Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

17
Out17

Pompeia, um "cheirinho" da Roma Antiga

Nápoles foi a penúltima paragem do cruzeiro que fiz em Julho (lembram-se? aquele sobre o qual eu disse que ia escrever mundos e fundos e ainda não escrevi nem metade do que queria e já estamos quase no fim do ano?). No entanto é uma cidade sobre o qual eu vos posso contar pouco ou nada. Porquê? Porque tal como já tinha escrito num outro post, um cruzeiro implica escolhas: e as horas que tínhamos em Nápoles eram reduzidas e as visitas guiadas em questão não eram brilhantes na oferta que proporcionavam. Podíamos ir a Pompeia e ao Vesúvio, mas não sobrava tempo para uma visita a Nápoles; o mesmo acontecia com Capri - era sair do nosso barco, entrar noutro para ir a Capri e voltar rapidinho, sem tempos para atrasos ou desvios - e apesar de eu querer muito conhecer esse sítio, a visita era tida como extenuante e o meu pai poderia não a conseguir fazer; a outra opção era ficar pela cidade, mas não conseguíamos ver mais nada nas redondezas e, segundo a maioria, Nápoles não é uma cidade tão bonita como outros ex-libris italianos (embora seja das maiores cidades de Itália). 

A nossa decisão acabou por recair sobre Pompeia, que fica a cerca de meia hora de carro do porto de Nápoles. Não queríamos ir ao Vesúvio e, se quiséssemos, também não poderíamos ir: devido à quantidade elevada de incêndios que existiam na altura, as visitas de turistas estavam interditas. Isto fez com que o nosso grupo fosse enorme, uma vez que se juntaram as visitas de Pompeia com aquelas que iam também ao vulcão, o que não ajudou particularmente. Pompeia é gigante, muito ainda está por escavar e descobrir, mas a quantidade de visitantes é proporcional ao seu tamanho: são aos milhares e milhares de cada vez. É muito fácil perdermo-nos do grupo enquanto tiramos uma foto ou quando desaceleramos para termos mais cuidado a andar num sítio qualquer, por isso toda a atenção é pouca.

A nossa visita durou umas três horas - o que só dá para ver uma ínfima parte do local - mas, mesmo assim, foi bastante dura. Estava um calor abrasador (talvez o mais intenso de toda a viagem) e o facto de sermos um grupo de 50 pessoas, de estarmos rodeados de outro grupos (inclusivamente de outros barcos, com placas e números iguais aos nossos), algumas ruas serem muito estreitas, sem sombras, com degraus enormes e o chão completamente desnivelado não ajudaram.

Começámos por entrar numa oficina de camafeus, que existia à entrada das ruínas. É um negócio típico daquela zona e é apenas uma forma de nos arrancar ainda mais euros do bolso. Há, de facto, peças incríveis - mas também muito caras. Como típicos italianos dão descontos, regateiam os preços, mas eu resisti à tentação de trazer algo para casa - até porque quanto mais pequenas são as peças, mais caras se tornam, porque o nível de trabalho e de pormenor são maiores. Logo à entrada vimos um artesão a fazê-los, como podem ver na foto abaixo.

 

CruzeiroAdriatiMedit (725).jpg

Artesão a esculpir o camafeu

 

Para quem não conhece, uma breve contextualização: Pompeia era uma cidade do império Romano que, no ano 79, foi totalmente destruída devido a uma erupção do Vesúvio. Só no século XVIII é que se descobriu a cidade soterrada e começaram as primeiras escavações que, até agora, resultaram no que está à vista de todos: um conjunto enorme de ruínas, objetos, vestígios e corpos desse tempo, que se mantiveram intactos e conservados no meio da lava e das poeiras. 

A nossa guia era muito simpática e energéca, mas eu tento sempre pôr um filtro em quase tudo o que ela (e os outros) dizia. Ela contava-nos o que é que se faziam naqueles espaços, muito detalhadamente, e eu pergunto-me sempre se de facto as coisas eram mesmo assim. De qualquer das formas, tudo o que aqui escrevo foi o resultado daquilo que ela nos disse. Para começar, ela adiantou-nos que para ver bem Pompeia eram necessários dois dias - nós vimos o que pudemos em três horas. Abaixo podem ver o campo onde os lutadores/gladiadores treinavam - os pilares e algumas paredes estavam em bom estado de conservação.

