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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

28
Nov16

O sonho que era passado e virou futuro

A têxtil é quase uma mãe para mim. Viu-me crescer, fez-me crescer, ajudou-me a crescer. Desde que me conheço que percorria aqueles corredores compridos e alcatifados e fazia corridas imaginárias contra alguém, enquanto me sentava numa cadeira com rodinhas e deslizava por lá fora a uma velocidade que me parecia alucinante. Passeava-me por aquele piso verde sujo, por entre a fumarada típica de uma fábrica têxtil e de todo aquele barulho muitas vezes ensurdecedor que se fazia sentir nos armazéns e ia acenando aos funcionários que sabia pelo nome. Clicava nos botões das máquinas de embalar, arquivava as faturas por ordem alfabética, tingia as minhas missangas de madeira nos laboratórios, cortava as minhas amostras para fazer sacas e lanchava no refeitório um daqueles pastéis cheios de açúcar e porcarias, que pagava com os trocos que levava na minha carteirinha.

Nessa altura a crise começava a invadir o setor mas eu não o sentia: continuava feliz e contente naqueles corredores, fazendo a minha vidinha atarefada, por entre os tempos da escola e dos trabalhos de casa. Ouvia as discussões, as preocupações, os dramas, as reclamações, mas aquele universo fumarento nunca deixou de ser o meu paraíso. Quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande, e embora tenha passado por curtas (e loucas) fases onde a minha resposta era "professora de música" e "cabeleireira", dizia sempre o mesmo: quero vir para as fábricas. Até que um dia cresci e, por entre os tempos da escola e dos trabalhos de casa, já não dava para encaixar a minha pequenina vida de "industrial".

E crescer implicou perceber as coisas: ouvir todos os dias na televisão que empresas do ramo que me viu crescer fechavam, ver milhares de pessoas no olho da rua porque o trabalho fugiu para o outro lado do mundo, escutar as reflexões amarguradas do meu pai à mesa enquanto refletia naquilo que sempre foi a vida dele. E, no fim, ver deixar ir esse edifício que me viu crescer: esses corredores, os escritórios, o laboratório. Porque também nós não saímos impunes do fatalismo da têxtil. Eu, tal como a maior parte do país, fiz o funeral à área que me viu crescer e pousei o sonho na prateleira - para me poupar a dores, mais perdas e a um futuro sem futuro. Mas nunca deixei de sonhar.

Hoje a têxtil renasce aos pouquinhos, os números levantam de trimestre a trimestre. Eu (ainda) me encontro do outro lado da barricada: não a estou fazer crescer mas estou a fazer saber que ela está a crescer. Nos últimos meses tenho falado todos os dias com pessoas do setor, tenho dado e lido notícias sobre o que se melhor se faz em Portugal - e aquela flor que nasceu comigo e que tinha morrido há uns anos, embora eu a continuasse a regar, agora renasce. 

Há dias visitei uma fábrica que não conhecia e tenho a plena noção de que os meus olhos não olham para tudo aquilo como a maioria dos outros olhos. Naqueles carreirinhos de costureiras, que das suas mãos fazem nascer camisolas, casacos, vestidos e calças, eu só conseguia ver beleza. Em todo este processo que transforma pequenos tufinhos de algodão em fio, e do fio malha, e da malha roupa... eu só consigo ver magia.

Não sei explicar isto. Suspeito que seja o que um físico sente em relação à teoria da relatividade, que um pianista sente quando ouve Bach, que um arqueologista sente quando descobre um túmulo novo, que um investigador sente quando vê ao microscópio aquela partícula ínfima que não estava lá antes de ele pôr na plaquinha uma mistura qualquer. É um fascínio que cada um sente na sua área em específico mas que, aos outros, parece algo completamente irrelevante e incompreensível. Talvez seja um amor específico; o destino, o meu destino. Ou um sonho. Mas não há dúvidas que, depois de tudo isto, não há outro sítio onde eu deva estar. E aquilo que há uns anos achava ser passado, hoje tenho quase a certeza que vai ser o meu futuro. Estou em casa.

