiro foi tão marcante que eu queria mesmo fechar este capítulo. Quis muito escreve-lo mal acabei a série de roteiros de viagem que aqui fiz, mas fiquei assoberbada com a quantidade de coisas que queria escrever e que tinha para contar. Não se admirem, portanto, se esta publicação for muito comprida - eu própria me desencorajei por causa disso, mas acima de tudo isto serve um propósito: primeiro, porque eu gostava de ter encontrado um post como este antes de ter ido, só para ter uma ideia para o que ia, e não foi fácil encontrar algo que condensasse toda a informação; segundo, porque prometi a algumas pessoas que ficaram entusiasmadas com a minha viagem que este post sairia, por isso cá está ele! Tardou, mas não faltou. A quem isto não interessar, é só passar o post à frente.

 

Fazer um cruzeiro foi das melhores experiências da minha vida e uma total surpresa para mim. Li bastante sobre o barco, porque estava com medo do que dali pudesse vir ou de me sentir totalmente deslocada, mas todas as minhas expectativas foram superadas, ainda que com um choque inicial bastante grande. 

Antes de mais, é importante dizer que eu marquei a minha viagem nas agências El Corte Inglês, mas a experiência não foi a melhor (descrevi o porquê aqui, e tenho quase a certeza que a razão desta confusão foi a própria agência de viagens e não a companhia do barco). Eles disponibilizam um catálogo de muitos cruzeiros pelo mundo inteiro e eu e os meus pais optamos por este, da Royal Caribbean. É uma companhia americana bastante conceituada neste ramo, pelo que estávamos confiantes que - neste aspeto - as coisas iriam correr bem. O nosso barco era o Serenade of the Seas.

 

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Serenade of the Seas, à esquerda

 

O primeiro embate dá-se no check-in, confuso quanto baste e com filas de centenas de pessoas. É assustador ver a quantidade de pessoas que segue connosco no navio e perceber que são precisos muitos serviços e muitos empregados para fazer dispersas e movimentar uma multidão daquelas. Apoquentei-me no início, mas rapidamente percebi que o barco é tão grande que essa dispersão se faz de uma forma natural. É-nos dado logo o nosso seapass card, um cartão que serve como nosso "bilhete de identidade" dentro do barco - tem o nosso nome, o nosso deck, o número do quarto, o número da nossa mesa no restaurante principal e o nosso turno (o restaurante é enorme, mas ainda assim são precisos dois turnos para conseguir "rodar" toda a gente) -, servindo também como cartão de crédito para tudo o que compremos dentro do barco e como cartão de entrada no nosso quarto.

 

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 Isto foi no check-out, à saída, mas é só para terem uma ideia da quantidade de malas e pessoas que estamos a falar. Isto é só 1/5 das malas (senão menos)...

 

O segundo embate, para mim, foi precisamente o quarto. Este navio tem cerca de 1000 camarotes - é muito, mas há barcos com o dobro - e o meu era melhor que muitos quartos de hotel que por aí andam. Mas achei-o envelhecido e antiquado, pesado para um barco com um ar tão jovem em toda a sua restante estrutura. Foi a primeira impressão que tive mas, sinceramente, passou-me ao longo da viagem. Passei lá pouco tempo, mas acabou por ser um refúgio confortável.

 

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O quarto - neste caso, o meu tinha varanda

 

O terceiro e último embate foi na zona do restaurante self-service, onde se pode comer praticamente 24 horas por dia. Fomos lá depois de chegarmos e de visitarmos os nossos quartos (ou seja, já tinha os dois primeiros choques no lombo), já com alguma fome, e eu dei por mim quase de queixo caído com a balburdia que ali se vivia. Centenas de mesas, muitas delas todas sujas e com pratos com comida até acima e com as misturas mais inimagináveis da história. Literalmente à americana. E eu, que sou um pouco maníaca das limpezas, fiquei logo com o estômago pequenino e a fome evaporou-se - principalmente quando me sentei na mesa onde acabamos por almoçar e ela estava com restos de comida a cada centímetro. Este foi talvez o pior embate de todos mas também percebi que naquela altura devem ter recebido mais pessoas que o costume e não conseguiram dar vazão. Nas outras vezes que lá fui, apesar de sempre cheio, o ambiente era mais controlado.

 

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Fotos tiradas ao zarpar da Suécia

 

 A partir daí, foi tudo maravilhoso. Acima de tudo, aquilo que eu gostava mais de destacar é a simpatia constante do pessoal. O meu room atendant, chamado Nikolay, era um doce. Era da Bulgária e, quando falava inglês, tinha um sotaque meio russo, o que me dava imensa vontade de rir. Nos barcos é natural todos os empregados se apresentarem e dizerem de onde são a partir do momento em que vos servem: no caso da limpeza do vosso quarto, batem-vos à porta no primeiro dia e apresentam-se; no restaurante de jantares principal, também acontece o mesmo - e durante toda a estadia são servidos pelas mesmas pessoas. No caso do Nikolay, ele sempre que me via saía do quarto que estava a limpar e dizia "Hiii Carolina! You're so kind, so beautiful, so fresh! You're my favourite guest in the whole ship"; havia outros em que me dava amostras de produtos de higiene (no barco, ao contrário dos hotéis, não têm amenities) e dizia "I have a special gift for you!". Têm de imaginar tudo isto com sotaque russo para ter piada - aqui escrito até pode parecer um vangloriar da minha parte, mas creio que ele era mesmo querido e sincero naquilo que dizia.

No restaurante fomos servidos pela Cecília e pelo Ádrian, ela da Colômbia e ele do México. Principalmente a senhora era de uma alegria contagiante e de uma simpatia infinita - a partir do momento em que nos perguntou o nome já o sabia de cor, e sempre que se chegava a mim perguntava-me "Carolina, que vai ser?". Para além disso, era super atenciosa - se percebia que eu não gostava da comida perguntava-me se queria trocar ou se via que eu estava gostar de um acompanhamento em particular trazia-me mais. O sistema de jantares era simples: há o tal restaurante self-service para quem quiser e há também um restaurante normal (sempre com dress code), onde todos os clientes têm uma mesa marcada, que é sempre a mesma durante todo o cruzeiro (há também vários outros restaurantes, mas são pagos à parte). Apesar do restaurante ser enorme, não é suficientemente grande para albergar toda a gente de uma vez, pelo que há turnos - o nosso era o segundo, às 20:30h. Por norma, eles tentam sempre juntar as pessoas da mesma nacionalidade ou, pelo menos, com a mesma língua - nós ficamos com uma família de brasileiros com quem acabamos por ir sempre falando e no fim trocamos contactos.

