Aproveitar a vida
Muitas vezes tenho medo de não aproveitar a vida devidamente. "Aproveitar a vida", que expressão gira. Para 90% dos jovens da minha idade "aproveitar a vida" é ir para discotecas ao fim-de-semana, beber dois (ou mais) shots, fumar socialmente, ervas incluídas, ir namorando, ir saindo, ir estudando (pouco), enfim, ir... Defrontei-me com este problema desde cedo porque o "aproveitar da vida" dos outros, para além de ir contra os meus princípios, não coincidia com o meu "aproveitar a vida". Eu não gostava disso. Mas ainda hoje não sei se o que gosto pode ser considerado "aproveitar a vida".
Mas nos últimos dias não me tenho preocupado. Andei suficiente ocupada estas duas semanas para não me preocupar com demasiadas questões existenciais como essas. Mas chego ao fim - derreada - e acho que aproveitei, por um bocadinho que fosse e pelo menos nesta perspectiva, a vida: todos os dias, sempre, sempre, sempre que o sol espreitou nesta cidade (e foram poucos os dias e, dentro deles, poucas as horas) lá estava eu, esparramada ao sol, com um livrinho, a fazer uma das coisas que mais gosto na vida. A ler, a apanhar sol e a aquecer a alma que anda tão fria e desconsolada por tudo, por nada, e por estes meses de Inverno horríveis.
Tenho medo que me aconteça algo e que eu olhe para trás e pense "não aproveitei a vida". Sei que, da forma que os ouros os fazem, não a aproveitei de certeza. Mas estes dias tenho a consciência limpa: porque aproveitei, da forma que melhor sei e como e onde me sinto melhor, consoante o tempo e a minha disponibilidade o permitiram. Fui feliz naquelas horas ao sol. Aproveitei a vida.