 

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27
Nov16

Índia na minha mira

Acho que só este ano, depois do cruzeiro, é que percebi o quão gratificante é que para mim é viajar. 2016 foi um ano de crescimento brutal, em todos os sentidos, e sinto que aqueles oito dias no Báltico fizeram parte desta evolução, tão e simplesmente porque me apercebi de como tudo aquilo me fazia feliz. 2016 foi, de facto, o ano em que aprendi a ser feliz - uma aprendizagem que veio já desde o ano anterior mas que estou segura de que se consolidou até hoje.

Aliado às viagens tenho a fotografia, que ganha um peso cada vez maior na minha vida, ainda que bem devagarinho e sem se dar muito conta. Há dias via as minhas fotos de Istambul, onde fui há quatro anos, e pensei na quantidade de coisas lindas que vi e das "photo opportunities" que desperdicei. As fotografias que tenho dessa altura são tão más, tão más que dá vontade de chorar. E eu não quero, nunca mais!, que tal aconteça. Viajo para conhecer, viajo para ser feliz, mas hoje em dia também viajo para captar - e partilhar - as melhores imagens possíveis. É com muito orgulho que tenho algumas, tiradas no cruzeiro, que adoro de paixão e que considero francamente boas (se calhar, daqui a uns anos, vou detesta-las como detesto as da Turquia - a evolução tem destas coisas).

Neste momento todo o dinheiro que poupo é para viajar. Para acampar ou ficar num hotel de 5 estrelas, para o Gerês ou para a Austrália, para ir de avião ou barco, para andar com roupa chique ou biquini. Viajar com uma câmara na mão é tudo o que quero - e eu sei que tenho muito tempo para o fazer, mas sinto que o mundo é demasiado grande para eu esperar. Há muita coisa que está na minha agenda, algumas bem mais fáceis e acessíveis que outras, todas por razões diferentes. Uma delas, que tem vindo a ganhar cada vez mais dimensão, é ir à Índia. 

Isto é curioso porque, há dois anos para cá, eu não queria pôr um pé naquela terra. Ainda hoje não me atraem todas aquelas razões espirituais e o embate cultural - aliás, é mesmo das coisas que me afugenta - mas não estou a conseguir resistir àquelas cores, àqueles sítios, àquelas pessoas. Nunca iria sozinha e acho que dificilmente faria esta viagem sem um mentor, mas desde que fiz o curso de fotografia e conheci o meu professor, sinto que surgiu a oportunidade perfeita. Ele faz viagens guiadas, com um grande enfoque na fotografia, e isto tem tudo para ser a viagem perfeita. A viagem de uma vida.

Custa-me deixar passar as oportunidades, sempre com medo de confiar na vida e de deixar para o ano seguinte, nunca sabendo se tal vai de facto acontecer. Deixei este ano e, infelizmente, em 2017 também deverá ser uma oportunidade que me vai passar por entre os dedos. Primeiro porque são duas semanas, sendo que agora sou uma adulta e tenho dias de férias contados e segundo porque o pé de meia ainda não está assim tão recheado para me atirar de cabeça à "terra de Vasco da Gama".

Vou contentar-me com projetos mais pequenos e, esperemos, com um bombom no próximo verão. Mas a Índia não está esquecida, até porque a minha máquina fotográfica não me deixa esquecer. Preciso de captar aquela cor. E não demorará assim tanto como isso.

25
Nov16

Querido Pai Natal...

Um mês para o Natal, whoooow! Adoro esta época do ano, já sabem como é especial para mim. Já tenho a minha árvore pronta a decorar, assim como 90% das prendas compradas e estou ansiosa por ter aquele cheirinho a canela espalhado pela sala e aquele nervoso miudinho de ter casa cheia, assim como as caras dos meus amigos e irmãos quando abrem as prendas. 

