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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

16
Ago17

Malta, o país das varandas bonitas [La Valleta e Mdina]

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A paragem em Malta ficou marcada por uma série de peripécias. Foi um país de que gostei bastante - honestamente não esperava - mas, infelizmente, para além da beleza do local, há toda uma série de coisas que me vêem à cabeça quando penso neste destino, onde passamos dois dias.

Começou com o facto de perdermos a excursão onde íamos, que passaria por Valleta e Mdina, a atual e antiga capital do país, respetivamente. Fizemos a visita toda por Valleta, com um guia óptimo e com piada, que tornava aqueles caminhos ao sol e os locais abafados em algo muito tolerável. Quando já íamos para o autocarro para nos dirigirmos para Mdina vejo a minha mãe a vasculhar a carteira - de segundo para segundo com um ar de pânico crescente - e a perceber que não tinha o porta-moedas com ela. Moral da história: o resto da visita guiada foi para as urtigas. O mais importante? Sim, a minha mãe encontrou a dita, mas depois daquilo ficamos os três completamente desgovernados. Não tínhamos um mapa, não sabíamos o que fazer ou para onde ir, e estávamos todos nervosos e irritados - ora por a minha mãe quase ter perdido a carteira, ora por termos perdido a visita por causa de uma distração.  Precisamos de mais de uma hora para alinhar os chakras e definir um plano de ataque próprio - que passou por conhecer melhor ambas as capitais. É lógico que em La Valleta, onde tínhamos estado com o guia, já tínhamos todo um enquadramento sobre a história da cidade que valorizou muito mais o passeio: e em Mdina fomos sem rede, simplesmente admirando a beleza e a pureza da antiga capital. 

A verdade é que para perceber o que vemos em Malta precisamos de saber um bocadinho de história (prometo não vos maçar). Aquilo que vemos mal aportamos é, para além de uma cidade toda em tons de areia, um grande muro. Uma muralha alta e gigante que, aparentemente, circunda a ilha (na verdade é só uma pequena parte). E ela existe porque durante 250 anos a ilha foi habitada por cavaleiros, que contra todas as expectativas conseguiram travar a entrada de inimigos - incluindo os otomanos, que na altura da invasão a malta tinham quatro vezes mais homens que os malteses. Um tanto ao quanto obcecados com a questão da segurança, os cavaleiros construíram não uma, não duas... mas dezoito muralhas, o que tornava o acesso à cidade totalmente impossível. E é parte dessas construções (que não foram destruídas na Segunda Guerra Mundial - Malta foi o país mais bombardeado a partir do momento em que Itália anunciou guerra à Inglaterra - que deteve malta até 1964) que ainda hoje vemos e que fazem de Valetta parecer algo grandioso quando, na realidade, não o é. 

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Vista do barco, à chegada

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Do outro lado de La Valleta

 

Há uma coisa que é impossível não notar em todo o país, que é coerente em cada recanto: a cor das paredes de todos os edifícios é em tons de areia, feitos de uma mármore não polida que, com a erosão do tempo, dá a ideia de todo o país ser mais antigo do que aquilo que parece. A mim, faz-me lembrar aqueles filmes romanos ou estilo Príncipe da Pérsia - não por estarmos no meio do deserto, mas precisamente por a cor principal ser este castanho muito pálido. Só uma coisa contrasta: as varandas. Aí os malteses capricham e escolhem as cores que querem: e há desde o verde tropa, passando pelo amarelo e pelo vermelho. Nunca vi um país com tantas varandas estilo marquise - assim uns paralelepípedos a sair para fora do edifício. Mas, por favor, quando eu digo "marquise" não pensem naquelas coisas horrorosas e metálicas que temos em Portugal: estas são bonitas e primam sempre pelos detalhes. Em Malta vale a pena olhar para cima e apreciar as paredes.