 

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 Eu e os meus pais com a família de brasileiros e o Adrián e a Cecília.

 

Por este relacionamento ser tão bom, e apesar de ser pouco tempo, há uma tendência para nos apegarmos aos "nossos" empregados. Vi muita gente a tirar fotos, selfies e até meia dúzia de lágrimas a rolar, porque a simpatia deles e a forma como eles se entregavam era notável. Também por isso é que é clássico dar gorjetas no final do cruzeiro, que não são "leves" como as que se dão aqui em Portugal - em relação ao nosso room attendant, é mesmo deixado um envelope para o efeito.

Nos últimos jantares, os empregados de mesa e de cozinha invadiram a sala e fizeram umas danças na escadaria principal do restaurante e levaram muita gente à loucura. Devo admitir que foi emocionante. Nos barcos trabalha-se muito, sem folgas, de sol a sol - mas nota-se que há boa vontade e as pessoas notam isso e dão realmente valor.

 

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 Os cozinheiros na escadaria do restaurante

 

No que diz respeito ao dress code dos jantares, a minha dica é não se preocuparem demasiado - há noites de gala, noites formais e, no caso deste barco, uma noite branca, mas as pessoas pouco respeitam o dress code imposto. Preocupei-me imenso com o que vestir nas noites de gala, foi uma dor de cabeça para pôr tudo na mala, e depois percebi que foi uma parvoíce - vi coisas naquele barco de bradar aos céus de tão horrível!!

 

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 Não dá para perceber muito bem porque a foto está longe de ser perfeita (foi tirada por mim, com a máquina em temporizador, num tripé improvisado), mas este foi o vestido que levei para a primeira noite de gala. Na segunda levei um macacão.

 

Relativamente a atividades, isso depende obviamente de barco para barco. Eu tentei experimentar de tudo, mas ficou muita coisa a faltar. Não fui ao ginásio, ao spa ou a piscina (não achei que era ocasião para tal nem estava tempo para isso) - para além disso, no que diz respeito a "corpo e mente", há uma pista de atletismo, parede de escalada e campo de basquetebol/futebol que também não usufrui. Também não fui à discoteca. Aquilo que mais usufrui foram as atividades que podia fazer depois de chegar das visitas às cidades - ia ao casino depois do jantar (nunca tinha ido a um, foi todo um novo mundo para mim), ao cinema, ao teatro, às sessões de karaoke, a sessões de trivia (jogos de competição entre grupos) e etc. Há atividades para todos os gostos e idades, e todas nos são ditas nuns panfleto que todas as noites são deixados nos quartos, com toda a informação necessária relativamente ao dia seguinte (o dress code no restaurante, as atividades, o tempo e a temperatura esperada, a que horas aportamos e a que horas zarpamos, se é preciso alterar a hora dos relógios, sítios interessantes a visitar na cidade onde vamos parar... enfim, toda uma panóplia de informações muito úteis).

 

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Eu no casino e com alguns dólares, que nunca tinha visto "em pessoa" - o dólar é a moeda oficial do barco e aquela que é usada no casino

 

No que diz respeito à saída para as cidades, nós optamos sempre por fazer visitas guiadas. Da mesma forma que, quando chegamos ao quarto, temos o panfleto com as informações, há outro com todas as visitas guiadas disponíveis - e acreditem, são muitaaaas. Há para todos os gostos e feitios, de um dia inteiro ou só um par de horas, a pé, de segway ou autocarro, a visitar só igrejas ou museus ou para ver highlights das cidades. Nós tentamos escolher sempre aquele que nos parecia ser mais abrangente e que nos dava uma melhor visão da cidade - por pessoa, as visitas iam desde os 25 dólares até aos 200. 

Eu aconselho vivamente a que se façam as visitas guiadas. Isto porque apesar de adorar andar a vaguear pelas cidades e "perder-me" para as conhecer, num cruzeiro as paragens são relativamente curtas e não há tempo para isso. Andar com mapas, transportes públicos e perceber a dinâmica da cidade demora - e neste caso pode mesmo considerar-se tempo perdido. Numa tour está tudo planeado, mostram-nos o "grosso" da cidade e, ainda para mais, temos um guia que nos contextualiza - eu aprendi muito mais do que se fosse sozinha, numa viagem normal. Os países bálticos, ainda por cima, são países recentes e com histórias turbulentas, por isso houve muita coisa interessante para ouvir e aprender, pelo que acho que cada dólar gasto nestas viagens foi bem empenhado. No caso da Rússia, comprar uma tour era quase imperativo, porque o passe da visita guiada servia como visa para passar na emigração - e ainda hoje não é assim tão fácil (ou barato) arranjar visas para entrar na antiga URSS. Ainda para mais, é uma forma genérica de conhecermos as cidades - aquelas que gostamos mais, podemos sempre voltar com tempo e já sabemos para o que vamos.

A entrada e a saída do barco pode ser um bocadinho confusa e demorada, principalmente nas primeiras vezes (e, no caso deste cruzeiro, em particular na Rússia, por ter de se passar na emigração à entrada e à saída e por chegar toda a gente ao mesmo tempo por irmos todos em excursões). Há que ter um bocadinho de paciência pois é tudo controlado: à saída passam o nosso seapass (o tal cartão) para nos dar baixa, e à entrada temos de mostrar o cartão várias vezes e passar em máquinas de raio-X. Há um controlo grande a nível de segurança, o que apesar de demorar um bocadinho mais o processo, não foi algo que me afetou. 