Vou poupar-vos ao paleio que tenho todos os anos sobre a troca de presentes - já sabem que adoro trocar prendas e por isso é que já quase há um mês que ando a tratar de comprar tudo para a minha família, porque são coisas que vêm dos quatro cantos do mundo. Adoro pensar em coisas especiais e giras para cada um deles, e tal exige tempo. Mas sei que nem todas as pessoas são assim - pelo contrário, há sempre aquela tendência de deixar tudo para a última da hora. Para além disso há aquela ideia instalada em relação a mim de que sou super difícil para arranjar prendas. Eu não acho, até penso que sou fácil de agradar e nada esquisita neste tipo de coisas. O simbolismo, para mim, é o mais importante - e não me lembro de não gostar de uma prenda de Natal que me tenham dado.

Ainda assim, e como isto já é um clássico, já todos me andam a perguntar quando é que lanço a minha lista de presentes de Natal. Eu sou uma sortuda e, hoje digo-o, sou feliz. Não preciso de nada. Mas gosto de receber prendas e de ser surpreendida, porque sou humana e no fundo todos gostamos de ser mimados. Como tal, deixo uma lista de coisas que gostava de receber. Se não tiverem tempo, dinheiro ou pachorra, também aceito meias - desde que sejam fofas e quentes, podem ficar descansados que não me vou insurgir contra esse clássico de Natal. E uso-as de certezinha.

 

Ah! Lanço isto na Black Friday porque há, de facto, descontos de bradar aos céus. Se quiserem aproveitar, muitas das lojas que menciono abaixo estão com preços super apetecíveis e simpáticos. Pus asterisco nas lojas que estão com promoções nestes produtos.

 

PrendasNatal2017.jpg

 

 

 

1. Livro "O Labirinto dos Espíritos", do Carlos Ruiz Záfon. Deve ser um dos bestsellers desta época, por isso não é difícil encontrar. Também quero o "Eragon", que ando para ler a séculos - se quiserem dar uma ajudinha oferecendo-me, ficarei feliz.

2. As sapatilhas da HushPuppies de que falei aqui. O tempo passa e elas continua alojadinhas no meu coração.

3. *Brincos com pérolas. Estes são da Stone by Stone e são diferentes, mais descontraídos (aqui), mas também aceito aquela pérola clássica, para completar os looks mais sérios que agora uso com mais frequência.

4. *Anéis de prata da Stone by Stone. São a minha perdição, uso-os a todos, não marcam os dedos e são super em conta. Estes dois andam debaixo do meu olho há séculos e quero muito tê-los nos dedos. O meu tamanho é normalmente o mais pequeno de todos, tenho o dedo fininho. Aqui e aqui.

5. Roupa de desporto, em particular tops. Ando a precisar de motivação para ir ao ginásio e roupa nova e gira ajuda sempre. Esta é da sport-zone.

6. *Estojo. Ando sempre a trocar o estojo de uma mala para outra, por isso tenho a tendência para me esquecer. Queria um mais giro e compostinho e este da Bimba & Lola afigura-se uma boa opção. No entanto, pode ser outro qualquer - como já disse, não sou esquisita.

7. *Uma mala mais pequenina, não completamente formal e não completamente casual. Também não tem de ser da Bimba Y Lola, esta é só uma ideia. Aqui.

8. Por fim, esta lightbox que eu ando a namorar desde que a vi em Estocolmo. Já a vi em muitos sítios online à venda (como aqui), mas em loja só vi na Área. 

 

Fora da lista: livros, livros, livros (posso sempre trocar, respirem de alívio), pijamas, robes e mantas (preciso de uma gira para o escritório). Acho que está tudo - e já dei aqui uma ajuda valente. Queridos manos, não têm de quê 

23
Nov16

Review da semana 12#

Nail Corrector Pen

 

Eu sou tão boa a pintar as unhas como a programar em javascript. Eu sei que nunca que viram a programar em javascript (agradeçam aos deuses!), mas eu dou-vos uma ideia: sou péssima. Por isso já estão a perceber o meu nível de perícia no que diz respeito à manicura.

