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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

29
Mai17

O medo de me tornar numa pessoa desinteressante

O "Up in the Air" (não é o da Disney, mas sim o do George Clooney e da Anna Kendrick) estreou quando eu tinha 14 anos e marcou-me muito. Lembro-me de o ter ido ver ao cinema, de vir para casa e chorar - e depois de escrever um post estilo este, naqueles que foram os meus primeiros tempos de escrita. Tinha só 14 anos, mas revi-me totalmente no que ali via - e na altura disse-o, sem vergonhas: "acho que isto vou ser eu no futuro". Não me referia ao trabalho horrível que a personagem principal tinha - que era, no fundo, despedir pessoas (era contratado por empresas para fazer despedimentos coletivos em todo o mundo e por isso passava a vida a viajar, nunca estava em casa, não tinha amigos, mulher ou filhos - apenas uma família que ignorava); falava - já nessa altura! - de de viver para o trabalho, ser "casado" com ele (embora, ao contrário do filme, a minha família vá estar sempre em primeiro lugar).

Ou seja, o facto de eu achar que nunca me vou casar ou ter filhos não é de todo uma ideia nova para mim - simplesmente sinto que esteve sempre comigo. Não quer dizer que não mude, não quer dizer que seja uma opinião para a vida ou muito menos uma decisão: é apenas um feeling, algo que tenho há muitos anos e que acho que não me reduz enquanto pessoa ou mulher - simplesmente sou como sou e posso ter outros milhões de gostos e afazeres para além da vida de casada e de mãe. Mas, em contraposiçãom tenho o trabalho, algo recente para mim mas que sempre soube que ia ser a minha praia, o meu porto seguro (independentemente de até poder não ser seguro, de eu ter dúvidas ou de existirem dias maus - é simplesmente terreno onde eu sempre soube que me ia conseguir levar avante, porque é o que sei fazer bem) - e que, para o bem e para o mal, ocupa uma grande fatia da minha vida.

Mas ultimamente, nos poucos encontros que tenho com pessoas amigas ou família, dou por mim a falar de trabalho. Das minhas viagens de trabalho, dos meus colegas de trabalho, das minhas tarefas no trabalho, nas minhas complicações no trabalho, nas peripécias do trabalho. E tenho medo de me estar a tornar só nisto, quando - apesar de todos os defeitos que sei que tenho -sempre me achei uma pessoa interessante, que tem uma resposta minimamente correta e coerente para tudo, que não sabe muito de nada mas que com aquilo que vai ouvindo, lendo e falando consegue ter uma opinião sobre algo e manter uma conversa interessante. E agora: trabalho. A muleta de sempre: o meu porto seguro quando todos os outros portos parecem despovoados e inseguros, mas que é provavelmente uma seca para quem está à minha volta. E quando rebobino mentalmente as conversas que tive, e se a minha percepção for a correta, quase tenho vergonha de mim própria por aquilo que hoje em dia faço.

Tenho medo de só me tornar nisto, quando acho que sou muito mais que isto. Tenho medo de ser aquela pessoa chata num grupo de amigos que (já) mal conhece que só fala do escritório, do patrão e dos dramas da vida laborar. Tenho medo de estar a crescer e de, ao mesmo tempo, estar a ficar mais pequenina.

25
Mai17

As lágrimas têm um peso incalculável

Quando somos pequeninos os nossos pais e avós fazem-nos uma pergunta com rasteira, só para nos mostrarem que nem tudo o que parece óbvio assim o é. "O que pesa mais: um quilo de ferro ou um quilo de algodão?", questionam, com ar despercebido. E nós, a achar que somos muito entendidos na matéria e como, com sorte, já apanhamos com um pedaço de ferro num pé e sabemos o que dói (principalmente comparado com a suavidade do algodão) respondemos, sabidolas: "o ferro, é claro!".

E aí vem toda a risota e a explicação, dizendo que um quilo de ferro e um quilo de algodão pesam exatamente a mesma coisa... porque têm precisamente um quilo. Mas eu acho que há coisas que são muito mais pesadas do que aparentemente parecem e independentemente do seu peso real. Comecei a escrever este post quando me sentei aqui no computador, pensei "preciso de escrever" e, ao descomprimir e ao ver-me sozinha, chorei durante trinta segundos - o que equivale, talvez, a um trio de lágrimas. Apesar de não encher nem um bocadinho de um frasco, de provavelmente terem um peso impercetível para as balanças mais comuns, foi um peso que me saiu de cima. Podiam ser só três, mas "pesavam pra' burro".