O facto de eles controlarem de perto as entradas e as saídas faz com que este seja um óptimo meio para viajar sozinha. Primeiro porque sabem sempre se estamos ou não dentro do barco (e não saem sem vós), segundo porque nas excursões organizadas há muito menos riscos de roubo ou de nos perdermos e terceiro porque é muito fácil conhecer pessoas lá dentro - há mesmo atividades para esse efeito, mas nem é preciso: eu fui falando com imensa gente durante os almoços e jantares mas, acima de tudo, durante as tours

O que me leva a falar do tipo de pessoas que frequenta estes navios. A verdade é que a faixa etária menos representada é de facto a minha - há bebés e crianças, há adultos e há pessoas mais velhas. Mas não sei se é por estar habituada a dar-me sempre com pessoas com mais idade que eu, isto não constituiu qualquer tipo de entrave. No que diz respeito a nacionalidades, os americanos ganham em larga escala - o que é óptimo, porque falei com muitos americanos super simpáticos e de conversa fácil que é tudo aquilo que ser quer neste tipo de situações. Nunca me tinha dado de perto com americanos e são, sinceramente, mais do que aquilo que esperava - o que aumentou ainda mais a minha ânsia de lá ir. Para além disso, havia um grupo muito grande de israelitas - esses sim, mais velhos e fechados.

 

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 Com a maior cara de sono de todos os tempos, a aportar na Suécia, no último dia. Na foto, a minha "vizinha" de quarto, também americana

 

O dia de ir embora também é um bocadinho confuso (e, claro, triste). Há várias modalidades de saída, mas a mais comum é que consoante um número que vos dão (que é igual ao da vossa mala), têm de sair a uma certa hora do barco. A parte realmente chata é que na noite anterior à da saída têm de deixar as vossas malas na porta dos quartos, para durante a noite os empregados pegarem nelas, organizarem-nas e logo bem cedo na manhã seguinte as terem no porto, também por números (ver a foto que coloquei acima com as malas). Isto implica organização da vossa parte, têm de meter tudo nas bagagens bem cedo e se se esquecerem de meter algo essencial, tem mesmo de ir na vossa carteira no dia seguinte, pelo menos até reaverem a mala grade (o mesmo acontece se se esquecerem de alguma coisa - só a vêem no dia seguinte).

A saída é definitivamente mais fácil do que a entrada, sem toda aquela complicação no check-in; só é mais chata porque há uma fila interminável de pessoas para os táxis - que apesar de estarem sempre a chegar, acabam por ter dificuldade em dar vazão com muita rapidez.

 

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Eu, provavelmente com vontade de esmagar o meu telemóvel contra as paredes douradas da Rússia

 

Outro apontamento que talvez possa ser importante: os vossos telemóveis vão enlouquecer. Creio que, ao navegar, passamos perto de muitos sítios e por isso os telemóveis passam a vida a trocar de rede (assim como as horas do próprio telefone, por isso não se pode confiar muito nos despertadores - eu optei por pôr o telefone do meu quarto com uma wake-up call). Quando se está em alto mar é difícil ter-se rede. Quanto à internet, é paga e a preço de ouro. Pagam packs de 24 horas, que ficam por cerca de 25 dólares, se a memória não me falha. Nós optamos por só comprar a meio da semana, para ver emails e etc. e no último dia de cruzeiro, o dia de navegação, onde não havia tanto para fazer e um escape na internet sabia a petisco.

 

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Descrição das imagens, de cima para baixo, começando pela esquerda

- Quase todos os dias nos era deixada, no quarto, uma "escultura" com as nossas toalhas. Esta foi a primeira e teve particular graça, porque eu tinha literalmente atirado o óculos para cima da cama. Quando chego, vejo um "elefante" com os meus óculos postos, o que me valeu umas boas gargalhadas.

- Um espetáculo no teatro - neste caso era de música dos anos 50, mas houve outros a que fui e que gostei muito: havia um malabarista, um duo de ginastas, etc.

- Uma escultura em melancia, no primeiro dia de cruzeiro (presente no tal restaurante self-service que me assustou imenso no início)

- Espetáculo aéreo no centro do barco. O navio tinha 13 andares, sendo que 11 deles tinham este "buraco" no meio, acessível de todos os pisos, que permitem este tipo de atuações. 

- Um "mapa" do barco - está presente em todos os elevadores, para as pessoas não se perderem.

- Slot machines no casino.

- Campo de basquetebol/futebol.

- Piscina coberta.

- Mais uma atuação dos empregados de mesa do restaurante principal, tal como as que falei em cima.

 

E pronto, assim termina este looongo texto explicativo. Se servir para esclarecer pelo menos uma pessoa com dúvidas, já é o suficiente para me fazer feliz!

14
Ago16

Riga, a pequena Paris e os edifícios de arte nova [Letónia]

Riga foi a última cidade que visitamos neste cruzeiro (com exceção de Estocolmo, onde saímos do barco, mas onde já tínhamos estado). Não sei se é por ser a última ou por, de uma forma geral, já estarmos todos cansados, esta é a cidade que menos lembranças tenho. Por outro lado, não escrevi sobre nem sobre ela nem sobre Tallinn no meu diário de bordo no telemóvel - já estava com preguiça e queria aproveitar tudo o que o barco me tinha para oferecer, pelo que me deitava tardíssimo e sem qualquer vontade de pôr a escrita em dia. Hoje vejo que, para escrever textos como estes, essas lembranças frescas fazem muito jeito e tornam-nos muito mais reais, ajudando-nos a reviver tudo o que passamos.

De qualquer das formas, e apesar de ter sentido que não vivi Riga como queria, acho que não havia muito para mostrar. Para piorar, a nossa guia, apesar de muito querida e simpática, não era muito expansiva e não tinha intercomunicador para falar connosco, o que limita muito a visita. Tínhamos de estar sempre junto dela se queríamos ouvir o que quer que fosse e qualquer paragem rápida para fotos implicava que depois tivéssemos de correr para apanhar o grupo.  Eu estava também com imenso peso na mochila e cada vez mais cansada a cada quilómetro que passava, pelo que até poucas fotos tirei. 

É das cidades que penso revisitar, não por ter adorado, mas por achar que ficou muito por viver e ver. 

 

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Acima de tudo, aquilo que há para ver em Riga são os fabulosos edifícios de arte nova. São muitos, mesmo muitos e têm fachadas incríveis. São normalmente edifícios altos e imponentes, em ruas relativamente estreitas mas muito bonitas. Infelizmente, tanto esta como várias das cidades que visitamos têm imensos fios elétricos espalhados pelos céus, pelo que a maioria das fotografias ficam estragadas.  