Embora tente ir arranjar as mãos uma vez a cada dois meses (ou coisa assim parecida) para tirar peles e essas coisas todas, todas as outras vezes sou eu que pinto as unhas em casa. Podia não pintar, é um facto, mas a probabilidade de roer as ditas quando estão "limpas" é muito maior e este é um hábito que eu tenho feito um esforço enorme para deixar. Posto isto, e embora o meu jeito seja quase nulo, ponho em prática todos os meus dotes artísticos e muito amor de cada vez que saco dos vernizes.

É claro que, apesar dos meus esforços heroicos, fico sempre com cerca de meio centímetro pintado à volta de cada unha. No fundo, pinto quase tanto da unha como do dedo, mas vamos fingir que é tudo uma ilusão de óptica. Por isso, para dar os retoques "finais", encontrei a ferramenta ideal. No início molho um cotonete na acetona para tirar o excesso (pouquito, como imaginam) mas depois, nas zonas mais próximas da unha, utilizo o Nail Corrector Pen da Kiko. No fundo, tal como o nome diz, não passa de uma "caneta" de filtro, que lá dentro tem um removedor de verniz. Para além da ponta que já vem enfiada, a caneta tem mais três de substituição - é claro que, nas minhas mãos, para isto durar devia trazer pelo menos meia dúzia, mas tenho de me ajeitar com as quatro. Eu pinto tão mal as unhas que, logo na primeira utilização, sujo aquilo tudo e a ponta já fica quase imprópria para consumo, mas deixando secar, ainda dá para umas utilizações valentes. Acho que, para pessoas "normais", uma só caneta já deve dar para uns bons tempos.

E pronto, é este o meu "segredo" para unhas minimamente arranjadas e apresentáveis. É claro que não há milagres, nunca ficam perfeitas, mas pelo menos dá-se o jeitinho. A caneta custa 5,90 euros e está à venda nas lojas Kiko.

 

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22
Nov16

Momentos de mesa de cabeceira

O momento em que em deito é, normalmente, um momento de reflexão do meu dia. Passo fases em que estou extremamente cansada e caio direta para um sono profundo, mas agora estou outra vez numa época em que, quando me deito, demoro um bocadinho a adormecer e penso em tudo um pouco. Como correu o meu dia, o que devia ter feito e não fiz, o que devia ter respondido naquela determinada discussão, o que vou comer no dia seguinte (sim, eu adoro comer)... de tudo um pouco. É aqui neste limbo entre o sono e o acordada que também escrevo mentalmente muitos dos meus textos e que tenho algumas ideias para temas para o blog.

Confesso que, antigamente, isto de estar na cama a pensar na vida me acontecia mais vezes, agora nem tanto. Ainda assim, quando acontece, tenho em muitas ocasiões a capacidade de me lembrar das coisas no dia seguinte. No entanto, quando acho que o meu texto imaginário está a fluir particularmente bem, lá tenho eu que sair daquele estado meio hipnótico, ligar a luz, abrir a cabeceira, pegar em papel e caneta e começar a escrever, para não ter o risco de ficar sem aquela tirada brilhante.

A minha irmã, sabendo disso, ofereceu-me há uns tempos um bloco de notas intitulado "Momentos de mesa de cabeceira", com muitas páginas com desenhos super giros e fofos, com espaço para escrevermos e desenharmos o que nos vai na alma antes de adormecermos ou logo depois de acordarmos. Só há um par de dias é que lhe dei uso, depois de sentir mesmo a necessidade de escrever um pedaço de texto que tinha na cabeça, mas não deixo de achar a ideia absolutamente genial. Acredito que não seja só eu que tenho boas ideias naquela fase pré-sono, por isso este livrinho preenche de facto uma necessidade, ainda que da forma mais querida que já vi (podia ser só um bloco branco e feio, mas é muito mais especial que isso).

