Carolina
Nasci a 20 de Março e isso diz muito sobre mim: este é o dia em que ora o Inverno tem fim, ora a Primavera se inicia. A minha vida oscila assim, entre estas duas estações do ano quase antagónicas; uns dias frios e tristes, outros de céu limpo, cor e a esperança do que há para vir.
Cresci no mundo da têxtil, no meio de panos, amostras, máquinas muito grandes e barulhentas e sempre disse que esse seria o meu destino. Entretanto, mais crescidinha, decidi que queria ser engenheira informática. Em 2011, depois de algumas turras com a matemática e após ter percebido que escrever era das coisas mais terapêuticas da minha vida, decidi abandonar os números e parti para as humanidades. Formei-me em Ciências da Comunicação, fugi do jornalismo a sete pés e especializei-me em Assessoria de Comunicação. Acabei o curso em 2016 e arranjei logo o meu primeiro trabalho. E não, não foi em assessoria - foi em jornalismo, na área do têxtil e da moda. E, nesse momento, eu percebi que a vida era uma pescadinha de rabo na boca.
Nasci na freguesia mais antiga do Porto, o que faz de mim uma portuense de gema - e tenho muito orgulho em ser tripeira. E, claro, sou portista de alma e coração! Gosto de muita coisa, tenho jeito para algumas, mas não consigo entregar-me totalmente a uma só. Adoro abrir a caixa de correio e ver que tenho postais; ir ao cinema; usar anéis e cabelo curto; tirar fotografias; estar com os meus cães; tocar piano. Aquilo que me move é a minha família - somos quatro irmãos e já conto com seis sobrinhos - e o meu trabalho. Mas aquilo que me faz sentir mais viva é a escrita, uma viagem ou um concerto a passar-se à frente dos meus olhos enquanto cada célula do meu corpo vibra com cada nota tocada.
Apesar de ter tirado um curso de comunicação e de escrever todos os dias, comunicar é aquilo que faço de pior. Não sei lidar com pessoas e tenho um problema sério em confiar nos outros. Nunca fui popular, nunca fui fixe, nunca fui concorrida. Era sempre a que ficava para último para ser escolhida para as equipas de educação física, nunca tive muitos amigos. Habituei-me a ser um loner desde pequena, a jogar monopólio sozinha e a aprender que nos livros também se arranja companhia. Sou um bocadinho obcecada com a moral e com a ética. E sim, tenho uma velhinha de 78 anos a viver dentro de mim.
Passei tanto tempo a apreciar a minha própria companhia que, por vezes, é difícil saber estar com os outros. Em resumo: sou um bicho do buraco. Acho que um bicho do buraco simpático, que escreve e que tenta ocasionalmente sair da toca e ver aquilo que de bom a vida tem... mas que não deixa de ser, efetivamente, um bicho do buraco. É o que há!
Email: paranaoficaremcoisaspordizer@gmail.com