Mais uma vez, a guia partilhou connosco um pouco da história da Letónia, também muito ligada à União Soviética. Todas estas capitais que, nos anos 90, viraram independentes, têm estátuas em celebração da liberdade e da independência e Riga não é exceção. A nossa guia disse-nos algo muito curioso e que me deixou a pensar: em 40 anos de vida, ela já passou por três unidades monetárias. Primeiro a que se usava na União Soviética, depois - aquando da independência da Letónia - a moeda própria desse país e agora o Euro. É incrível como em tão pouco tempo aconteceu tanta coisa. Esta viagem serviu para ver que aquilo que li e estudei muitas vezes em historia e que me pareceu uma realidade tão distante é, na verdade, algo ainda muito próximo - tão próximo que os vestígios dessas coisas "antigas" estão ainda por todo lado.

 

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Riga é agora conhecida pela "pequena Paris", pois tem muitos recantos amorosos e esplanadas muito acolhedoras e, lá está, parisienses.

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 Uma das histórias mais giras que nos foi contada na visita foi sobre o gato que está acima de um dos edifícios de uma das praças centrais. O dono dessa casa tinha uma desavença com os donos do edifício em frente e decidiu pôr um gato no telhado, com a cauda levantada e o rabo virado para a fachada dos vizinhos. Entretanto o gato já foi virado ao contrário, mas a história e a simbologia continuam lá e o gato ganhou semelhante importância que é agora um dos símbolos de Riga.

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Da parte da tarde, como já tinha acontecido em Tallinn, decidimos dar uma volta sozinhos e descobrimos outra parte da cidade, mais verde e ampla, sem estar coberta de edifícios. Tinha um rio, onde andavam pequenos barcos a motor e outros a remo, num ambiente muito bonito e descontraído. Antes de voltar para o barco ainda deu tempo para pararmos num café, bebermos algo e comermos um gelado.

 

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12
Ago16

Tallinn, uma feira medieval em ponto grande e permanente [Tallinn, Estonia]

Tallinn era talvez a capital que visitei em que não levava qualquer bagagem de expectativas. Não conhecia, não tinha pesquisado, não tinha ouvido falar. Foi uma completa surpresa - e das boas. 

 

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Escrevi no post sobre a Finlândia que a primeira coisa que lá vimos foi o Song Festival Ground, uma espécie de parque com um grande palco em forma de concha onde, de 5 em 5 anos, há um festival de danças típicas. Mea culpa. Esse local não fica em Helsínquia mas sim em Tallinn e só hoje é que dei pelo meu erro. Como já tinha dito, achei o local tão desprovido de interesse que nem tirei fotografias - e as fotos, organizadas por ordem cronológica, têm sido o meu guia para estes posts, daí o erro. Continuo no entanto a dizer que esta primeira paragem foi um pequeno choque, porque pensei "se venho numa visita guiada e me perdem tempo a mostrar isto, até tenho medo do que vem a seguir". Mas a verdade é que coisas bem melhores estavam por vir. 

A nossa segunda paragem foi no complexo olímpico, construído para os jogos olímpicos de 1980. Nessa altura a Estónia estava anexada à União Soviética e, segundo a nossa guia, este foi um período crucial para o país, pois representou a entrada de muitos estrangeiros. O contacto com outras culturas e mentalidades permitiu aos estonianos perceber que havia um mundo para além daquele em que eram obrigados a viver e foi quase o início da separação da Estonia da URSS. 

O complexo em si não tem nada que ver - as construções, apesar de serem melhores que as que vi na Rússia, continuam a ser feias - mas está situado mesmo ao largo do mar Báltico, pelo que é um bom sítio para tirar fotografias. O dia que passamos em Tallinn foi sem dúvida o mais frio deste cruzeiro e eu dei graças por ter comprado um hoodie em Estocolmo, que me manteve quente enquanto aqueles ventos gelados do Norte me fustigavam.

  

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No complexo olímpico de Tallinn

 

A partir daqui foi só melhorar. Parámos na Alexander Nevsky Cathedral, que é muito ao estilo da Church of Resurrection on the Spilled Blood, que visitei em São Petersburgo. É mais sóbria, com menos cor, mas igualmente lindíssima. Esta, à semelhança de muitas das igrejas na Estónia, é um igreja luterana, pelo que as mulheres locais têm sempre de entrar com a cabeça coberta - não exigem o mesmo às turistas. Achei particularmente curioso que os serviços normais da igreja decorressem enquanto os turistas entravam e saíam: quando lá fui, estavam a velar um morto, mesmo no meio do frenesim de entras-e-sais que se vivia na igreja.

  

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 Alexander Nevsky Cathedral

 

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 Alexander Nevsky Cathedral

 

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Alexander Nevsky Cathedral

 

Depois fomos dar um passeio pela a parte velha de Tallinn. Passamos pela St. Mary Cathedral, que tem no seu interior enormes e incríveis brasões - infelizmente não consegui entender a história que a nossa guia contou relativamente a eles, mas tirei-lhes fotos porque me lembraram imenso o Harry Potter, Hogwarts e os brasões das diferentes casas. Na verdade, Tallinn (assim como o Porto) podia perfeitamente ter inspirado a J.K.Rowling em muitos aspetos - eu passei a vida a pensar que muitas das coisas tinham ares Harry-Potterianos.

 

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St. Mary Cathedral

 

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Brasões no interior da St. Mary Cathedral

 

 

Pelo caminho passamos por vários sítios com paisagens panorâmicas incríveis da cidade, onde havia sempre pessoas a tocar música ou a vender amêndoas caramelizadas - e claro, imensas lojas de souvenirs. 