Quando no outro dia o abri para escrever, lembrei-me que podia ser giro partilhar convosco, uma vez que muitas das pessoas que me lêem também escrevem. E já que o Natal está aí à porta, talvez seja um ideia gira. A minha irmã comprou-mo numa loja na Rua de Cedofeita mas, segundo as minhas pesquisas, penso que também existe na Fnac.

 

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21
Nov16

Eu, o frio e a minha luta anual com as roupas de inverno

Eu sei que esta conversa já é velha e perdoem-me se for repetitiva... mas é que todos os Invernos eu dou de caras com peças ridículas e confesso que fico ofendida por as outras pessoas - comuns mortais de pele, osso e músculo como eu - não terem o frio que eu tenho.

Andava eu a passear na loja online da H&M e os meus olhos bateram nesta camisola (ver foto) que, por sinal, é super gira. Eu adoro camisolas com os ombros à mostra, tenho algumas em modo verão - onde de facto está calor para se ter os ombros nus! - mas, no Inverno...? Então nós temos frio nos braços, na barriga, no peito e os ombros andam ao léu? É que ainda por cima aquela zona do pescoço é das mais sensíveis e qualquer corrente de ar que ali passe é sempre equivalente a um frio polar. 

Eu sei, eu sei, eu sei... quem está na moda não tem frio. Mas eu continuo a não perceber porquê que se vendem tantas t-shirts no inverno como no verão, como é que as calças e muitas malhas não são mais quentes, como é que muita gente só anda aí com uma camada de roupa que muitas vezes não passa de uma camisa fininha e horrorosamente fria. As lojas, da estação quente para a estação fria, só ficam mais guarnecidas de casacos e de algumas - poucas - malhas quentes; de resto, o espólio mantém-se o mesmo, o que me choca um bocadinho.

Eu não entendo, mas juro que gostava - chego a esta época do ano e ando sempre à cata dos camisolões mais quentes e fofos, só quase para ficar com os olhos e o nariz de fora para não enregelar. Todos os anos travo esta luta contra o frio e contra todas estas lojas que ainda vivem num espírito quente (mesmo que esteja a nevar lá fora!) - e todos os anos perco.

Por falar nisso, até já levei uma mantinha para o trabalho, que no outro dia estava prestes a entrar em hipotermia. Imaginem-me no computador, no escritório, com uma mantinha pelas costas. Eu sei, sou uma velhota em espírito. E ainda querem que use camisolas descascadas como esta?!

 

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20
Nov16

Sim, eu gosto da Cristina Ferreira

Não percebo o ódio crónico que muitas pessoas têm pela Cristina Ferreira. Se antes argumentavam dizendo que era "uma peixeira" ou tinha uma "voz esganiçada", hoje ficam aparvalhados com o seu sucesso e isso, só por si, já é uma boa razão para não gostarem dela.

Eu cá digo-vos uma coisa: eu admiro-a profundamente e olho para ela como uma inspiração. Ela é a materialização de um dos valores principais da minha vida: o trabalho. É a prova de que, trabalhando, se consegue atingir tudo, mesmo apanhando pedras pelo caminho - que as há, em qualquer dos trilhos que escolhamos para as nossas vidas. 

E isto não quer dizer que a adore, que veja o Você na TV, que leia o seu blog, que goste dos looks dela, que compre a revista. Pelo contrário: não gosto muitas vezes da roupa que escolhe, a veia histérica dela irrita-me um bocadinho, a revista que gere e dá o nome tem sempre uma componente sexual implícita que não me chama a atenção. Mas isso não quer dizer que não reconheça o trabalho árduo que ela tem e o do percurso magnífico que tem traçado nos últimos anos, como nunca nenhuma figura pública tinha feito em Portugal. 