 

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Varandas, varandas e mais varandas em La Valleta

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Varandas, varandas e mais varandas em Mdina

 

Mas falando de sítios em concreto: em Valleta visitamos o Palácio, que é ainda hoje a residência oficial do Presidente da República e a St. John's Co-Cathedral, que é uma das catedrais mais bonitas que vi na vida. Mais do que a grandiosidade, aquilo que impressiona acima de tudo é quantidade de detalhes e de altares lá presentes (ao estilo barroco). Esta era a igreja de todos os Cavaleiros da Ordem de Malta e há muitas referências às várias nacionalidades que compunham esse grupo. Para além disso estão também presentes várias pinturas de Caravaggio - um pintor mas também cavaleiro que morreu cedo, por ser um assassino, mas que pintava com um realismo quase assustador. A visita a esta igreja é, para mim, obrigatória. 

 

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No Palácio

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O altar principal em St. John's Co-Cathedral

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St. John's Co-Cathedral (a falta de luz não ajudou à foto...)

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Teto em St. John's Co-Cathedral

 

Olhando de longe, La Valleta parece muito maior do que Dubrovnik, mas a nível prático o tempo que se despende numa, passa-se noutra. Aqui as ruas são incomparavelmente mais largas e com muito comércio e marcas clássicas, tipo Pandora ou Pull&Bear - ao estilo Rua de Santa Catarina ou Rua Augusta. Mas fugindo do centro, aquilo que há é casas: e quando nos fartamos de ver cor de areia e varandas bonitas... é sempre mais do mesmo. O que até bom, porque significa que moram de facto pessoas lá dentro, ao contrário daquilo que vi na Croácia. Porque apesar de se verem muitos turistas - principalmente quando chega um navio - as pessoas acabam por se diluir melhor nas ruas mais largas da capital ou estar enfiadas em autocarros de tours.

 

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Nas arcadas em frente ao Palácio

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No centro de La Valleta

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La Valleta

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Teatro em La Valleta, que foi completamente destruído na guerra. Optaram por o manter assim, para memória futura, e transformaram-no num teatro ao ar livre

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La Valleta

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A entrada em La Valleta, com o parlamento à direita

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La Valleta

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La Valleta

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La Valleta fica muito elevada em relação ao porto e o resto do país, por isso construíram um elevador que em alguns segundos sobe e desce, evitando muitos quilómetros a pé ou escadas. O preço para subir é de dois euros, para descer não existe controlo. Compensa e as pernas agradecem, principalmente quando não há muito tempo

 

O mesmo se sente na Mdina, para onde fomos de autocarro (público) - foi a solução mais imediata que encontramos para dar a volta à excursão perdida e até foi giro para ver uma Malta que não se vê tanto nas tours: as pessoas, os trabalhadores, as ruas com comércio local e pouco turístico, casas, descampados. Esta é uma vila medieval, com menos de uma dezena de restaurantes e lojas de souvenirs. Não sei se fui eu que tive sorte ou se é mesmo assim, mas a pouca confusão que apanhei deveu-se a uma visita de estudo que por lá havia - de resto, as poucas ruas da vila estavam praticamente desertas e podia-se desfrutar do silêncio, tirar fotos e apreciar o local sem dramas. De Valleta até lá, de autocarro, é cerca de meia hora - também é possível ir através dos Hop On, Hop Off, que demoram um pouco menos que isso.

 

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À entrada de Mdina, com os típicos coches

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No centro de Mdina

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Mdina

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Noivos em Mdina

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Mdina

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Detalhe nas paredes de Mdina. Este é um símbolo religioso que se vê à porta de muitas casas - gostamos tanto que compramos um como souvenir

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Nas ruas estreitas da Mdina

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Nas ruas estreitas da Mdina

 

E eu sei-o porque no dia seguinte foi num destes autocarros que andamos. A minha ideia inicial era ir numa excursão à Blue Grotto, a gruta azul, mas infelizmente quis comprar muito em cima da hora e já não arranjei bilhetes. Portanto o meu plano era ir até lá pelos meus próprios meios, pelo que compramos bilhetes para esses autocarros. A ilha tem apenas 300 metros quadrados (mais pequena que a Madeira), por isso este tipo de tours cobrem praticamente o território todo. Há apenas três linhas e, como estava em Malta e as coisas estavam para correr mal... entrei na linha errada, o que acabou por ditar a não-ida à gruta. 