Acontece-me muito recolher mágoas durante o dia... coisas que me pesam. São momentos, a maior parte das vezes impercetíveis aos outros, em que se dá um clique na minha cabeça e eu passo a perceber alguma coisa sobre mim, sobre os outros, sobre a minha vida ou forma de ser que, até àquele momento, ainda não tinha descodificado; em que me lembro de algo que me dói ou magoa; em que, instintivamente e sem eu dar ordem, se abrem gavetas que não queria abrir. E eu fico a remoer aquilo o dia inteiro, a pôr mais pedrinhas no saco (e na gaveta - como se algumas já não estivessem cheias de entulho) e a carregar aquilo às costas o dia inteiro. 

E, no entanto, quando há pouco me sentei, metade desse peso foi-se embora. Foram aí umas três lágrimas, capazes de me livrar - em parte - daquele sentimento de solidão que andou agarrado a mim o dia todo depois de uma conversa ligeira mas uma série de pensamentos pesados. Foram três - e bastaram. Porque as dores, para o bem e para o mal, não se põem na balança - assim como as lágrimas que as movem, rosto abaixo, enquanto esvaziam a alma.

21
Mai17

Pensamentos dispersos na charcutaria de um supermercado

Eu gosto muito de ir ao supermercado - eu sei que isto é estranho, a maioria das pessoas detesta, mas é coisa para me relaxar; gosto de ver produtos novos, as informações nutricionais e, por isso, não gosto de ir à pressa (até porque nesses dias é quando apanhamos mais filas).

Mas é precisamente de filas que eu quero falar: não são as das caixas que mais me incomodam, mas sim a da charcutaria. Por aqui se vê o quanto os portugueses comem queijos, fiambres, chourições, salpicões e mortadelas - com e sem azeitona - aos molhos. Para além de serem muitas vezes quantidades alucinantes (meio quilo de queijo, por amor de Deus!), parece que muitas vezes têm um gosto particular em levar todo o tipo de produtos existentes nesta secção do supermercado. É que nem precisam de sair daqui para irem com o cesto cheio, carregado com coisas suficientes para fazer francesinhas para um batalhão!

Eu, que já sei que para ir à charcutaria é preciso uma vida, já tenho as minhas técnicas: mal chego ao super vou logo tirar senha e vou deitando um olho, de quando em vez, à tabuleta com os números para não perder a lugar - o que, no fundo, são esperanças infundadas porque eu posso praticamente correr a meia maratona por entre os corredores da loja e, quando acabar, ainda faltam três senhas para me atenderem. Mas enfim, uma pessoa pode sonhar.

Como sou organizada, faço um plano de ataque ao supermercado antes de começar a fazer as compras, de forma a demorar o menos tempo possível e não passar vinte vezes no mesmo corredor - e isto faz com que seja sempre (sempre!) mais rápida nas minhas compras (mesmo que sejam muitas) do que a velocidade com que se despacham senhas na charcutaria. Tudo isto piora quando há clientes que exigem que as máquinas sejam limpas porque antes do fiambre de peru que exigiram estava um de porco que pode ter contaminado a dita máquina com carne vermelha; ou que pedem uma fatia para entreter o filho, enquanto encomendam quase um quilo de queijo para a família inteira.

E sim, eu sei disto tudo porque depois de ter o carro cheio, de ter verificado a lista mais de uma dúzia de vezes e de ter pensado em qualquer coisa que me falte na dispensa ou no frigorífico, não tenho outra hipótese senão ficar pacífica e pacientemente à espera que gritem "quarenta-e-dois!", enquanto olho para uma variedade espantosa de enchidos, queijos e coisas que tais é penso na quantidade infindável deste tipo de coisas que invadem diariamente (ou horariamente?) os estômagos dos portugueses. 

Entretanto já está no 41 (yupiiiiiii!). Vou parar de escrever e esperar que gritem por mim. Obrigada pela companhia.