Acho-a uma mulher inteligente, admirável, verdadeira, genuína e com olho para o negócio. E para além de ter conseguido tudo o que temos visto, há ainda outros pormenores interessantes que não são tão focados mas igualmente importantes. A forma exímia como gere a sua vida privada, por exemplo - nunca lhe vimos a mãe, o pai, o filho, a casa ou o local onde vive. Para alguém que tem os holofotes sempre em cima de si, isto é algo absolutamente heroico e de louvar. E eu percebo. Acho que quem tem sempre pessoas a olhar para si deve mesmo precisar de ter um refúgio onde não pairem olhos desconhecidos.

A gestão que ela tem feito de tudo isto, a forma como vai libertando novidades consecutivas, é por um lado inteligente e por outro arriscado. Cheguei a um ponto em que já não a podia ver à frente, ela era quase omnipresente: nas revistas, nos livros, na televisão, nos anúncios, na rádio, nos blogs, no facebook, no instagram. Achei que esta presença tão forte iria acabar por enjoar o público, tal como me enjoou a mim. Aparentemente, enganei-me. Ela continua aí, de vento em popa, a lançar coisas sempre com o fator "novidade" e "inusitado" associados. E, perante as evidências, só tenho de me render e aplaudir.

Ontem ela lançou o seu livro aqui no Porto, cidade que bem sabe receber. Mais um golpe inteligente. É claro que, tendo em conta todo o secretismo em que ela envolveu a sua vida pessoal, qualquer pessoa que simpatize com ela tem curiosidade (ou cusquice) e esperança de saber um pouco mais das suas raízes e da sua esfera privada. Eu confesso que folheei o livro no dia em que ele foi para as bancas e pareceu-me ser um simples livro de crónicas ou memórias, com uma escrita que aparenta ser mesmo ser dela (comparada com a do seu blog), que não é de todo má.

Eu não fui ao lançamento, que não sou dessas coisas e enchentes é coisa que me aflige, mas fica aqui descrita a minha admiração pública por esta miúda que conquistou Portugal. Não sei se vou ler o livro mas posso garantir que não tenho vergonha se o fizer, pois encaro-o como um conjunto de histórias de alguém que admiro e que é uma inspiração para alcançar sempre mais.

18
Nov16

A escrita é como um divã do psiquiatra

Desde que me conheço que sou introvertida, fechada e que tenho muita dificuldade em falar com os outros. Tenho vindo a melhorar, principalmente em conversas de circunstância, mas é-me muito complicado deixar que entrem na minha esfera privada, partilhando pensamentos mais profundos ou - o pior de tudo - sentimentos de todos os géneros.

Durante muito tempo guardei tudo para dentro de mim, qual panela de pressão. Acho que não explodia, mas como havia uma ebulição constante, não era feliz. Considero que não tive uma adolescência difícil (e muito menos uma infância infeliz!), mas carrego muitos problemas dessas fases da minha vida - houve momentos e situações que me marcaram profundamente, que me mudaram enquanto pessoa e que potenciaram aquelas características de que falei acima. Principalmente a nível social; acho que todos os problemas que tenho de interação com outros vieram desses primeiros anos de vida.

Apesar de ter melhorado a muitos níveis e de já conseguir partilhar algumas coisas com pessoas próximas, há muito que fica por dizer. Não me conhecem e, como escrevo aqui todos os dias, até posso parecer uma tagarela - mas acho que, a não ser em dias especialmente iluminados ou quando há muito para dizer em pouco tempo, me posso considerar uma pessoa caladinha. Mas é mesmo aqui, neste blog, que afogo as minhas mágoas e deito tudo cá para fora. Quer dizer, quase tudo. Há coisas que o meu filtro interno não deixa nem nunca deixará passar, mas tenho a noção de que passei a ser muito mais "leve" a partir do momento em que comecei a escrever.