 

CruzeiroAdriatiMedit (730).jpg

Praça de treinos

 

Uma das coisas comuns em ruínas romanas eram os banhos. Também em Pompeia se via bem o espaço dedicado à limpeza e relaxamento das pessoas, inclusivamente com aquilo que ela chamou de "balneários". Estas zonas estavam cobertas de mármores que, já não me recordo bem quando, foram pilhadas e utilizadas em palácios.

 

CruzeiroAdriatiMedit (758).jpg

Atrás de mim estão "os cacifos", que serviam para guardas as roupas

 

 CruzeiroAdriatiMedit (753).jpg

Banhos romanos

 

CruzeiroAdriatiMedit (757).jpg

O teto e uma janela - onde existia vidro, algo raro para a época - também na zona dos balneários

 

Não sei como é que funcionam as visitas sem guia, mas eu não aconselho. É provavelmente oferecido um mapa, mas aquilo é tão grande - aliás, é uma cidade, basta dizer isso - que é muito fácil perdermo-nos e tudo parecer igual (que é). É necessário estar com alguém que conhece para nos despertar a atenção para alguns pormenores muito interessantes e nos fazer ver certas coisas que, a olho nu, seriam só mais um conjunto de pedras.

 

 CruzeiroAdriatiMedit (751).jpg

Uma das ruas de Pompeia

 

CruzeiroAdriatiMedit (794).JPG

 Aqui conseguem ver-se as marcas deixadas no chão pelos carros de mercadorias que andavam nas ruas principais de Pompeia, que mostram o grande movimento que havia nas principais ruas da cidade

 

CruzeiroAdriatiMedit (778).jpg

Não resisti a tirar uma foto estilo Beatles, versão pedras-de-Pompeia em vez de passadeira-em-Liverpool

 

CruzeiroAdriatiMedit (789).jpg

Uma padaria, onde se percebem claramente para que servem todas estruturas: à esquerda, o forno; no centro, uma mó, para fazer farinha, que era geralmente movimentada por burros, que andavam ali às voltas

 

CruzeiroAdriatiMedit (795).jpg

Uma casa de banho pública - e sim, aqueles calhaus são sanitas

 

CruzeiroAdriatiMedit (774).jpg

 Numa das ruas, onde uma arcada permaneceu intacta

 

Existe também a possibilidade de visitar o interior de uma ou outra casa. Um desses espaços - diria eu, o mais "polémico" - é o bordel. Segundo o que nos disseram, Pompeia era uma cidade onde se faziam inúmeras trocas comerciais, por isso ia lá gente de todo o mundo, que não falava latim. O bordel era um sítio popular entre os negociantes de outros países e as prostitutas comunicavam com eles através de imagens que estavam pintadas nas paredes, sobre as posições que cada um queria assumir - pinturas essas que ainda podem ser vistas. Dá também para ver os quartos, com camas de pedra que deviam ser deveras confortáveis, e também o quarto de banho, onde elas se lavavam. O caminho para o bordel estava indicado nas ruas com pénis esculpidos no chão ou nas paredes. Os símbolos fálicos eram muito comuns na altura e eram tidos como amuletos da sorte e de fertilidade - mas, pelos vistos, neste caso específico, diziam mesmo respeito aos caminhos para fazer os homens mais felizes ;)

Outro dos locais que se pode visitar é a Casa da Pequena Fonte - um espaço que teria dois andares, onde se incluía o tal terraço com a fonte (muito bonito, cheio de desenhos tanto nas paredes como no chão, feitos através de pequenos mosaicos - um pouco à semelhança do que se vê em Conímbriga). A estrutura da casa não é muito percetível, mas com a explicação da guia consegue-se imaginar bem onde seriam os quartos, a sala ou a casa de banho. 