[escrito no supermercado, à espera de 250 gramas de fiambre]

19
Mai17

O mapa mundo-raspadinha

Há duas coisas na vida que eu sinto que me alimentam a alma. É algo difícil de descrever, mas é uma sensação de inspiração pura; saio daqueles momentos com vontade - e a acreditar - que consigo conquistar o mundo. A primeira é viajar, a segunda é ir a concertos. Ainda há tempos não sabia o que havia de fazer com a minha vida, sentia-me mesmo perdida, começava a questionar todas as minhas escolhas - e pensei o quanto me fazia falta ir dar uma volta a um país alheio ou sair profundamente tocada de um concerto.

Mas bom, isto foi só um parágrafo introdutório sobre o quanto eu gosto de viajar, porque na verdade venho aqui mostrar-vos uma coisa que comprei e mostrei ontem no meu instagram e que fez furor, pelo que prometi partilhar tudo e não esconder nada. E o que é? É um mapa mundo ao estilo de uma raspadinha - cada país que já tenhamos visitado, raspamos, e assim ficamos com uma visão global de todos os países onde já pusemos os pés. 

Eu vi isto algures - não sei bem onde - e comecei a pesquisar. É muito raro comprar coisinhas deste género logo à primeira: corro os sites todos (normalmente o ebay é logo a primeira opção e quase sempre a mais barata), comparo preços e só depois é que tomo a minha decisão. Custa-me dizer isto, mas às vezes até as vejo em sites e lojas online portuguesas, que vendem estas coisas giras (e que as pessoas não sabem onde encontrar) por preços exorbitantes, mas contorno o ciclo e vou diretamente à fonte (ou quase), ficando-me tudo muito mais barato.

Comprei este mapa por pouco mais de cinco euros, aqui. Tem 43cm por 30cm, cabe bem numa moldura caso seja esse o efeito que querem dar, mas vem bem acondicionado num tubinho (estilo pintura) para quem preferir guardar e ir fazendo updates de forma mais fácil (uma vez que, depois de emoldurado, é mais chato andar a tirar e pôr de cada vez que se vai a um sítio novo). É em papel resistente e um pouco lustroso, pelo que não tive qualquer dificuldade em raspar. O efeito final é muito giro e tudo o que eu quero agora é raspar mais e mais e mais - é sinal de que estou a fazer aquilo de que gosto e que tenho inspiração para dar e vender. Para já, o efeito é um bocadinho enganar: apesar de me sentir uma sortuda por, aos 22 anos, ter viajado o que viajei, a verdade é que só o verde da Rússia faz parecer que já corri metade do mundo - o que (para já!) ainda não é bem verdade ;)

 

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17
Mai17

Review da semana #20

The Crown

 

Sou uma hiper entusiasta de todas as famílias reais, mas a inglesa tem, sem dúvida alguma, um lugar especial no meu coração. Adoro a rainha (tenho três mini-estátuas dela...), adoro a Kate, o William, o Harry e as pequenas crianças, claro está. Acompanho com alguma atenção os eventos onde eles aparecem, gosto de ver o protocolo, as vestimentas, os casamentos e essas coisas todas - e por isso era óbvio que ia adorar a série "The Crown", produzida pelo Netflix.

Dizer que é uma série magnifica é dizer pouco. Tudo nela é bom: os atores, os cenários, a banda sonora, a realização... já para não mencionar a fotografia, que é para lá de incrível. Mas, acima de tudo, pela riqueza de detalhes (tanto históricos como visuais). Todos nós podemos ter acesso à história, como é que as coisas se passam, mas isso não tira qualquer magia à série, uma vez que ela está tão bem feita que nos faz sentir tudo aquilo que se vivia à época.

A série tem dez episódios de uma hora e começa no fim do reinado de George VI, passando pela sua morte e consequente início do reinado de Isabel II. Isto envolve, claro está, o casamento de Isabel II com o Duque de Edimburgo, os arrufos com Winston Churchill e os problemas com a Princesa Margaret. No início de cada episódio aparecem alguns flashbacks que, muitas vezes, ajudam a contextualizar o resto do episódio - aparecem as duas princesas ainda pequenas, o não coroado rei Edward VIII (que também entra ativamente na série, sempre em alturas de confronto) entre outros momentos. Para quem não estiver minimamente contextualizado com a história da monarquia inglesa, para além da série ser potencialmente desinteressante, pode ser até um pouco difícil de entender - mas, para os restantes, é um autêntico regalo para os olhos e para a nossa cultura geral. Saber de política mundial (desta época) também pode ajudar a compreender alguns momentos.