Evito falar sobre assuntos muito sérios e pesados - e, acreditem, há "issues" que tenho que se espelham em coisas bem negras. No entanto, dou por mim a desdramatiza-los em posts normais, em tiradas que às vezes até podem passar ao lado dos comuns dos mortais. São frases que vêm diretamente do meu âmago, lá bem do fundinho do meu ser e que representam assuntos muitas vezes guardados a sete chaves, para não haver hipóteses de me assombrarem por mais tempo. Ontem, por exemplo, escrevi:

"Sei que tudo isto remonta a muitos problemas que tenho e tive: eu sempre fui um desastre a educação física, sempre fui gozada, sempre fui a última ser a escolhida para as equipas, sempre fui a menina que fica no banco de substituição, sempre fui aquela que fica com o professor porque não tem par ou que fica num trio, a "incomodar" os outros dois. Estas "brincadeiras" deixam marcas - e não são superficiais."

Foi no contexto de um texto banal, ainda que o assunto me magoasse. Esse parágrafo surgiu como surgem todos os outros, naturalmente, mas dei por mim a chorar enquanto teclava e relembrava todos os anos em que passei por isto e em que "engarrafei" toda a mágoa que aqueles atos simples do dia a dia me causavam. Mas assim, tão simplesmente, tornei o assunto em algo mais ou menos normal, dando-lhe menos valor.

Abri essa gaveta, arejei-a, fechei-a. E ao abri-la assim tão naturalmente, fiz com que se esvaziasse, perdesse peso - e de todas as vezes em que isso acontece, sinto-me inevitavelmente mais leve. A melhor parte é que o faço respeitando os meus tempos - os tempos certos -, de forma natural e sem ser a ferros, puxados por conversas que me magoariam invariavelmente. Este blog é o meu psiquiatra interno e esta cadeira onde agora me sento é o meu divã. Não pode haver melhor.

17
Nov16

Adeus PT!

Ahhh, quinta-feira, esse dia maravilhoso em que tenho treino com o PT! Foi hoje. E foi o último, que eu fiz questão de - a meio da aula, esbaforida, frustrada, irritada e tudo mais - lhe dizer que para a semana não podia contar comigo. Andei a semana toda a remoer isto. As minhas olheiras? Foi do que não dormi enquanto andava às voltas na cama, enquanto pensava em como descalçar esta bota. A minha ansiedade? Exatamente pela mesma razão.

Eu não sou uma desistente. Detesto desistir do que quer que seja, custa-me muito dar parte fraca, baixar os braços e dizer "não consigo". E apesar de na semana passada tudo o que eu quis fazer, em todos os minutos daquele treino, foi dizer "chega", obriguei-me a continuar. Esforcei-me muito para, durante estes dias, ter uma atitude positiva em relação ao próximo PT - ou, pelo menos, não pensar no assunto. Mas o nível de desconforto e a frustração que sinto nos treinos supera qualquer tipo de orgulho próprio e eu percebi que toda esta questão estava a mexer comigo mais do que era suposto.

Se por um lado evito desistir, porque se há rótulo que não quero ter em cima de mim é o de desistente, por outro tinha de pôr as coisas na balança e perceber se os níveis de ansiedade que estava a atingir compensavam tudo isto. E a resposta foi fácil: não, não compensa. Estou numa fase maravilhosa da minha vida, em que gosto do que faço, em que supero barreiras todos os dias, em que me orgulho de mim mesma e trabalho para tudo o que conquisto. Este é dos poucos momentos, até hoje, em que acordo feliz por acordar e com vontade de derrubar tudo o que me apareça à frente e conquistar o mundo. Mas tudo isso desapareceu esta semana, porque tinha ali um drama num determinado dia da semana que eu não estava a conseguir saltar e que me arruinava os dias, por eu não ver nenhuma solução que me agradasse: ou parava e era uma desistente, uma #lontra para a eternidade, ou continuava, em prol de um corpo que provavelmente nunca vou ter, prolongando este desconforto e ansiedade por tempo indeterminado.