Um detalhe importante: havia canalização em algumas ruas! Há coisas inacreditáveis na civilização romana e ainda se conseguem ver os canos de água que passavam nas ruas, em direção às casas.

 

 CruzeiroAdriatiMedit (766).jpg

Uma das pinturas presentes nas paredes do bordel

 

CruzeiroAdriatiMedit (764).jpg

Um dos quartos do bordel

 CruzeiroAdriatiMedit (781).jpg

Na Casa da Pequena Fonte

 

Uma das zonas mais movimentadas de Pompeia é a praça central - uma coisa enorme, cheia de pilares, que dá para perceber a imponência daquilo que foi a cidade. É lá que está também um dos sítios que tem sempre mais gente: o local onde estão os corpos "petrificados". Na verdade, só um dos exemplares que lá está é que é real - todos os outros (e serão uns cinco, ao todo - onde se inclui um cão, um velho e uma criança) são réplicas das "carcaças" que foram encontradas nas ruínas. Não é nada que impressione, não há sangue ou algo semelhante a vivo ali, até porque se não olharmos com atenção nem percebemos bem do que se trata - a única coisa que pode chocar são as posições em que os corpos se encontram, claramente em forma de sofrimento. É muito difícil sequer de imaginar o que é ver uma quantidade imensa de lava a vir na nossa direção e sabermos que a morte é a única saída.

 

CruzeiroAdriatiMedit (770).jpg

Na praça central

CruzeiroAdriatiMedit (799).jpg

A praça central (se bem me recordo, a estátua não é da Roma Antiga)

CruzeiroAdriatiMedit (798).jpg

O cão petrificado

 

Perguntam-me várias vezes se a ida a Pompeia vale a pena. Eu digo o seguinte: depende. Depende dos gostos de cada um, no interesse em história antiga. A visita a esta cidade é um injeção de conhecimentos (ou supostos conhecimentos, lá está) sobre a forma de vida da Roma Antiga e é de facto incrível ver tudo o que tinham para a época. Nós achamo-nos muito evoluídos, mas por vezes esquecemo-nos que já naquela época eles tinham sistemas de canalização e outras "tecnologias" que nos deixam de queixo caído. Mas se a visita não for bem feita, se não tiverem alguém que de facto perceba do assunto ou conheça Pompeia ou se simplesmente não se interessam por estes temas, talvez não valha a pena. As opiniões dividem-se mas, pessoalmente, gostei. Tive pena que o nosso grupo fosse tão grande e estivesse tanto calor - penso que fora dos meses da época alta a visita seja incomparavelmente mais agradável, por isso tentem ter isso em conta se estão a ponderar uma ida lá.

Quando voltamos a Nápoles, e apesar de ainda faltarem um par de horas para sairmos do porto, fomos para o barco. Olhando de fora, eu sei que isto parece um desperdício: estar numa cidade e não aproveitar para a visitar. Eu própria penso assim - e dou o litro sempre que viajo - mas, também por isso, chego a um ponto em que estou toda rota. Aqui já estava com mais de uma semana de cruzeiro no lombo, cheia de horários trocados e duros, assim como muitos quilómetros nas pernas - e o calor matou-me, não podia com um gato pelo rabo. Aproveitei para dormir uma sesta, fazer a mala (que tinham de ser entregues antes do jantar - só as vimos no dia seguinte, quando saímos do barco) e preparar-me para o dia seguinte, onde faríamos uma paragem hiper-rápida e resumida em Roma.

 

CruzeiroAdriatiMedit (801).jpg

 À saída, uma das escavações ainda a decorrer

Comentar:

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Pesquisar

Mais sobre mim

foto do autor

Redes Sociais

Deixem like no facebook:


E sigam o instagram em @carolinagongui

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Leituras

2024 Reading Challenge

2024 Reading Challenge
Carolina has read 0 books toward her goal of 25 books.
hide


Estou a ler:

O Segredo do Meu Marido
tagged: eboook and currently-reading
A Hipótese do Amor
tagged: currently-reading
I'm Glad My Mom Died
tagged: currently-reading
Spare
tagged: currently-reading

goodreads.com

Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2023
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D