Mas o maior elogio que eu posso fazer a esta série é o facto de ela me ter posto a pensar sobre a vida dos reis. Algo que me faça pensar a fundo sobre um assunto merece sempre a minha vénia e, neste caso, fez-me debruçar sobre algo que eu adoro há anos e sobre o qual - agora vejo - não tinha pensado devidamente. Eu, como a grande maioria das pessoas, olha por exemplo para a vida de Kate Middleton como um conto de princesas que se tornou real - nasceu plebeia, conheceu e apaixonou-se por um príncipe, casou-se numa igreja majestosa com um vestido incrivelmente lindo na presença das altas patentes do estado (incluindo a Rainha) e, se tudo correr bem, um dia terá a coroa em cima da cabeça. Parece magnífico, não é? Eu também achava, até ver esta série e perceber que tudo isso deve ser super chato.

Acima de tudo, entendi, primeiro, o quão "ridículo é ser" rainha. Não é fácil explicar isto, mas a série expoe-no demasiado bem: ter empregados para tudo, ter que ostentar uma coroa em cima da cabeça (pensem bem no assunto e imaginem-se a andar com uma coisa pesadíssima na cabeça - e pensar que isso vos dá quase todos os poderes). Em segundo, o quão difícil é executar esse papel - como deve ser difícil ser Papa, por exemplo: é uma responsabilidade demasiado grande, há demasiados deveres quando, na verdade, é só uma pessoa normal que o está executar. Estas pessoas têm de deixar de ser elas próprias para passarem a ser aquele papel; têm de se pôr em segundo lugar (ou muitos mais lugares abaixo), assim como a sua família, para não derrubar nenhum valor das instituições que governam - e na série vê-se muito bem que, por vezes, os valores colidem e há decisões que têm de ser tomadas, por muito que doa a todos os envolvidos.

É difícil explicar algo quando está tão bem feito e demonstra coisas que, de outra forma, é difícil entender. Aqui, pomo-nos nos pés de um rei ou de uma rainha. Percebemos que não é um mar de rosas, que o quem reina passa a ser Rei e deixa praticamente de ser "a Isabel" ou "o Duarte". E as dificuldades que isso traz, tanto a nível pessoal como na relação com os outros - nomeadamente a nossa família. 

A única coisa em que, nesta série, tenho algumas dificuldades é em fazer a ponte da ficção para a realidade - não a nível dos acontecimentos históricos, mas em imaginar (por exemplo) que a Rainha Isabel foi mesmo assim. Acho que nestes episódios, para além de mais bonita, a Rainha é representada de uma forma muito mais simpática e empática do que é na realidade; é lógico que eu nunca a conheci e não era viva nos anos seguintes a ela ser coroada mas, pelo que vejo agora, ela tem um semblante (ainda que ligeiramente simpático) austero e custa-me imagina-la tão querida como ela às vezes é aqui repretratada. Mas enfim, se calhar fiz uma leitura errada da senhora - ou então foram os anos que a tornaram mais amarga o que, tendo em conta tudo aquilo que passou, também não deixa de ser legítimo.

Não posso dizer mais nada. É um must see. Pelo que li, a série foi das mais caras de sempre e terá (felizmente!) uma segunda temporada, que vai dar mais enfoque no Philip do que propriamente na Rainha (o que é uma pena, mas não duvido que será igualmente interessante). Não percam!

 

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16
Mai17

Missão trança 2017

As mulheres normais têm, todos os anos, a missão biquíni. Eu, como já me deixei disso (bater todos os anos no ceguinho sem obter resultados dá nisto), optei por ter uma missão diferente: a da trança - o que, comparada com a do biquíni, é incrivelmente mais fácil, porque o cabelo cresce sozinho sem eu ter de suar as estopinhas ou fazer dieta. 

