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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

29
Jul17

Dubrovnik e as delícias do mar Adriático

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Uma das muitas ilhas da Croácia

 

A Croácia é bem capaz de ser o sítio por onde passei sobre o qual as pessoas mais me perguntam. Acho que depreendem que a Itália é um sítio lindo, o Montenegro é simplesmente desconhecido, a Malta é uma "ilhota" e a Croácia está nesse meio termo, a ganhar fama de dia para dia (com uma quota parte de culpa do Game of Thrones).

A verdade é que este cruzeiro foi escolhido, em primeiro lugar (claro!), porque tinha sítios que achamos que podiam ser interessantes; em segundo lugar, por haver vagas; e em terceiro porque estava inserido nas poucas semanas que tínhamos disponíveis para tirar férias. Ou seja, ao contrário do outro - onde eu tinha sítios que queria muito, muito ir, em grande parte por culpa dos policiais nórdicos - neste houve uma série de fatores positivos que o proporcionaram e não foi tanto por eu querer muitooo ir aqui ou ali e achar que ir de barco seria a melhor forma. Iria, mais dia menos dia, a Veneza e a Roma - os clássicos. Mas, se calhar, nunca passaria pelo Montenegro ou Malta, por exemplo. E a Croácia está num limbo entre estas duas situações - não era um país prioritário na minha lista, mas dada a crescente fama e os enormes elogios, sabia que não tardaria a ir lá. Mas, ao contrário da viagem do ano passado, as expectativas não estavam bem formadas, não foi algo pelo qual ansiei e sonhei enquanto estava com os livros nas mãos - foi algo mais despreocupado, fui de alma aberta para receber tudo o que visse. Mas, curiosamente, sinto que as pessoas têm imensas expectativas em relação a este destino e fazem-me imensas perguntas - e, honestamente, perante tanto entusiasmo dos outros... eu sinto que não saí de lá assim tão apaixonada.

E porquê, perguntais vós? Uma palavra: turistas. Dubrovnik, onde parei durante um dia e meio (pernoitamos lá), está pejado de turistas. O difícil mesmo é ver croatas naquela terra - e a oferta de tours é tanta (para andar de barco, de kayak, nas muralhas, ir à praia, ver locais de filmagens de Game of Thrones... enfim) que vêem-se pessoas aos magotes, em grupos gigantes, autocarros e autocarros a chegar constantemente, sem nunca dar um alívio à cidade. É impressionante e extenuante.

Se isto quer dizer que não gostei? De todo. Acima de tudo não há como não gostar daquelas águas - o Adriático é lindo, limpo, de um azul como eu nunca vi na vida. Mal começamos a aproximar-nos e eu vi aquelas águas da minha varanda soube que ia ter de lá ir nadar, nem que fosse por um par de minutos. E a parte velha de Dubrovik é uma cidadezinha muito pequenina, pitoresca, mais bonita ao longe do que propriamente lá dentro (uma opinião pessoal, logicamente) - mas lembra-nos claramente alguns cenários da Guerra dos Tronos, principalmente aquelas muralhas com a água como pano de fundo.

Mas bom, nós atracamos na Croácia ao início da tarde e aquilo que fizemos, para ter uma ideia ao que íamos, foi ir numa excursão que incluía não só Dubrovnik como também uma cidadezinha a meia hora de lá chamada Cavtat (pronunciam Savtat). De todas as visitas que fizemos, esta é capaz de ter sido das mais fracas, com um guia pouco entusiasta. Cavtat é uma estância balnear, uma cidade muito pequenina com um porto para barquinhos e iates - a cor do mar é, logicamente, o ex-libris lá do sítio. Tem apenas duas igrejas que, comparadas com as nossas, são paupérrimas, apenas com algumas pinturas mas sem quaisquer detalhes de riqueza. O caminho para lá, com as suas paisagens, é que vale a pena - passa-se pelas últimas duas ilhas da Croácia (do seu "espólio" de mais de 1200, a grande maioria inabitadas) e vê-se a cidade velha ao longe, que vale muito a pena.