O erro acabou por correr bem pois passamos por um museu de aviões - o meu pai adora tudo o que envolve guerras e aviação, por isso decidimos que desta vez esta paragem seria para seu bel-prazer e fomos ver o museu que, apesar de pequeno, está bem conservado. Para quem é interessado nesta matéria, Malta tem muita escolha: como foi altamente bombardeada e se aguentou histoicamente - os ingleses davam a ilha como perdida mas o povo lutou e aguentou, ao ponto de serem o único que, de forma coletiva, foram agraciados com uma medalha de honra pelo Reino Unido - há muitas memórias, objetos, fotos e destroços partilháveis, que fazem parte da história do país e deste povo. A entrada neste museu em particular custou 7 euros por pessoa. 

 

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No museu de aviação

 

Voltamos a apanhar o autocarro, com a intenção de voltar ao porto e apanhar a linha certa, mas a viagem foi tão caótica e cansativa que decidimos voltar ao barco e descansar (até porque as visitas à gruta acabavam às 16:30, assim como as voltas no autocarro, pelo que ficava apertado). O trânsito em Malta é um tanto ao quanto caótico, o estacionamento é uma balda e a ligação entre cidades não me pareceu ser irrigada com vias de grande qualidade - ah, e anda-se pela esquerda! Há muitos coches, o que para além de fazer as ruas cheirarem mal, conseguem atrapalhar bastante o trânsito nos sítios mais concorridos - até porque são precisamente estes que têm mais turistas. Só para vos dar uma imagem mental, o motorista do hop on, hop off falava ao telemóvel com o ombro a segurar o telemóvel, uma sprite na mão direita e um dedo esquerdo segurava ao volante - isto com mais de quarenta pessoas a seu cargo, várias (como era o meu caso) sem lugar sentado. E a porta do autocarro ia aberta, caso nos quiséssemos atirar de desespero (foi quase...).
Não achei os malteses particularmente simpáticos. São uma mistura de italianos com turcos, têm na sua maioria uma tês escura e tudo o que era motorista, taxista, coxeiro e etc. tinha um ar muito rude. A língua deles é perfeitamente impercetível - 80% árabe com 20% italiano - o que também não ajuda à convivência (embora a maioria fale inglês).

De todos os países por onde passei, Malta é sem dúvida o mais barato a todos os níveis - as tours, os souvenirs, os bilhetes para museus e a comida eram muito baratos. Um dos ex-libris do país é o vidro - têm peças lindíssimas,  algumas ao estilo Bordalo Pinheiro, que fazem boas recordações. Foi daqui que, sem dúvida, trouxe mais "tralhas" para casa!

Já o disse, mas uma das coisas boas deste cruzeiro foi ter visitado países que se calhar nunca visitaria num passeio isolado. Vale a pena visitar Malta, principalmente se gostam de castelos, muralhas e histórias reais que envolvem tudo isso - assim como quem gosta do assunto "Segunda Guerra Mundial". Apesar da rede de autocarros não me ter parecido má, acho que pode ser uma boa ideia alugar um carro e fazer a ilha de lés a lés, sem a rigidez de horários que os autocarros e outros transportes implicam. Acho que dois dias bem preenchidos chegam para ver muito do que interessante este país tem para ver. E aconselho um guia! A história de Malta merece ser ouvida e, quando bem contada, parece uma série de episódios sem fim.

E eu, apesar de ter gostado muito, fiquei feliz por zarpar. Malta foi sem dúvida a paragem mais atribulada desta viagem e eu só queria ir para o próximo destino - a Sicília.

 

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Num "miradouro" em La Valleta

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O verdadeiro gato maltês - e era gigante!!

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O nosso barco atracado - à esquerda podem ver La Valleta, bem alta relativamente à linha do mar

 

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