Então é isto: eu este verão quero ter o cabelo suficiente comprido para conseguir fazer uma trança. Problemas neste plano: 1) tenho pouca paciência para cabelo comprido, o vento atira-mo sempre para a frente da cara, largo imensos cabelos pela casa; 2) não sei fazer tranças a mim própria - ou seja, eu sei a mecânica das tranças (inclusivamente daquelas imbutidas e de peixe), mas tenho dificuldade em as fazer em cabelos "normais" porque as mexas fogem-me das mãos e eu fico toda confusa e já não sei para onde é que elas têm de ir e é todo um caos; toda esta situação piora se for em mim própria, uma vez que não vejo o que estou a fazer, os braços cansam-se e é todo o caos vezes dez. Soluções para estes problemas: 1) aprender a ter paciência e ter sempre o plano em mente; 2) aprender a fazer tranças através de vídeos do Youtube e treinar - muito! -, conseguindo a proeza de não arrancar o meu cabelo todo. (E já falei em paciência?).

Já há muitos anos que não tenho o cabelo suficientemente grande para fazer uma trança. Na verdade, quando o tinha, nunca fazia tranças: nunca tive jeito para fazer penteados e aqui em casa ninguém é propriamente prendado nesse sentido. Mas a verdade é que, mesmo tendo o cabelo curto, eu passo a vida com ele apanhado: não gosto de trabalhar ou escrever com o cabelo a fazer-me cócegas na cara ou a entrar-me para os olhos, nunca como sem ser com o cabelo apanhado e na rua, por causa do vento, também o prendo com frequência. E, como são sempre coisas feitas à pressa e o jeito não é muito, fico sempre com um ar um tanto ao quanto descuidado (e, depois de tirar o puxo, com o cabelo marcado e feio).

No verão, quando for viajar, gostava de ter uma solução mais permanente, prática e igualmente bonita - e acho que a trança é uma boa conjugação de tudo isto. Foi o que fiz, por exemplo, quando fui ao Gerês (na foto) - uma amiga minha cheia de jeito para cabelos fez-me uma trança embutida com o não muito cabelo que eu tinha e aquilo era um autêntico descanso para mim (e ainda ficava bem nas fotos!). 

Ando numa fase em que não sei muito bem o que fazer ao cabelo e, por isso, ter um objetivo ajuda-me a não desesperar. Das últimas vezes que o tenho usado muito curto não tenho adorado ver-me (embora seja indiscutível que é muito mais prático e fácil de arranjar), mas também não tenho paciência para o usar longo (para além de, hoje em dia, já nem sequer gostar de cabelos muito compridos) - estou numa situação um bocadinho complicada, pelo que a melhor que posso fazer é esperar que os meus pensamentos se reorganizarem. Acho que vou deixar isso para Setembro - até lá, espero que ele cresça o suficiente para eu conseguir fazer uma trança a mim mesma. Depois disso, zás! Para além de tudo mais, um corte de cabelo sabe sempre melhor quanto maior for a diferença de um corte para o outro :)

 

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 P.S. Não tenho dúvidas de que sou capaz de deixar o cabelo crescer. Apoquenta-me apenas a parte de fazer a trança - receio que esta missão corra tão mal como todas as missões biquíni que fiz em toda a minha vida...

15
Mai17

Se calhar, ter as perguntas certas não é tudo

Eu tenho um medo terrível de falhar nas coisas que faço bem - e eu acho que faço pouca coisa bem. O campo "trabalho" sempre foi o meu porto seguro - mesmo quando estudava já era assim: tinha boas notas, os professores gostavam de mim, sentia que correspondia bem às minhas expectativas e às responsabilidades e portanto, mesmo sabendo que era uma treta em tantos outros campos, aquele cantinho da minha vida reconfortava-me. Quando comecei trabalhar tive a mesma sensação - acho que sempre fiz bem o meu trabalho, cumprindo com tudo o que me propus e me propuseram e isso concretizava-me muito, ao mesmo tempo que me descansava: ufa, eu era boa em alguma coisa!