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Num dos miradouros de Tallinn

 

 

 A excursão só durava a parte da manhã, pelo que depois tínhamos a hipótese de voltar ao barco ou de ficar pela cidade durante mais um par de horas. Como qualquer minuto numa cidade estrangeira é valioso, eu e a minha mãe optamos por ficar. Apesar de tudo, penso que esta foi a nossa visita guiada mais "limitada", pelo que poder andar sozinhas a descobrir todas as ruelazinhas da cidade velha foi uma grande mais valia. Esta parte da cidade é simplesmente um mimo: as casas parecem tiradas de um conto de princesas, em construções que não sei descrever mas que nos levam a cabeça para mundos encantados. Por outro lado, muitas das pessoas locais e das lojas têm inspirações claramente medievais - tanto nas roupas que vestiam, como no estilo das lojas ou a grafia dos letreiros. Talvez por ter esta junção de dois "mundos" de que tanto gosto, Tallinn revelou-se a maior surpresa desta viagem e ganhou o título da cidade mais "mimosa". Apaixonei-me por todas aquelas vielas.

 

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Praça central da parte velha de Tallinn

 

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Loja na parte velha de Tallinn 

 

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 À saída da parte velha de Tallinn

 

Em consonância com a cidade, as lojinhas também eram muitos giras. As paredes normalmente estavam "forradas" com as malhas de lã, super quentes e fofas, mas também tinham muitos souvenirs giros e diferentes do normal. Foi de Tallinn que trouxe a maioria das recordações desta viagem, porque acima de tudo achei que marcavam pela diferença. Trouxe umas palmilhas forradas a lã, já a pensar no frio que passo sempre no Inverno; a minha mãe ofereceu-me um caderno feito à mão e com um ar super antigo, que me lembrou imenso o Harry Potter e me conquistou no primeiro segundo em que lhe pus a vista em cima; por fim trouxe dois postais também feitos à mão, com papel reciclado e uns desenhos à moda antiga, muito diferentes daqueles que se vende aos milhares, todos iguais e que recebo através do Postcrossing.

 

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 Souvenirs

 

10
Ago16

A cidade dos palácios mais bonitos do mundo e dos contrastes [São Petersburgo, Rússia]

Estou de volta com o meu diário de bordo! Depois de uma pausa para eu e vocês recuperarmos energias, trago-vos o maior texto desta viagem - que, como não poderia deixar de ser, se dedica à Rússia. Este é mais do que um texto sobre os monumentos da cidade, mas também da forma como vi um país que ainda vive (e impinge aos outros) uma grande repressão, o que sem dúvida tornou esta paragem muito mais interessante. O texto é grande por ter todas essas minhas reflexões e por termos estado dois dias na cidade, o que deu para ver e explorar mais São Petersburgo do que qualquer outra das cidades onde parámos.

 

São Petersburgo era, provavelmente, a cidade que mais curiosidade tinha para ver, muito pela mística que a Rússia ainda hoje tem. Acho que quando me perguntam qual foi a minha cidade favorita neste cruzeiro, todos esperam que eu diga que foi esta cidade - e não foi, acima de tudo porque eu gosto de cidades coerentes. São Petersburgo não é coerente - é lindo e riquíssimo de um lado, e horrível e paupérrimo de outro. E não é preciso andar muito para se verem tais contrastes. 

Para além disso, uma cidade também é feita de pessoas. E a visão geral que todos temos dos russos correspondeu (pelo menos para mim) à realidade: são pessoas chateadas com o mundo, mal humoradas, mal encaradas e muito pouco simpáticas. 

 

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 Rio Neva

 

 

Poderia dizer que ainda há pela Rússia muitos resquícios da União Soviética, mas a verdade é que são muito mais que resquícios: é uma presença muito pesada, que vive não só nos edifícios da cidade, como na cultura e nas pessoas de uma forma geral. Os prédios (os que não são palácios e se encontram fora do centro da cidade) são horríveis, estilo bairros sociais sem qualquer tipo de manutenção; são edifícios sem acabamentos ou pinturas, só cimento, pelo que estão literalmente comidos pelo tempo. São todos iguais: do mesmo estilo, com as mesmas janelas, as mesmas portas. As montras não têm cor e são muito pouco trabalhadas, com um chamamento muito rudimentar, penso que por aquela economia ainda não estar habituada a ter um mercado concorrencial em vez de ser tudo planificado. Os passeios, em muitos sítios, são muito maiores do que o normal (acima do padrão aqui em Portugal) e dão a sensação de estarem sempre vazios: as poucas pessoas que lá andam são tão cabisbaixas e tristes, com um semblante sempre tão carregado, que todo este cenário me lembrou os vários textos que já li sobre a Coreia do Norte. Em reflexões posteriores, dei por mim a pensar que praticamente não vi crianças e jovens.

Por outro lado, a segurança continua apertada. Logo ao passar na imigração temos um vislumbre do que era a URSS antes de cair o muro. Entramos num cubículo com espelhos a toda a volta, entregamos o nosso passaporte, cartão do barco e bilhete da excursão e ficamos assim durante um par de minutos, sem qualquer troca de palavras. Os senhores que lá trabalham olham para nós com ar ameaçador, com os olhos entre o nosso passaporte, nós e o computador que têm à frente e, quando se dão por satisfeitos, carimbam-nos o passaporte e atiram-no sem dizer o que quer que seja. É giro ignorar o barulho de fundo e concentrarmo-nos no som dos carimbos a bater nos passaportes, algo que imagino ser super característico nos períodos ditatoriais. E na Rússia o poder do carimbo ainda está vivo e isso sente-se na forma como eles nos tratam, como quem diz "tenho o poder de te deixar entrar na palma das minhas mãos".

Para além disso, a vigia é constante. A nossa guia não nos perdia de vista e passava a vida a contar-nos (eu já quase sabia contar em russo!). Nos palácios, por cada sala que se podia visitar (e, acreditem, eram muitas!), estava uma mulher a olhar para nós e a certificar-se que cumpríamos as regras: normalmente tínhamos sempre de usar "pantufas" nos pés e não podíamos levar kispos e mochilas connosco. Noutros não podíamos mexer nos telemóveis ou tirar fotografias. As regras eram variadas e havia sempre alguém disposto a faze-las cumprir.

Mais uma vez, eu e os meus pais optamos por fazer uma excursão: neste caso não tínhamos mesmo outra hipótese, porque não pedimos visto para andar livremente. Visitar a Rússia em cruzeiros tem essa enorme vantagem: comprando visitas guiadas, não temos de ter visto, pelo que é muito mais fácil entrar no país. Por isso, neste destino, a grande parte dos passageiros do barco saíram em excursões.

