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Entre Parêntesis

Tudo o que não digo em voz alta e mais umas tantas coisas.

31
Out16

Vamos assustar-nos só porque sim?

Sendo hoje o dia de Halloween, há que falar de um assunto que acho engraçado e pertinente. Agora estão muito na moda aquelas casas assombradas, cheias de coisas horripilantes dentro, onde as pessoas pagam para entrar e, no fundo, serem assustadas. Há imensos vídeos no YouTube com isso, nomeadamente daqueles talkshows americanos. Eu confesso que, no início, achava graça aos gritinhos das pessoas e a toda aquela envolvência, mas acho que agora se tornou tão comum que perdeu a piada.

No entanto, aquilo que mais me intriga é saber como é que as pessoas, sabendo para o que vão, fazem aquelas figuras. Eu detesto tudo o que meta terror, horror e medo pelo meio; nunca vi um filme de terror do princípio ao fim, não leio sobre coisas assustadoras ou sobrenaturais nem gosto sequer particularmente que me falem disso. Em primeiro lugar porque sou medricas, é verdade, e em segundo porque não retiro prazer disso, o que já me parece uma desculpa mais do que suficiente. Ainda assim, em meados de Agosto, fui com uma amiga à feira medieval de Santa Maria da Feira e decidimos ir a uma atividade que estava a decorrer pela primeira vez este ano no castelo. Era paga (um valor simbólico) e consistia numa visita noturna ao castelo, onde estariam "criaturas" que representavam os antigos mitos medievais que nos eram apresentadas pelo nosso guia (que, só por si, já era uma criatura estranha e assustadora).

Como é óbvio, eu não queria ir. Na brochura da feira havia um aviso relativamente ao facto de ser uma atividade para adultos e não aconselhada para pessoas mais sensíveis, sendo que eu me incluí logo no segundo lote e já me queria escapar; não sou pessoa de ver para crer nem acredito naquela filosofia do "só sabes se experimentares", por isso não estava nem aí. Mas a minha amiga insistiu e eu, pondo a minha vida nas mãos dela, lá fui. E aquilo acabou por ser giro, até porque ver o castelo à noite é sempre uma experiência diferente. Mas saí de lá um bocado incrédula com o histerismo das pessoas - primeiro porque sabiam ao que iam, segundo porque aquilo não era assim tão assustador e terceiro porque o nosso guia nos avisava sobre as "criaturas" que iam aparecer, por isso o efeito surpresa era praticamente anulado. 

Eu ponho-me no lugar daquelas pessoas fantasiadas de criaturas horripilantes e imagino o gozo que elas devem ter em fazer aquilo. Porque a situação é mesmo ridícula. As pessoas sabem que vão ser assustadas, sabem que são pessoas como elas que estão dentro daqueles fatos e sabem ainda para mais que ninguém lhes vai fazer nada - no máximo, tocam-lhes com aquelas garras plásticas - e, mesmo assim, a maioria borra-se de medo. Não é hilariante? E o pior é que o medo e o histerismo pega-se. Eu entrei no castelo com esta postura racional e pragmática e, quando saí, embora nunca tivesse gritado ou feito as figuras que muitas fizeram (tive pessoas a agarrarem-se a mim e a fazerem de mim escudo pessoal delas, mesmo não me conhecendo de parte nenhuma), estava meia ofegante e com a adrenalina em alta.

Posto isto, a única coisa que tenho a dizer é que o nosso cérebro é muito parvo. O meu incluído, que eu bem senti que até ele se assustou em alguns momentos, apesar dos meus avisos constantes e racionais. É um parvinho.

30
Out16

Acho que estou levemente apaixonada...

Eu nunca passo na Hush Puppies, eu nunca olho para a montra da Hush Puppies, eu nunca entro na Hush Puppies. Nunca me chamou, das poucas vezes que olhei não gostei do que vi e sempre achei os modelos muito grosseiros (apesar dos cães das fotografias serem sempre mega fofos).

Mas no dia em que, por sorte ou azar, passei em frente à montra deles, dei com os meus olhinhos nestas sapatilhas e o meu coração ficou ali, amarradinho a elas. Já lá vai o tempo em que eu só andava de sapatilhas, com a minha irmã sempre a melgar-me o juízo sobre o facto de haver outro estilo de calçado no mundo, em particular as botas, que ela sempre adorou e me tentou impingir até ao dia em que finalmente me rendi. Hoje em dia sou uma rapariga diversificada, uso de tudo: sandálias, salto alto, sapatos, alpercatas, sabrinas, slippers, botas e, claro, as minhas queridas sapatilhas. Tudo a seu tempo e dentro do seu estilo. 