Inicialmente, o meu trabalho no jornal tinha uma componente informática muito grande - e eu estava a delirar por estar a trabalhar em informática, a escrever aqui e ali e a lidar com têxtil. Era a receita perfeita para todas as áreas que eu amo. Mas ao longo dos meses acabei por ir escrevendo mais, e mais, e mais. Por um lado é uma coisa boa: é a consagração daquilo que eu acho fazer de melhor, que é escrever; por outro, implica um jornalismo "puro", que eu acho que não faço bem e por isso sinto-me indubitavelmente mais frágil. A quantidade de coisas que tenho aprendido nos últimos meses é imensurável mas uma das coisas que me dá mais gozo é ver como se desenrola uma entrevista ou uma conversa; sempre que ouço ou acompanho os meus colegas numa entrevista, fico quase hipnotizada pela capacidade que eles têm de "arrancar" informações às pessoas, de faze-las dizer certas coisas com perguntas que por vezes não têm nada que ver, de fazer rolar uma conversa normal, descontraída, mas recheada de conteúdo informativo - e ainda assim ser uma troca de diálogos que se ouve com gosto. E também é nesses momentos, em que os vejo fazer essa arte, que percebo (ou acho) que de facto não fui feita para fazer perguntas. Se calhar fui feita para escrever respostas, pensamentos, críticas - mas perguntar não parece ser a minha praia (e isso, confesso, entristece-me).

De qualquer das formas, continuo a tentar - até porque tenho trabalho para fazer e, apesar das perguntas não estarem na ponta da língua, eu esforço-me sempre por fazer o melhor possível. Já percebi que me custa mais falar ao telefone do que pessoalmente, por exemplo; o primeiro contacto com outras pessoas é sempre um drama para mim, mas depois (em muitos casos) acaba por ser gratificante - e tenho passeado por aí, conhecendo fábricas e pessoas que, sinceramente, me acrescentam e me aquecem a alma. Olho para trás e percebo imediatamente que aquilo que vi e ouvi me acrescentou algo, que aprendi alguma coisa e isso é a melhor sensação que se pode ter.

Hoje, por exemplo, fui falar com uma estilista. Como sempre ia um bocadinho apreensiva, mas positiva de que ia correr bem (por aquilo que já conhecia dela). Normalmente, para o artigo que ia lá escrever, despacho uma conversa em quinze minutos, vinte no máximo - e hoje a conversa fluiu tão bem que demorou mais de uma hora. Antes do alinhamento de perguntas que tinha planeado acabei por falar um bocadinho sobre o jornal, os nossos planos para o futuro e até sobre mim. No meio daquilo tudo, e enquanto lhe dizia o que queríamos fazer, os nossos novos projetos e até algumas reportagens que eu tinha curiosidade em fazer, ela diz-me - não em forma de pergunta, mas sim numa afirmação: "nota-se mesmo que gosta do que faz". E eu, nesse momento, respirei de alívio e fiquei tão feliz. Foi a primeira vez que alguém me disse isso - e eu, naquele momento, estava mesmo a adorar o que estava a fazer.

Se calhar, ter língua de perguntador não é tudo. Se calhar, uma pinga de antissociabilidade, a falta de à vontade para falar com pessoas e um não-amor pelo jornalismo conseguem ser ultrapassados por algo maior. Se calhar a paixão que tenho por este mundo basta. 

14
Mai17

Calvin

Chegou há três semanas e já triplicou de peso - se as coisas continuarem neste ritmo... estamos mal. É um bocadinho rebelde, gosta de roer coisas (ai vida...) e de dormir em cima da minha roupa, que arranca com vontade do estendal. Adora adormecer no colo - embora já esteja no limite do tamanho para caber nos meus braços.

Não estou a perceber como é que ele está a crescer tão rápido e tão depressa (se parar de lhe dar ração ele ficará assim pequenino para sempre? Sim? Por favor?!). Ando a aproveitar estes tempos de "pequenino" ao máximo porque sei que não vão durar muito tempo - ele, ao contrário do tamanho do meu colo, cresce de dia para dia. Adormeço-o nos meus braços, deixo-o deitar-se nas minhas pernas enquanto me sento à chinês e, acima de tudo, observo-o muito - assim como a sua relação maravilhosa com a Molly.

Estes dois são a alegria dos meus dias - e o meu instagram anda spammado com tanto cão... mas olhem, é a vida! Deixo em baixo mais algumas fotos dos meus dois meninos - se quiserem a ver as fotos do primeiro dia e comparar o tamanho do monstrinho, estão à vontade.

