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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

09
Ago17

As incríveis paisagens naturais do Montenegro [Kotor e Budva]

 

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Continuemos pela nossa viagem no Adriático! Depois de sairmos da Croácia foi um tirinho até pararmos em Kotor, no Montenegro. Lá está: este era um país onde nunca iria "do nada", sem estar integrado num plano que me levasse até lá; não acordo e penso "quero tanto ir ao Montenegro!". Mas isso não quer dizer que, depois de pensar no assunto, não tivesse vontade de lá ir - e acabou por ser uma paragem um tanto ao quanto sui generis.

E porquê? Porque Kotor não tem um porto capaz de albergar um navio de cruzeiro. O barco parou numa baía e nós saímos, em tranches, por barquinhos ou nos próprios barcos salva-vidas, o que tornou tudo muito mais engraçado. O meu primeiro pensamento foi "óptimo, assim tenho a certeza de os barcos salva-vidas funcionam!" - a verdade é que eles parecem tão arrumadinhos e fechadinhos que até nos questionamos há quanto tempo é que ninguém lhes liga o motor. Mas enfim, essa parte foi muito divertida e a viagem - de sensivelmente vinte minutos até ao porto - correu muito bem. Os barcos salva-vidas têm uma parte de cima, ao relento, e uma parte coberta em baixo - e tanto na ida como na vinda eu vim em cima, a apreciar as incríveis fiordes montenegrinas, com uma paisagem de cortar a respiração. O espaço para tirar fotos não era muito e, nessas situações, nem sabemos bem o que havemos de fazer: se tirar fotos e recordar aquela paisagem para sempre, ou olhar tudo durante o máximo tempo possível para absorver toda aquela beleza que quase nos parece sobrenatural. É uma dualidade que se põem muitas vezes nestas viagens e sobre a qual penso muito, pelo que tento arranjar um meio termo que nem sempre é fácil de gerir.

 

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Foi, aliás, por causa dessas fiordes e das paisagens que sabia que iam ser lindas que me levantei às cinco da manhã (só "atracamos" às sete). Pus o despertador, abri a pestana e fui logo para a varanda ver tudo o que tinha à minha frente. Esta tinha sido das poucas dicas que me tinham dado sobre este país e eu, que a cada dia que passa gosto mais de beleza natural, não podia perde-lo só para dormir mais um par de horas. Vale mesmo a pena ver. O céu estava nublado, o que por um lado ajudou às fotografias, mas por outro deu, ao longo do dia, alguma falta de nitidez aos locais mais longínquos.

 

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No Montenegro, para além do Kotor, visitamos Budva - uma estância balnear a meia hora de distância, que também tem uma muralha. No caminho para lá deu para perceber um bocadinho de como era o país, ver a parte "real" para além do turismo. Mais uma vez é importante termos em conta que este é um país recentíssimo - nós não temos essa noção porque vivemos num sítio antiquíssimo e pacífico, mas a grande maioria dos países lutou até há bem pouco tempo pelas suas fronteiras e independência (e continuam a lutar...) e isso é muito marcante para a sua cultura. Em 1910 o Montenegro foi considerado um país mas integrou, durante muitos anos, a união Juguslava. Depois desta se ter desfeito, o Montenegro permaneceu "junto" com a Sérvia, de quem só se separou há onze anos (!!!) através de um referendo. Ou seja: estamos a falar de um país que só foi independente já neste século. 

Aquilo que eu notei é que há uma grande falta de desenvolvimento, quase como se navegássemos atrás no tempo. O que tem coisas más, mas também coisas boas: tudo parece mais genuíno. Quando íamos para Budva passamos por estradas com imensos campos, de ambos os lados, pintalgados com casitas muito afastadas umas das outras e por imensos edifícios inacabados, só com as estruturas fundamentais para se manterem de pé. A minha tia (que já lá tinha dito) disse, e bem, que aquilo lhe fazia lembrar a Heidi: algo antigo, com campos e verdes a perder de vista. E sempre com montes a toda a volta, daí o nome: os italianos, quando viram as paisagens, chamaram aquela terra de Monte Negro. Mas depois chega-se a zonas completamente construídas, com casas e prédios e gruas e praia e tudo mais, numa confusão ordenada mas muito pouco simpática à vista. Pareceu-me tudo pouco equilibrado e feito com pouco gosto, de forma completamente arbitrária. Sinceramente, lembrou-me muitas vezes a ideia que tenho da União Soviética, ainda que obviamente mais avançados.

