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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

12
Jan18

Saí do Sá da Bandeira a cantar “sou uma merda” e não me importei (ou como adorei a "Abenida" Q)

Não é com orgulho que confesso que nunca tinha ao Teatro Sá da Bandeira. Mais: é mesmo com vergonha que vos digo que nunca tinha ao teatro sem ser numa visita de estudo. Isto quer dizer que para aí desde 1976 que não via um palco (pronto, está bem, estou a ser exagerada)... ou, pelo menos, há uns seis anos que não via uma peça. Sendo que nunca tinha visto algo “a sério”, feita para um público graúdo e não para miúdos que gostam mais da viagem de autocarro da visita de estudo do que propriamente da parte cultural da coisa. A parte boa no meio disto tudo é que comecei com o pé direito.

Eu estava com a Avenida Q debaixo de olho há meses, desde que a peça estreou em Lisboa. Acho que foi a primeira vez na minha vida que quis mesmo muito que um espetáculo destes viesse para o Porto e, mal soube que já havia bilhetes à venda, comprei logo para a data de estreia - se eu já tinha esperado meses a fio, vendo tantas vezes os ensaios e os aquecimentos nos instastories do Rui Maria Pego, a ler críticas do outro mundo e a ouvir promos da peça em Lisboa, não ia esperar nem mais um dia do que o necessário para a ver aqui.

Em resumo (muito resumido) basta dizer que adorei. Eu sempre gostei de musicais (o Mamma Mia tem um lugar especial no meu coração), mas este aqui tem ainda a particularidade de estar ajustado à cultura e realidade do nosso país, tocando em pontos que com um espetáculo generalista nunca seria possível. Mais: até por ser no Porto o espetáculo passou a chamar-se, pertinentemente, "Abenida Q" - o que combina na perfeição com o sotaque da Paula Porca, uma das melhores personagens da peça.

Achei tudo, tudo, tudo bem feito e bem pensado. Desde as personagens até quem lhes dá voz, passando pelos bonecos até às músicas. O meu aplauso sentido a quem fez a adaptação da peça original para a versão portuguesa, porque o fez de forma genial - às vezes pensamos que é mais complicado e trabalhoso criar coisas de raiz, mas adaptar algo que outros fizeram e torna-lo igualmente genial é por vezes uma tarefa mais difícil que a primeira. Adorei o facto de existirem as marionetas (se é que aquilo se chamam marionetas) mas os atores nunca estarem escondidos, fundindo-se na perfeição com os bonecos que interpretam, não causando qualquer tipo de ruído. Adorei os vozeirões que saíam de cada uma daquelas bocas, por vezes de forma surpreendente. Adorei as músicas e as letras - mesmo aquelas mais porquitas, porque as achei pertinentes e muito bem apanhadas. E adorei ver atores que tanto gosto e que remontam à minha infância: o Rodrigo Saraiva, eterno Rafa dos Morangos com Açúcar; o Manuel Moreira, o meu Pedro preferido na Uma Aventura; o Diogo Valsassina, que será sempre o "Tojó" dos Morangos. E mais recentemente o Rui Maria Pêgo, que para mim é uma das personagens jovens mais interessantes do panorama nacional, que me fez trocar a Comercial pela MegaHits e me fez pensar "eu gostava de ter este gajo como amigo".

Fiquei admirada por ver tanta gente "mais velha" na plateia, quando o espétaculo se apresenta com uma imagem tão jovem e um elenco com pessoas que (tal como a mim) dizem algo ao pessoal da minha geração. Até porque, para mim, a peça tem duas grandes vertentes: a inclusão da diferença e a perseguição do sonho - que é algo com que as pessoas mais novas se deviam rever (ou acho eu...). E isto, se fosse uma tese, era de certeza uma seca pegada. Mas aqui não é, porque é tudo apresentado de uma forma tão divertida e descomplexada que não há forma de se tornar entediante. Aliás, quem diz que esses são os dois temas-chave da peça sou eu, já depois de pensar sobre o assunto: porque, no fundo, aquelas duas horas no Sá da Bandeira foram de relaxamento e diversão, não houve tempo para meditações. 

Penso que no fundo aquilo é uma sátira da nova geração: achamos que somos todos muito abertos, que temos liberdade para tudo, mas no fundo continuamos a não respeitar a diferença. Por outro lado, impingem-nos a ideia de que as nossas vidas têm de ser guiadas por um sonho, quando na verdade podemos apenas ir vivendo - ora porque não temos sonhos (nem precisamos), ora porque temos mas não os conseguimos concretizar e ficamos frustrados, ora porque já o tivemos, eles já passaram e não sabemos o que fazer à vida. Pelo meio há de tudo um pouco: piadas geniais, partes com linguagem puxada mas nunca chocante (pelos menos para mim, que achei sempre um piadão aos termos bem empregues e à forma como tudo era cantado) e picos altos e baixos de emoção - porque apesar de esta ser uma comédia no seu fundo, tem partes que satirizam acontecimentos mas que não têm necessariamente piada - sempre com músicas que bem-dispõem e que nos fazem querer voltar.

Eu, pelo menos, era menina para ir ver outra vez. Se estiverem no Porto, não deixem de aproveitar. A peça estará em cena até 25 de Fevereiro, de quinta a domingo. Talvez nos encontremos por lá.

 

 

2 comentários

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    Carolina 15.01.2018

    É mesmo isso, senti o mesmo! 
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