 

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Dubrovnik em baixo, no caminho para Cavtat

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Cavtat

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O portinho de Cavtat e a torre de uma das igrejas

 

É importante dizer que a Croácia (e toda aquela zona) é vítima de muitos tremores de terra, sendo que um dos últimos foi nos anos 70, pelo que há muita coisa que caiu e foi reconstruida nos últimos séculos. No que diz respeito a igrejas e torres há pouca coisa antiga, porque tudo ruiu, o que tira um pouco da história e do poder daqueles edifícios (historicamente falando). Para além disso há um "pormenor" que também não devemos ignorar: a Croácia, que pertencia à antiga Jugoslávia, lutou durante 4 anos pela sua independência (de 1991 a 1995) contra os sérvios e os montenegrinos, e é algo que claramente ainda está muito presente no país - o nosso guia, por exemplo, não se referia a isso como uma guerra, mas sim como uma "agressão" dos países vizinhos, que não respeitaram a vontade daquele povo ser independente. Para todos os efeitos, 1991 é a data da independência da Croácia, o que faz deste país praticamente um "teenager" - muitos dos que lá vivem (basta terem mais de 26 anos) ainda se lembram pelas tormentas por que passaram.

Dubrovnik é uma cidade simples de compreender: tem uma rua principal, bastante grande e larga, que é o ponto mais baixo da cidade - tudo o que está para os lados sobe muito, com centenas de escadas impróprias para cardíacos, divididas por ruelas muito estreitas e pitorescas (mas um tanto ao quanto arruinadas com a quantidade absurda de restaurantes e lojas de souvenirs, muitas vezes pobres e sem grande cuidado com a decoração - algo que contrasta com o exterior). A cidade foi pensada e construída assim com um objetivo: quando houvesse cheias, escoava tudo para o centro. Tem um porto - onde atualmente só param barquinhos de pesca e barcos para turistas (muitos estilo submarino, para se poder ver o fundo incrível do Adriático) - e muitas lojas, ora com merchandising de Guerra dos Tronos (com preços alucinantes), ora souvenirs, ora com gomas enormes (não entrei, por respeito às minhas ancas, mas aparentemente é uma coisa típica). É giro passear por lá, mas vê-se rápido: depois de se passar no centro, no porto, de se ver a torre e a igreja e de se percorrer um par de ruelas só com restaurantes... acaba por perder a piada. Só há uma coisa que resta fazer: subir as muralhas. 

 

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A rua central de Dubrovnik, com a torre e o sino

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O porto 

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Uma das lojas de gomas - tinham sempre papagaios à porta e pinturas alusivas aos mares, estilo piratas

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A igreja

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No centro de Dubrovnik

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Numa das muitos ruelas - esta plana, ao contrário da maioria

 

O preço para entrar na muralha é caro - 150 kunas (cerca de vinte euros) por pessoa. Mas vale a pena. É preciso ter vontade, fôlego e pernas para subir centenas de escadas, mas as vistas são arrebatadoras - tanto da cidade como do mar. No dia em que nós fomos estava um calor dos ananáses, a minha roupa estava ensopada, tivemos de parar para beber e comer um gelado (nas torres há uns barzinhos), mas é uma vista privilegiada da cidade. Outra forma de a ver é subindo o teleférico que eles lá têm, mas pelos vistos as filas são demoradas - só anda um para cima e outro para baixo (não é como em Lisboa ou em Gaia), por isso, no pico do verão, pode ser preciso uma boa dose de paciência - e entre uma coisa e outra, eu apostava as minhas fichas na muralha. Não sei o preço do teleférico - de qualquer das formas, fica a nota: a moeda oficial croata é a kuna, mas em praticamente todos os sítios (com excepção de locais públicos, pertencentes ao estado e etc., como a muralha) os euros são bem aceites.

 

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A subida para a muralha

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A cidade, vista lá de cima

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Faz ou não faz lembrar Game of Thrones? Esta é uma das minhas vistas favoritas!

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E do outro lado também havia uma espécie de castelinho...

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Na muralha

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Os kayaks, a única pedra no sapato que trouxe de lá... havia inclusivamente alguns (como se vê na foto) com o fundo transparente, onde se podia ver tudo o que se passava em baixo. Muita inveja!!!

 

Uma das coisas que eu queria fazer e não fiz foi andar de kayak. Nunca tinha visto tantos barquinhos daqueles na vida, havia visitas guiadas com uns trinta kayaks, mas o tempo não dava para tudo e tinha de passar grande parte do dia sem os meus pais - e como as férias eram conjuntas, achei que não fazia muito sentido. Mas isso não nos impediu de ir dar um mergulho àquelas águas lindas. Fiz umas pesquisas, andei a inspecionar no maps e percebi que uma das praias mais populares da zona ficava a 15 minutos a pé do centro da cidade (onde nos deixavam de autocarro - havia constantemente transferes do barco até lá e vice-versa).