 

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14
Mai17

Que noite feliz!

Não sou pessoa de acreditar. Sou pessimista, não sou nada patriota, vejo defeitos em tudo. Mas amo música e acho que, a par da escrita, é a coisa na vida que mais me conforta e mais me acompanha em todos os momentos. Sou uma entusiasta desta nova leva da música portuguesa e, independentemente de tudo o que disse no início deste texto, acreditei que o Salvador ia ganhar desde aqueles cinco segundos de música que ouvi na promo do nosso Festival da Canção.

Falei da música no dia seguinte ao Festival, tornei a fazer um post sobre ela aqui há dias e agora é impossível não o fazer outra vez, porque - acima de tudo - esta é uma vitória tão, tão justa! E não é justa porque Portugal andava a penar há cinquenta e tal anos - andávamos assim porque queríamos, porque tínhamos canções de merda quando cá fazemos coisas incríveis. É justa porque a música é fantástica, a letra é tocante - e tão nua, tão crua, tão verdadeira que pode doer -, porque o intérprete é autêntico e doesn't give a shit e porque reflete aquilo que há tantos anos se faz bem em Portugal. Nós não somos o "quero ser tua" ou os "Homens da Luta". Quem enche trinta coliseus são cantores nesta mesma linha de música - pura, simples, calma e linda - e não cantores de meia tigela que têm de ir vestidos com transparências para ganhar meia-dúzia de votos dos países vizinhos. Nós somos isto. E nós, quando somos nós, limpamos com tudo.

É difícil explicar (até porque eu nunca vi a Eurovisão), mas vibrei com isto como - se calhar - não vibrei com o Euro que ganhámos o ano passado. Implorei ao meu irmão emigrante para votar e festejei cada vez que tínhamos 12 pontos como se o Salvador fosse o meu clube do coração que estivesse a disputar pénaltis. Tenho uma paixão assolapada por música em geral, por música portuguesa em particular e pelos Sobral ao pormenor - a Luísa faz parte da minha playlist há vários anos e foi com ela, na Casa da Música, que ouvi o concerto mais simples e intimista da minha vida - e estou imensamente feliz por isto. Não por termos ganho - mas finalmente por mostrarmos o que somos, o que temos e por finalmente nos darem valor. E por acreditarmos que somos capazes e nos deixarmos daquele complexo de inferioridade que há séculos nos assola em vários campos. Por investirmos. E por termos conseguido.

Deito-me com o coração a transbordar de alegria e isso não tem pagamento possível. Obrigada Salvador. Vemo-nos na Casa da Música. Quero tanto bater-te palmas!

 

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11
Mai17

5 dicas para escrever em fitas universitárias (e porquê que é importante escreve-las)

Recebi ontem uma fita universitária para escrever e isso trouxe-me - a par das muitas fotos que vi de amigos e colegas meus no cortejo académico do Porto - algumas memórias e pensamentos à tona. Fui buscar a minha pasta, que recheei com as fitas que recebi, e li alguns trechos que me aqueceram o coração. E lembrei-me das várias fitas que escrevi o ano passado - nunca deixei nenhuma por escrever - e de algumas que ficaram por me entregar. E acho que posso dizer que uma fita não é só uma fita.

Só entreguei fitas a quem achava que devia, que era importante para mim ou no meu percurso universitário. Não entreguei muitas, porque toda a gente sabe que pessoas não é coisa que eu tenha muito na minha vida: mas entre família (grande) e amigos, acho que já foi uma quantia simpática. Já no que diz respeito a escrever, é lógico que eu sou suspeita para falar: faço-o com facilidade, tenho traquejo, mas vejo isto como uma oportunidade de dizer coisas boas a pessoas que, para mim, importam (se me entregaram fitas, é porque importam).

