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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

18
Fev17

A fórmula da felicidade pode ter dor pelo meio

Não acho que tenha sido uma adolescente difícil, com aqueles dramas todos do costume. Simplesmente não fui uma adolescente feliz. Não que não tivesse condições para isso, mas simplesmente não me conseguia ver livre dos meus fantasmas, que tomavam conta de mim de forma permanente. De qualquer das formas, acho que esta é das épocas da vida em que é difícil ser-se feliz, a menos que se seja muito parvo e ninguém tenha uma rédea sobre nós. Eu estava a passar por aquilo, sabia os "sintomas", mas não me identificava com eles: via os meus colegas a passarem por todas as fases a que tinham direito, a fazerem asneiras sem olho em qualquer consequência, e eu abanava a cabeça, num "não" constante.

Foi só mais uma fase em que não me integrei com nada nem ninguém e que embora não andasse enrolada com 3 gajos na mesma semana, a fumar um cigarro na parte de trás da escola e já de olho no dealer de erva ou a mentir aos meus pais, vivia com os meus próprios dramas e cocktail de sentimentos que não sabia gerir. E acho que isso só resultou num isolamento total e numa tristeza que morou em mim até, provavelmente, ao 11º ano - ano em que me senti mais no fundo do poço e já com anti-depressivos na carteira mas onde também decidi tomar as rédeas da minha vida e deixar-me de merdas.

Por outro lado também culpo a genética. Acho que tenho propensão para estar triste, ver o copo meio vazio, estar de olho no lado negro da vida, optar pelo ponto de vista negativo em detrimento do positivo. Esta é a minha forma natural de estar, mas também é aquela em que não quero viver - por isso todos os dias faço o exercício de gostar das coisas, sorrir para as pessoas, fazer listas de coisas boas se assim for necessário, ser simpática e esperar que o universo retribua com positivismo. E quem está a ler isto e não me conhece deve estar a pensar que eu sou o Gustavo Santos em modo feminino, a tentar inspirar o mundo para uma auto-ajuda generalizada, mas não é verdade: primeiro porque não acho que seja exemplo para ninguém e, segundo, acima de tudo, porque o que eu estou a dizer é a mais pura das verdades, no meu caso em particular. A mudança foi radical e sei que no exterior também se notou: sou hoje uma pessoa mais feliz e muito mais fácil de conviver e privar. Porque a verdade é que viver ou estar com alguém que está sempre triste, deprimida e chateada com a vida é um castigo: castigo esse que eu não queria dar nem aos que amo - porque são quem me atura diariamente - nem a mim própria. Eu já não me aguentava, estava farta de mim. E isso era uma bola de neve que ia piorando gradualmente porque não conseguia sair deste ciclo. 

Esta mudança aconteceu porque cresci mas, acima de tudo, porque quis. Ai de quem me tire os louros nisto e os ponha em cima dos anos que passaram por mim. Porque embora eu duvide seriamente que conseguisse voltar ao que era - a não ser que um acontecimento avassalador tomasse conta da minha vida e eu perdesse totalmente o controlo -, não tenho dúvidas que aquela Carolina ainda continua ali. E ela aparece todos os dias e eu não consigo deixar de ser eu. Costumo dizer "deram-me os 5 minutos, mas já passou"; ou então, já antevendo a coisa: "estou prestes a ter os 5 minutos, mas já passa". Esses cinco minutos são de choro compulsivo e música deprimente; são fonte de inspiração para escrita, são dores de alma. Mas são só cinco minutos - e depois pára. Porque eu não sufoco aquilo que sou, mas preciso de ser outra coisa. Estabeleço-me limites para gozar e viver as tristezas, as deprimências, as ânsias e os sofrimentos - podem não ser cinco minutos, podem ser dez, um dia, uma semana. Depende do que for, depende dos quê's da questão, de uma previsão para eu ver a coisa resolvida. Mas tem de terminar ali.

E isto pode parecer estranho e irreal porque, de facto, as dores e os desgostos não têm prazo de validade; só o tempo é que os cura. A questão é que, a menos que sejam autênticos elefantes na sala que não consigamos controlar - que acontecem -, podemos prioriza-las. O truque é deixar de lhes dar prioridade. Primeiro há uma vida para viver, passeios para dar, viagens, trabalho, pessoas - e depois podemos resolver tudo isso. Mas a verdade é que, bem vivida, a vida é demasiado cheia de coisas (boas e más) para termos muito tempo para estarmos ocupados a resolver coisas antigas e a carpir como se não houvesse amanhã.

Às vezes dizem-me, ferverosamente, para parar de racionalizar. Deixar de pensar em hipóteses, de parar de descodificar aquilo que sinto, que os outros sentem. O que essas pessoas não sabem é que o ato de racionalizar, tanto me mata, como me salva diariamente. É como as enzimas dentro do nosso corpo, que partem partículas maiores noutras mais pequenas, de forma a serem digeridas: pode doer à primeira, mas é a única forma de elas serem absorvidas e serem uma parte integrante de nós. E eu preciso de desconstruir tudo, ordenar as ideias, dar-me tempos para arrumar tudo direito e seguir em frente. É assim que consigo ser feliz. (Literalmente) Estranhamente feliz.

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