A nossa primeira paragem foi o palácio Peterhof, a uma hora de São Petersburgo. É um palácio lindo, gigante, difícil de transpor em palavras. É conhecido pelas suas inúmeras fontes e esguichos de água, usados pelo Peter, The Great para fazer partidas aos seus convidados e vê-los todos molhados sempre que este decidia organizar uma festa ou um banquete. Infelizmente não era possível tirar fotos no interior do palácio, por isso só posso mostrar-vos o exterior. Posso, no entanto, dizer-vos que há ouro por todo o lado e um bom gosto inegável por parte dos czars que lá viviam. Cada cidade tem as suas coisas maravilhosas, mas é difícil não relativizarmos: Serralves, ao lado deste palácio, é um autêntico canteiro. A quantidade de fontes, os jardins, as estátuas talhadas a ouro, para não falar do interior do palácio, com interiores incríveis e cheias de histórias para contar. A Rússia, goste-se ou não, tem uma história interessantíssima, e também por isto ter uma guia (ainda que com um sotaque cerradíssimo) tornou a visita ainda mais valiosa.

 

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Nos jardins do Peterhof

 

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Nos jardins do Peterhof

 

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Peterhof

 

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Peterhof

 

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 Algumas das fontes do Peterhof

 

Depois almoçamos num restaurante enorme, na rua principal de São Petersburgo. A comida não era boa, mas conseguia-se comer (o mesmo não se pode dizer do dia seguinte). Destaque para o vodka e o caviar, servido desde o início da refeição, e para o gelado de baunilha, oferecido no fim. Nos dois dias que lá comemos, foi a única coisa que se aproveitou (não posso confirmar a qualidade do vodka, mas o meu pai disse que era bom).

A parte da tarde do primeiro dia foi, para mim, a pior parte desta visita à Rússia. Visitamos o maior museu do mundo, o Hermitage. Eu não sou fã de museus de arte - dou todo o crédito do mundo a quem faz aquele tipo de obras, dignas de deuses muitas vezes, mas sou incapaz de gostar de passar horas a olhar para telas ou esculturas. O cansaço que já sentia na altura e as milhares de pessoas que estavam lá dentro - e a consequente falta de oxigénio - não ajudaram à festa, pelo que foi a parte que menos desfrutei na Rússia.  Para além disso, este museu é tão grande que na hora e meia que lá estivemos não deu para ver absolutamente nada; foi só mesmo para picar o passe e dizer "eu estive no Hermitage!". Segundo a nossa guia, se parássemos dez minutos para apreciar cada peça, precisávamos de mais de mais de três anos (sem paragens) para visitar o museu. Não é definitivamente para mim. No espólio do museu encontram-se dois quadros de Leonardo DaVinci, uma coleção gigante de Remembrant e os ovos de Febargé, que não vimos.

 

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Da Vinci, no Hermitage

 

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Corredor no Hermitage, uma cópia fiel de um que existe no Vaticano e onde é contada em imagens a história da Bíblia Sagrada

 

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Uma sala do Hermitage

 

O segundo dia começou muito cedo - às 7.15h locais (5.15h de Portugal) já estávamos a arrancar para o Catherine's Palace, onde tem o tão famoso quarto de âmbar. Fomos muito cedo para sermos dos primeiros a entrar no palácio, o que facilitou imenso a visita e a tornou muito mais proveitosa. Estes sítios recebem milhares de pessoas por dia e chega-se a um ponto em que a multidão é tanta que já não conseguimos ver um palmo de espaço livre em frente dos nossos olhos. O palácio é do mais luxuoso que possam imaginar, com ouro por todo o lado e os pormenores mais pequenos e perfeitos que já vi. O quarto de âmbar, no meio de tudo aquilo, nem me deslumbrou muito. Para além do palácio em si, o que adorei mais foram os jardins, não tão luxuosos e trabalhados como o do Peterhof, mas com uma beleza natural e genuína que adorei. Na altura em que os visitamos estavam fechados para visitas a público em geral, pelo que pude tirar fotos à vontade. As histórias envolvendo o Peter, The Great e a Catherine, The Greatest são imensas e a cada canto há uma para contar; a nossa guia sabia imenso, o que tornou tudo muito mais real e fascinante, com direito a algumas gargalhadas pelo meio, dada a excentricidade desses czars.

 

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À entrada do palácio, onde uma banda tocava, cantava e dançava

 

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Fachada do palácio

 

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Dentro do palácio (reparem no ouro e na enorme pintura no teto)

 

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Uma pequeníssima parte dos jardins

 

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Uma casa de chá dentro do palácio, onde ouvimos um mini-concerto à capella

 

 Da parte da tarde andamos pela cidade de autocarro a fazer vários photo-stops, vendo por fora mais locais emblemáticos ou com vistas privilegiadas da cidade. Parámos na Saint Isaac Cathedral, nas margens do rio Neva e, claro, a Church of Resurrection on the Spilled Blood, que para mim é de todos os edifícios, o mais bonito que vi. Fizemos também uma breve visita ao forte da cidade, que tem no seu interior a Peter and Paul's Cathedral, onde estão os túmulos dos mais importantes czars da Rússia.

 

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Church of Resurrection on the Spilled Blood

 

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Church of Resurrection on the Spilled Blood

 

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Nas margens do Rio Neva

 

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Nas margens do Rio Neva (e com um vento incrível)

 

 O fim da viagem foi uma paragem para compras. Nas outras tours isso significa ter carta verde para, durante um determinado período de tempo, andarmos sozinhos para comprar souvernirs numa zona da cidade: na Rússia, e como está tudo controlado, deixaram-nos numa loja enorme e disseram "comprem". Não havia muito para além de matrioskas, imitações dos ovos de Fabergé, peças em âmbar, artigos em pele e canecas e t-shirts com a cara do Putin. 

