Das aulas práticas (que não temos, mas devíamos)
Nos últimos tempos tenho aprendido imensa coisa com a minha mãe; coisas úteis, que dão jeito em casa, mas que precisam de paciência e tempo para serem aprendidas. Coisas que ela também aprendeu com a mãe dela mas não só; porque antes havia aulas sobre tudo e mais alguma coisa, desde costura a caligrafia, passando por cozinha e cuidados dos bebés.
Só este ano já aprendi a utilizar a máquina de costura (já não mando as bainhas para a costureira), aprendi a fazer vários pratos relativamente complexos (embora fosse à distância, enquanto estava na Régua) e agora estou a aprender a tricotar (cheira-me que este ano as prendas de Natal vão ser todas cachecóis). São coisas que requerem paciência, alguma tolerância à frustração porque se erra muito, tempo da nossa parte e, acima de tudo, muita vontade.
Mas, mais uma vez, pus-me a refletir naquilo que aprendi estes anos, nomeadamente no secundário. Vejo disciplinas como estudo acompanhado, área de projeto, educação cívica, em foco (algo que existia na minha escola, no 7º ano) e dança (e quem diz dança diz teatro, ou coisa semelhante - que no meu caso foi a pior disciplina de sempre, onde sempre me senti mais humilhada e fora do baralho) que não serviram para rigorosamente nada. A ideia de (quase) todas elas é boa, mas na prática de nada servem. E pergunto-me porquê que não criam disciplinas práticas para estas coisas do dia-a-dia: ensinar os alunos a cozinhar, a coser, como passar uma camisa a ferro, como mudar uma lâmpada, como fazer um furo numa parede, como mudar uma torneira. Coisas práticas, que todos acabamos de precisar um dia, mas que a maioria de nós não faz ideia de como realizar - e depois gastamos dinheiro, muitas vezes em vão.
Isto pode parecer uma ideia antiquada, mas para mim fazia todo o sentido, e não olhava a géneros: os rapazes podiam fazer o que quisessem, assim como as raparigas, para lutar também contra aquele estigma de que as mulheres ficam na cozinha e os homens na garagem a tratar dos carros ou de coisas mais técnicas. Por outro lado, os alunos não se limitariam a ficar com o rabo colado na cadeira, a mexer no telemóvel sem o professor ver ou quase a dormir de tão secantes que são essas aulas a que estamos sujeitos.
Nem todas as práticas antigas eram mal pensadas. Para mim, estas aulas de coisas do dia-a-dia fariam todo o sentido.