A imagem que temos de nós
Toda a gente sabe que a voz que nós julgamos ser nossa é bem diferente da real, aquela que os outros ouvem. Há sempre aquele momento, normalmente quando somos crianças, em que ouvimos a nossa voz gravada e dizemos "não é possível, eu não tenho uma voz assim tão horrível!". Pois, é a vida. O que vale é que depois desse momento traumatizante, temos muitos e bons anos (em principio) para nos habituarmo-nos às nossas vozes estranhas. A maioria de nós continua sempre a gostar mais da voz que ouvimos interiormente, alterada pelos ossos e carne e o que lá mais exista pelo meio, fazendo-a parecer muito mais agradável.
Mas às vezes pergunto-me, se de uma forma muito menos óbvia e decifrável, a nossa visão também poderá estar deturpada no sentido de, em frente ao espelho, nos dar uma imagem muito melhor ou pior daquilo que realmente somos (ou seja, do que os outros, a população em geral, pode ver). É possível que os espelhos sejam os nossos piores inimigos? E o que é mais fiável, a imagem contínua que o espelho reflete, ou o momento eternamente parado mostrado na fotografia?
Digo isto porque a forma mais fácil de me fazerem sentir horrível é tirando-me fotografias. Mesmo naqueles dias em que eu acho que estou mesmo, mesmo bem, no momento em que carregam no botão e me fazem ficar estática no ecrã de um computador ou no papel fotográfico, eu acho-me, 95% das vezes, para lá de terrível. Mas o espelho diz que não, que estou bem. Já a fotografia diz que sim, estou péssima. E as pessoas, por seu lado, dizem que estou muito bem na fotografia (são simpáticas, entenda-se), levando-me a crer que as fotos são bem mais fiáveis àquilo que os outros vêm do que ao que o espelho me mostra.
Ou isso ou eu sou, pura e simplesmente, muito pouco fotogénica.