 

Esta foi sem dúvida a paragem mais cansativa de todo o cruzeiro, principalmente porque foram dois dias a andar muito e a acordar muito cedo. No entanto, posso garantir que vale muito a pena, não só pela beleza incrível dos edifícios como pelo choque de culturas - é quase uma viagem na história, ainda dá para sentir o cheiro da União Soviética no ar. Um conselho para futuros visitantes: as visitas guiadas, apesar de terem sempre rédea curta, parecem-me sem dúvida a melhor opção. Primeiro porque podem conhecer um pouco da história dos czars e as suas mil e uma peripécias e segundo porque a cidade é enorme e os principais monumentos estão longe do centro, sendo quase impraticável andar de um lado para o outro sozinho, ainda por cima num país onde as pessoas pouco falam inglês e não se prestam a grandes ajudas.

 

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 Uma série de pormenores captados ao longo dos dois dias na Rússia

28
Jul16

Helsínquia e Porvoo, a simplicidade e as casinhas de madeira [Finlândia]

Finlândia foi, de todos os sítios que visitei, o que menos gostei. É sem dúvida aquele que é mais pobre em monumentos e percursos turísticos e, talvez por isso, foi onde parámos menos horas. Foi a primeira paragem do cruzeiro e, tal como em todos os outros destinos, optamos por ir numa excursão. Foi uma opção que fizemos os três, eu e os meus pais, por acharmos que o tempo em cada cidade era demasiado curto para andarmos a deambular e à procura dos sítios a ver em cada capital; assim íamos diretos à questão, de uma forma mais rápida e prática, aprendendo sempre pelo caminho algumas coisas sobre o sítio em que estávamos. Não é a forma que mais gosto de passear, não há uma liberdade tão grande, mas não me arrependo de o ter feito e aconselho a todos os outros que façam o mesmo - não foi o caso da Finlândia, mas outras excursões ocupavam só a parte da manhã, pelo que podíamos ficar nas cidades da parte da tarde para podermos explorar os caminhos que quiséssemos, com os nossos timings e vontades próprias.

 

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A nossa primeira paragem em Helsínquia foi numa igreja luterana, a Temppeliaukio Church. Era bonita, certamente diferente do normal, mas nada que nos fizesse cair o queixo, até porque não tinha um trabalho incrível ou luxuoso como eu acabaria por ver nas cidades que visitamos a seguir.

 

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Temppeliaukio Church

 

A melhor parte começou a seguir, quando seguimos para a pequena cidade de Porvoo, a uma hora da capital finlandesa. Esta é das tais coisas que não se visita se não se for numa excursão e, no caso da Finlândia, posso dizer que salvou a viagem e foi de facto a única coisa que me deixou memórias significativas e boas deste país. 

O almoço foi numa quinta típica onde se serviam almoços a excursões como a nossa, já nos arredores de Porvoo. Era servido num sítio giro, claramente antigo, à luz das velas, mas a comida era péssima: uma espécie de rolo de carne de sabe-se-lá-o-quê, superrrrrr picante. Tivemos o azar de calhar na mesa com duas chinesas (acho), mãe e filha, que não trocaram nem uma palavra connosco - eram completamente fechadas com o mundo, não falavam com mais ninguém para além dos restantes membros da família (o marido e mais um filho, que ficaram noutra mesa), e até o olhar eram incapazes de pousar em nós. A comida já era má, mas o clima do almoço foi o pior que vivemos em todo o cruzeiro.

 

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A quinta onde almoçamos, em Porvoo

 

A parte melhor viria a seguir, com a visita ao centro da vila em si: Porvoo é uma cidade medieval muito pequenina, com casas coloridas em madeiras e lojas super mimosas. É algo muito turístico, mas por ser tão pequenino não deixa de perder a graça e de continuar a parecer algo muito único e típico. É pitoresca e bonita, quase como uma casa de bonecas, com um par de violinistas na praça principal e todas as casas em tons coloridos mas pastel, sempre com pequenos adornos amorosos nas paredes, portas e montras. A decoração das lojas era muito cuidada, os produtos vendidos tinham sempre o seu quê de diferente e tive de resistir à tentação para não trazer uns quantos pratos e almofadas para casa. O pormenor fazia a diferença. Para além disso, a vila tinha um rio onde andavam pessoas de gaivota ou mesmo barquinhos a motor, uma vez que havia casas junto à água com o seu próprio "porto" e existe a possibilidade de chegar a Helsínquia através do leito de água.  

 

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Porvoo

 

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Porvoo

 

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Porvoo

 

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Porvoo

 

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Pormenores de Porvoo

 

De volta a Helsínquia, passamos pela catedral principal e demos uma volta de autocarro nas principais ruas da cidade. Vimos muitas pequenas docas e braços de mar, com as saunas e as pessoas a saltarem alternadamente entre elas e a água, o que foi giro.

 

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Catedral de Helsínquia

 

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Catedral de Helsínquia

 

 

Em suma, Helsínquia até pode ser (de uma forma geral) uma cidade gira, mas sem grandes destaques para ver e sem qualquer "wow factor" que nos faça ficar de queixo caído e ficar com ela marcada para a vida. Penso que, visitando a capital finlandesa, é para aproveitar a cidade e perceber o seu estilo, mais do que fazer um roteiro pelos seus highlights, que na verdade não existem. Calculo também que, como Porvoo, existam tantas outras vilazinhas que valham a pena uma visita - e aí sim, pode residir o verdadeiro interesse na Finlândia.

Cheguei ao fim um bocadinho desgostosa; gostei, mas esperava mais. 

26
Jul16

O país das pessoas que não são frias e a Veneza do Norte [Estolmo, Suécia]

Relativamente a Estocolmo, o que posso dizer é que seria - de todas as cidades que visitei - aquela que sem dúvida escolheria para viver. Já há vários anos que queria visitar a capital sueca, muito por culpa dos thrillers nórdicos que tenho vindo a ler ao longo dos últimos anos (em particular a saga Millenium, confesso). Aqui por casa não havia grande ânimo para conhecer esta cidade, mas acho que para todos - até para mim, que já esperava o melhor - se revelou a mais bela das surpresas. 

 

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Passei em Estocolmo uma tarde e noite, depois de termos saído de Portugal; depois ainda tive uma manhã antes de entrar no barco e outra manhã antes de voltar para casa, uma vez que só tínhamos vôo a meio da tarde. Foram porções de tempo relativamente curtas mas que acabaram por ser suficientes para ver o essencial da cidade e fazer aquilo que mais gosto: perder-me pelas ruas e ver até onde elas me levam.