Custou-me afirmar que não ia mais, mas aproveitei um momento de explosão da minha parte para dizer tudo o que precisava. Sei que tudo isto remonta a muitos problemas que tenho e tive: eu sempre fui um desastre a educação física, sempre fui gozada, sempre fui a última ser a escolhida para as equipas, sempre fui a menina que fica no banco de substituição, sempre fui aquela que fica com o professor porque não tem par ou que fica num trio, a "incomodar" os outros dois. Estas "brincadeiras" deixam marcas - e não são superficiais. E acho que, também por isto, me custa ter alguém a supervisionar-me quando estou a fazer algo em que sempre fui péssima - e que está sempre a apontar-me erros, sempre a esperar mais de mim. Porque a verdade é que eu estou sempre a falhar, sempre a não conseguir, sempre a cair, sempre a não levantar. Numa só hora, dou por mim a bater em murros consecutivos - ultrapasso os primeiros mas chego ao fim exausta, sem conseguir ultrapassar nem mais um. E isto reflete-se tanto física como psicologicamente: as pernas tremem-me tanto que eu não me consigo sequer equilibrar, as posições já são tão "frágeis" que um só toque serve para eu cair; e eu saio perfeitamente derrotada, com a mentalidade de que não consigo fazer nada da minha vida.

Ninguém pode dizer que não tentei - tentei por pouco tempo, mas tentei. Não pus um pé fora da minha zona de conforto: dei um triplo salto. E sim, saí fora da caixa, não aterrei bem. Talvez não fosse o PT certo ou o timing correto. Mas esta vida é feita de escolhas e elas decorrem muitas vezes das prioridades de cada um. Sei que o "sonho" de um corpo (um pouco mais) perfeito e de um postura correta volta a ser adiado, se calhar até para sempre, porque não será de ânimo leve que me meto noutra. Mas não há nenhuma barriga lisa ou glúteo definido que valha tamanha ansiedade e desconforto como o que senti nestes treinos. 

16
Nov16

Review da semana 11#

Barras de amendoim da Tiger

 

Eu sou louca por amendoins. Limito-me a esquecer que eles existem a bem das minhas ancas e da minha saúde, senão comia um pacote de amendoins fritos e salgados por dia. Se caem no erro de pôr esta iguaria em cima de uma mesa de festa onde eu vá... digam-lhes adeus ou escondam-nos de mim; caso contrário, é um dado adquirido que eles vão desaparecer em menos de dois tempos.

Para dizer a verdade sou uma fã acérrima dos frutos secos, mas o amendoins são sem sobra de dúvida os meus favoritos. Não digo que não a uma mão cheia de pinhões, a um bolinho de noz ou a uns bolinhos de bolina cheia de frutos lá pelo meio... mas amendoim é amendoim. Faço uns biscoitos, com uma receita surripiada da minha tia, que são só assim de bradar aos céus - são doces e salgados ao mesmo tempo, é uma coisa tão boa que nem consigo descrever (sei que não conseguem ver - e ainda bem - , mas estou neste preciso momento com água na boca).

À falta dos meus biscoitos descobri umas barras de amendoim na Tiger que também são deliciosas. Parecem os típicos torrões que se vêem em todo o lado mas bastante mais doces e só com amendoim; são também mais finos, menos compactos e mais compridos que os torrões tradicionais mas, para mim, são mil vezes melhores. No fundo, são amendoins "colados" com caramelo. Há melhor combinação no mundo?

Pois que tenho por isso ainda mais uma desculpa para ir a Tiger (como se já lá não fosse de cada vez que passo à porta de uma). É claro que agora, para além da tralha do costume, ainda venho guarnecida com a minha dose-diária-não-recomendada-de-amendoim. Já disse que adoro a Tiger?

 

P.S.: Malta do Porto que também é uma Tiger-lover: passem na nova loja no cimo da Rua dos Clérigos. É de perder a cabeça!

 

barraamendoim.jpg

 

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