Não devia ser assim, mas muitos de nós tem imensa dificuldade em expressar sentimentos no dia-a-dia, cara a cara - eu tenho, e não é pouca! - e, escrevendo, as coisas saem com muito mais facilidade; pensar que não temos de estar lá quando o outros lerem as nossas palavras, as nossas verdades, as coisas que no dia-a-dia ficam por dizer, que às vezes ambos sabem mas que é bom que fiquem registados em momentos especiais como estes. É uma oportunidade para demonstrar afeto, amor, amizade ou o que for. E, acima de tudo, dedicação. Porque já todos nos vimos com uma fita à frente e pensamos "o que raio vou eu escrever?". Ultrapassar essa barreira nem sempre é fácil: não é fácil para quem não escreve com frequência, não é fácil para quem não se sente inspirado, não é fácil para quem não está a habituado a demonstrar aos outros aquilo que sente, não é fácil porque, apesar de tudo, ainda é uma grande responsabilidade estar a escrever na fita de alguém e queremos fazer o melhor possível.

Por tudo isto, demora tempo - e tempo é coisa que muitas vezes não temos (ou, para estas coisas, não queremos ter) -, requer paciência e alguma perseverança. E, acima de tudo, respeito pelo outro a quem estamos a escrever. Se nos mandaram a fita, foi por alguma razão. E não a escrever, a meu ver, é tão mau como desmarcar consecutivamente um jantar, um encontro ou um café; como não atender as chamadas quando vemos quem é do outro lado da linha. É uma desconsideração por alguém que, à partida, gosta de nós o suficiente para querer partilhar um momento importante da sua vida connosco.

Por isso, pensem duas vezes antes de deixar essas fitas em cima da secretária - e depois dentro da gaveta, para onde as atiram para não serem corroídos pelos remorsos. Pensem e escrevam. Em vez de um episódio de uma série que só vêem para queimar tempo, em vez de fazerem scroll infinito no facebook, em vez de pintarem as unhas: escrevam e proporcionem a alguém que gostam um momento feliz. Para os que estão em apuros, com o tempo a queimar-lhes os dedos, ou para quem está em remorsos profundos depois do que aqui escrevi, deixo cinco dicas que poderão ajudar-vos nesta tarefa hercúlea que é escrever numa fitinha. Ora vamos lá:

 

  1. Tudo tem um princípio, meio e fim - e as fitas e as relações não são excepção (embora neste caso, vamos esquecer a parte do "fim" nas relações, não vale a pena pensar nisso). Comecem pelo princípio - como é que começou a relação com essa pessoa? Simpatizaram logo ou foi precisamente o contrário? Quando se conheceram? São amigos recentes e que esperam um futuro brilhante ou já se conhecem há uma vida e já perdem a contagem dos anos? Comecem a vossa fita tal como a vossa relação - pelo início.

  2. Contem uma história engraçada, é sempre uma boa forma de fazer com que a leitura seja ligeira e que na cabeça de quem escreve e de quem lê se repitam bons momentos. Façam referência a ocasiões que passaram juntos, de peripécias que na altura foram dramáticas e que agora têm imensa piada. Se a pessoa fitada se começar a rir ou a sorrir para a fita, é porque fizeram um bom trabalho. E nisto, já escreveram metade.

  3. Elogiem. Como disse, esta é uma óptima forma (e desculpa) para dizer às pessoas de que gostamos delas sem ser demasiado constrangedor ou lamechas. As fitas servem exatamente para celebrar uma pessoa, por isso celebrem as suas qualidades - quanto aos defeitos, podem até brincar com eles, mas não sejam demasiado chatos nem dêem demasiada ênfase ao assunto. 

  4. Dêem os parabéns ao fitado pelos feitos conquistados (tirar um curso, apesar de tudo, é cansativo) e façam votos para o futuro (de preferência em que os dois intervenientes façam parte). Lembrem as dificuldades, as pedras no caminho mas, acima de tudo, enfatizem o facto de todas as barreiras terem sido ultrapassadas. Desejem coisas (uma casa cheia de filhos? um casamento milionário? uma viagem para dar a volta ao mundo? voluntariado em África?), brinquem um pouco, mas também não exagerem - afinal de contas, isto é uma coisa para a vida.

  5. Se escrever não é mesmo a vossa cena, ao menos desenhem e assinem. Tenham só em conta que desenhar em fitas ainda é capaz de ser mais difícil que escrever, por isso pensem bem no assunto. Quem vos avisa, vossa amiga é. 

(E agora estão à espera de quê?)

 

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