A primeira impressão que tive foi: esta é a minha cidade, tem a minha filosofia. As coisas são limpas, não se vêm grandes luxos e, acima de tudo, apesar de movimentada, é uma cidade silenciosa. Desde o avião, nos arredores do aeroporto (que fica a cerca de 40 kms da cidade de Estocolmo), só se via floresta (maioritariamente pinheiros), vários lagos e meia dúzia de casas pintalgando a paisagem. Sabem aquelas passagens dos filmes captados com drones, em sítios que transpiram calma e uma beleza natural? Senti que estava dentro de um deles. Neste aspeto senti que estava (no que imagino ser, porque nunca lá fui) na Escócia. Por outro lado, é uma cidade conhecida por ser a Veneza do norte, com imensos braços de mar, pontes e vistas de cortar a respiração.

 

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Os braços de mar

 

O centro da cidade já não é tão verde, mas é um autêntico mimo cheio de tesourinhos por descobrir. Aquilo que me parece é que na Suécia as coisas são pensadas, são cuidadas, não é só mais uma coisa no meio de milhões. E isso refere-se no cuidado que eles têm com outros, no civismo, na economia do país (nota-se que não há grandes luxos a nível público, que não se compra o tijolo mais caro para ajudar o amigo) e também nos pormenores. As lojas dessa tal zona antiga da cidade (Gamla Stan) são simplesmente deliciosas e até os souvenirs parecem ser muito mais cuidados e bonitos que o normal (e encontrei uma loja dedicada a livros fantásticos - imaginem a minha alegria quando vi uma montra inteiramente dedicada ao Harry Potter). Os cafés e os restaurantes têm toques afrancesados ou italianos, e também são de uma beleza espetacular.

 

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Pormenores de Estocolmo 

 

A noite dura até bem mais tarde do que em Portugal e estar nessa parte antiga da cidade, a meia luz, no meio daqueles edifícios altos, de tons quentes e ruas estreitas, faz com que pareça que estamos num filme do Woody Allen, com aquele tom amarelado que faz com que as coisas pareçam muito mais acolhedoras. Se já estava a gostar da cidade de dia, quando a vi anoitecer apaixonei-me totalmente.

 

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Gamla Stan

 

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Gamla Stan e montra do Harry Potter

 

O respeito e o civismo respiram-se na cidade - e o único momento em que não senti isto foi quando passamos por uma série de bares, quando o relógio já batia perto da meia noite, e se viam os típicos jovens já regados e menos civilizados do ali tinha visto até então. Naquela zona as ruas ficaram mais sujas, como ficam em todo o lado, mas este choque não foi o suficiente para acabar com o estado embevecido em que me encontrava naquele momento, em relação àquela cidade. Vêem-se muita pessoas estranhas, com roupas fora do normal e cabelos alternativos; vêem-se muitos gays na rua, sem medo de esconder o que quer que seja e sem medo dos poucos que ficam a olhar para trás. Há uma aceitação e respeito generalizado que nunca vi em nenhum outro país (nem mesmo em Portugal, que penso que nesse sentido até é evoluído) e isso fez-me gostar ainda mais da cidade.

Não sei onde se foi buscar o preconceito de que as pessoas da Suécia são frias, porque tudo o que senti foi simpatia. Todas as pessoas com quem falei - tanto nas ruas (para pedir informações), como nos hotéis, aeroporto ou estações de caminhos de ferro - foram de uma simpatia generalizada e de um esforço notável para se fazerem entender (num inglês, de uma forma geral, excelente). Achei-as com um espírito leve e feliz, ao contrário da maioria dos países que visitei a seguir. 

A verdade é que acho que o tempo que apanhei nos três dias que lá estive ajudou. Os dois primeiros foram com temperaturas amenas, onde era fácil passear; no último estava um calor abrasador e um sol fortíssimo, por isso a cidade estava viva e as pessoas saíram todas à rua e espalharam-se pelos jardins e esplanadas disponíveis da cidade. É, por isso, difícil imaginar Estocolmo coberto de neve ou com chuva a cair a potes (assim como é difícil imaginar aqueles crimes horrendos que leio nos livros, numa cidade tão calma e luminosa como a que conheci) - e acredito que nessas alturas (tal como nós), as pessoas fiquem mais tristes e cabisbaixas, mas não é algo generalizado como imaginei. Até aqui, quando achava que um pessoa era fria, dizia sempre "parece sueca" - mas descobri que estava errada. 

Estocolmo aqueceu-me o coração e encheu-me as medidas. Não era aquilo que eu esperava - era melhor. Já estou ansiosa por voltar e dedicar mais tempo não só à cidade como ao país, talvez para fazer uma visita guiada pelos sítios dos livros que li e que continuam a despertar um bichinho em mim.

 

 

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 No próximo post falo-vos da Finlândia.

25
Jul16

Uma semana nos países nórdicos

Já estou de volta daquela que foi, provavelmente (e até agora), a viagem da minha vida. O prenúncio de toda aquela confusão antes da viagem acabou por não se verificar e todos os momentos estiveram, quase sempre, perto de ser perfeitos. Acho que alguns foram mesmo. Abrir a janela do quarto e ver água a correr atrás de nós, as gaivotas a passarem ao largo e milhares de ilhotas verdes a passarem diante dos nossos olhos, é só a melhor sensação de todos os tempos. 

Se não gostam de viajar e/ou não têm interesse nos países nórdicos, talvez seja melhor voltarem a este blog só daqui a uma semana. Farei um post por cada um dos países onde passei e sobre as minhas impressões sobre o cruzeiro, assim como o que fiz, deixei de fazer e o que gostaria de ter feito.

Sinto que o tempo está a correr à minha frente e tenho de me apressar para que todas as memórias saiam o mais frescas possível. Hoje foi dia de fazer a seleção das 1600 fotografias que tirei nesta semana e, para já, já consegui livrar-me de 900; amanhã será dia de ir aos meus rascunhos e transformar os muitos apontamentos que fiz das viagens em textos corridos e associa-los às muítissimas fotos boas que tenho - o problema vai ser mesmo escolher. 

Amanhã falo-vos de Estocolmo, na Suécia - a capital que há mais anos queria conhecer. Me esperem.

 

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