Chama-se Banje Beach e, para além da água, a praia é uma absoluta desgraça (pelo menos para os meus standarts). A "areia" é, na verdade, um conjunto de pedras; a praia é minúscula e apinhada até ao tutano com espreguiçadeiras, pergulas de madeira e guarda-sóis. Não há um metro quadrado de praia livre! Os meus alertas de "intromissão de espaço pessoal" começaram logo a piscar, com demasiada gente em roupa de banho muito próxima de mim e a sentir-me sem espaço para respirar. Acabamos por nos instalar num pequeno paredão que lá existe, onde há também imensas pessoas com as toalhas estendidas, mas onde conseguíamos ao menos pousar as coisas sem ter algo a 30 centímetros de distância. Estava visto que não íamos "fazer praia" - era ir à água, tirar fotos, secar, vestir e ir embora. É também por este tio de coisas que gosto de viajar - para além de conhecer sítios novos, aprecio os "meus" sítios; relativizo. Para além do tom do mar, o Algarve dá só 265 a zero a este lugar - mesmo quando está cheio, em pleno Agosto! Por isso pensem! Temos, de facto, praias magníficas e não precisamos de ir para muito longe para passar bons momentos.

 

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A água tinha uma temperatura muito agradável, nem demasiado fria nem quente. Mesmo com uns três metros de profundidade, viam-se todos os detalhes do fundo - era uma tentação não nadar de olhos abertos!

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A praia, bem pequenina como podem ver, e com demasiadas pessoas por metro quadrado.

 

Mas bom, foi aqui que aconteceu algo muito engraçado: estava eu a tirar umas fotografias à minha mãe quando ouço falar português. Nesta altura pensávamos que éramos os únicos portugueses no barco (no fim descobrimos que havia mais quatro) e já estavamos habituados a estar descontraidíssimos a falar português, sem esperar que houvesse sangue luso nas redondezas. E portanto ouvir português foi estranho mas, dado o acaso, pedi a uma menina que me tirasse uma foto a mim e à minha mãe: sempre me pareceu mais de confiança do que dar a câmara a algum estrangeiro. E depois de ela passar a máquina a outra amiga, alegadamente com mais jeito para a fotografia do que ela, perguntam-se se eu por acaso não tenho um blog que se chama Entre Parêntesis. Atrapalhada não é a expressão certa para descrever o meu estado naquele momento, mas sim surpreendida. Eu não estou habituada a ser reconhecida em parte nenhuma - é raríssimo acontecer sequer em Portugal, portanto a última coisa que eu esperava que acontecesse na Croácia é que alguém soubesse quem eu era! As meninas foram muito simpáticas, tiraram-me a fotografia, mas eu, olhando para trás, não sei bem se a minha reação foi simpática, amistosa ou sequer amigável - e peço desculpa se fui desagradável ou menos simpática do que o suposto. Nem sequer lhes perguntei os nomes! Fiquei completamente desnorteada, não esperava encontrar portugueses ali e muito menos alguém que soubesse o meu nome! Por isso, se me estiverem a ler, gostava de mandar um beijinho às duas meninas com quem tive esse encontro furtivo (e estranho) na Croácia - espero que não pensem que sou uma mal encarada :)

Não tenho dúvida que se não tivesse passado um dia e meio na Croácia não teria feito isto tudo - sinto que foi dos destinos que mais aproveitei, não estive tempo praticamente nenhum no barco para além da noite. Cheguei ao fim destes dois dias esgotada e era só a primeira paragem - porque o calor, nestas situações, é um inimigo poderoso. Cheguei sempre ao barco muito moída, cheia de calor e fisicamente cansada devido às temperaturas demasiado altas. Mas foi bom. Tenho pena de só ter visto Dubrovnik - a Croácia é um bom país para uma road trip por toda a costa, por causa das suas paisagens e água maravilhosas. Acredito que em sítios com menos turistas (e menos cruzeiros...) as praias sejam bem mais toleráveis e que este possa ser um destino um tanto ao quanto paradisíaco. Aconselho, no entanto, meses como Junho ou Setembro - em Julho e Agosto, a quantidade de pessoas que lá está é um bom potenciador para nos fartarmos daquilo, das filas e dos magotes que nos atravessam à frente. Talvez um dia consiga voltar. Espero que sim.

 

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Uma das pontes da muralha

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Uma das ruas bem a pique - a minha mãe amaldiçoou-me quando a fiz subir uma destas!

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 E, por fim, para todos os fãs de Game of Thrones: sim, lembrei-me de vós! ;)

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