 

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Um dos muitos edifícios meio construídos à face da estrada

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Uma casinha no meio do campo

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O complexo de luxo

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Uma cidade construída à volta de uma praia, considerada uma das melhores do mundo (P.S.: quem fez essa lista nunca visitou o Algarve)

 

Acho que para além da beleza natural óbvia que este país tem, tudo o que é cultural é posto um pouco em segundo plano. Talvez por isso, quando agora me falam em Montenegro, a primeira coisa de que me lembro são as fiordes - mais do que as muralhas ou os edifícios. E, como eles não têm muito para mostrar, tudo o que é digno de referência é-nos dito: como os sítios onde foram feitas algumas das filmagens do 007 Casino Royal ou os apartamentos onde algumas celebridades compraram casa (e dizem-nos os valores e tudo mais).

À ida para Budva fizemos um photo-stop num desses sítios: a Aman Sveti Stefan, uma ilha pequenina e muito bonita ligada à terra por uma pequena passagem. É tão bonita e pitoresca que foi comprada por uma cadeia de hóteis, cujos clientes são por vezes algumas personalidades (tipo Madonna) que alugam o hotel todo para terem privacidade. Ali à volta há muitas praia, cujas águas são obviamente lindas como as da Croácia, mas a qualidade da areia e o espaço nunca são grande coisa.

 

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A ilha Aman Sveti Stefan

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Praia em Budva

 

Budva é uma mistura estranha entre uma estância balnear e muralhas históricas. Fora da muralha vêem-se palmeiras, hotéis e mais hotéis, pessoas de chinelos e toalha ao ombro; dentro da muralha são lojinhas pequeninas, ruas apertadas e feitas em pedra (mais recentes do que querem parecer, uma vez que muito foi abaixo em tremores de terra). Infelizmente não tivemos muito tempo para passear por lá - não consegui correr as ruazitas todas tal como queria - uma vez que estávamos numa visita e de seguida íamos para Kotor.

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Dentro da Citadela, em Budva, com vista para o Adriático

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Dentro da Citadela, em Budva

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Budva

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Budva

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Dentro das muralhas de Budva

 

Dentro das muralhas de Kotor sim, já andei por todas as vielas - também cheias de lojas e muitos restaurantes com esplanadas, recheadas de pratos muito bonitos e com óptimo aspeto. Honestamente, olhando para trás, já fico confusa: muralhas e muralhinhas, igrejas e capelinhas, pedra em cima de pedra com séculos ou milénios de história foi tudo o que mais vi neste cruzeiro. Vi muita coisa com história e, dentro do diferente, tudo acaba por ser semelhante. Neste caso há muito menos turistas do que por exemplo em Dubrovnik, apesar da dimensão ser muito menor: encontram-se recantos sem gente, consegue-se apreciar tudo com menos pressa e sem avalanches de gente, o que é bom. Numa hora calcorreiam-se as ruas e vielas todas.

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A Catedral de St. Tryphon, o ponto central da cidade de Kotor

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O típico bolo de amêndoa, aconselhado pela nossa guia

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Em frente à Igreja de São Lucas, uma das poucas que resistiu aos terramotos

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Recanto em Kotor

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Ruela em Kotor

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Uma das coisas que ficou por fazer foi subir as muralhas, para chegar ao topo do Monte de St Ivan. São 1200 metros de altura, o que se traduz em mais de 1300 degraus - é, por isso, algo para ser feito com tempo, com uma mochila recheada com snacks e bebida e muita força de vontade para aguentar as dores nas pernas. Não tinha nada dessas coisas, acrescentando ainda o facto e estar com os meus pais (que, apesar de tudo, já não vão para novos) e de não ter tempo. Tive pena, porque a vista para a baía deve ser arrebatadora, mas não deu para tudo.

 

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Ínfima parte da grande muralha de Kotor, que dá acesso ao topo do Monte de St Ivan

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Fora da cidade medieval (com as palmeiras - a tal mistura estranha que falei)

 

Apesar de nunca ter alinhavado ir ao Montenegro, acho que vai ser uma visita gira de relembrar daqui a alguns anos, porque penso que daqui a duas décadas vai ser um país irreconhecível. Eles estimam que daqui a cinco anos já vão estar integrados na União Europeia e eu estou em crer que, a partir dessa altura, este país vai sofrer um boost enorme a todos os níveis. O turismo - que representa, atualmente, 22% do PIB - vai de certeza aumentar, porque para além destas cidades medievais eles têm um potencial enorme no que diz respeito a turismo relacionado com a natureza. Têm lá o maior desfiladeiro da Europa, têm as montanhas, têm águas lindas. Enfim, tudo para cortar a respiração. Estou a imaginar uma viagem de comboio por toda a linha junto à baía e até suspiro. Sei que se um dia voltar - e gostava, em particular de percorrer a costa da Croácia até chegar lá - vou notar diferenças. E nessa altura já poderei contar aos sobrinhos que "quando cá vim pela primeira vez não era nada disto, até pareciam os campos da Heidi!". E eles vão perguntar-me: "Quem é a Heidi?". E aí eu vou perceber que estou velha. Mas ao menos - espero - serei viajada.

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