Como agora tenho muito mais coisas para usar, a minha coleção de sapatilhas foi reduzindo ao longo dos anos. Neste momento só tenho (e uso) praticamente as minhas Adidas Stan Smith, pelo que não nego que haveria espaço no meu armário - e no meu coração - para umas "irmãs" mais coloridas. Estas afiguram-se uma óptima hipótese. Gostei tanto, tanto delas que até as rosa me caíram no goto! [Há ainda umas cinzentas que adoro, mas só existem no modelo para homem...]

 

hush2.jpghush1.jpg

 

 

29
Out16

Os meus hieróglifos

Eu não nasci para ser jornalista. É uma questão com que me debato todos os dias, é algo que me faz sofrer (quase) todos os dias mas que simplesmente me limito a aceitar. Não sou de desistir de desafios e, a partir do momento em que aceitei o meu atual trabalho de braços abertos (embora às cegas), é para ir para a frente. Todos os dias debatendo comigo mesma e todos os dias saltando do meu círculo da área de conforto, mas lutando - que é o que importa.

No meio disto tudo, e como as coisas não fluem naturalmente, falo abertamente com os meus colegas e chefe para tentar fazer as coisas o melhor possível, usando os seus hábitos e táticas com que já trabalham há tantos anos. E uma das coisas que me disseram foi para não gravar as conversas - não no sentido autoritário ou de obrigação, claro, mas simplesmente expuseram-me os seus pontos de vista e eu, de facto, concordei. Para além do facto de os gravadores ou telemóveis não serem 100% fiáveis (já fiquei uma vez, ainda na faculdade, sem uma entrevista enorme à conta disto), é um facto que os gravadores condicionam um pouco a conversa e as pessoas se mostram assustadas por tudo o que estão a dizer estar a ser gravado. Por outro lado também falo muito com as pessoas ao telemóvel, pelo que a questão do gravador já nem sequer se coloca. Por isso, desde cedo que deixei as gravações de parte e confio na minha rapidez na escrita.

E... bem... eu rápida sou. O pior são os hieróglifos que saem das minhas mãos e que, aquando de uma leitura posterior, me lixam totalmente a vida. Primeiro nunca se escreve tudo, como é óbvio - há coisas que não tenho tempo para escrever na íntegra e penso "só com esta palavrinha vou lá chegar": errado! Fico a olhar para aquilo como um burro olha para um palácio, fazendo exercícios mentais complexos para rever a conversa que tive e tentar chegar ao tópico em análise. Depois, mesmo aquilo que se escreve, por vezes... não é fácil de entender. 

Num destes últimos dias, dado o meu desespero enquanto olhava para as minhas notas hieróglifadas, percebi que o que eu preciso mesmo... é de um curso de estenografia, daqueles que as secretárias antigamente faziam para acompanharem os ditados dos seus patrões sem perderem pitada. Tenho a certeza que se abrirem o meu caderno de notas, não perceberão se aquilo é português ou um qualquer código de encriptação altamente avançado. Por isso, mal por mal... que sejam códigos a sério. 

28
Out16

Chávena de letras: "Onde estás, Audrey?"

onde-estás-audrey.png

 Nunca tinha lido nada de Sophie Kinsella, mas fiquei surpreendida quando pesquisei o seu nome e vi boas classificações para livros que eram aparentemente leves e divertidos. 

Comprei este, acabadinho de chegar às livrarias, por causa da capa; achei-lhe piada, vi a sinopse, vi as classificações no Goodreads e, estando num bloqueio de leitura, atirei-me de cabeça.
Não posso falar em relação aos outros, mas este está longe de ser um livro extraordinário. É simples, talvez demasiado simples; há uma situação traumática que nunca é bem explicada ou contextualizada, sendo que tudo se desenvolve a partir daí. As personagens podem ter graça, mas são pouco sustentadas e senti alguma falta de background em todas elas.
No entanto, é um livro de leitura extremamente fácil e rápida, que consegue bem-dispor com alguma facilidade apesar do problema grave que é retratado. Considerei este um livro mediano, mas não fiquei fã da autora.

 

P.S.: Se houver interessados, estou a vender o livro - é dos tais que prefiro "passar", porque não quero ter em casa. 

27
Out16

Trust issues

Trabalhar é bom por muitos motivos, mas um deles é sem dúvida ficarmo-nos a conhecer melhor e racionalizarmos algumas das atitudes que temos de forma completamente banal. Eu tenho aprendido imenso sobre mim própria porque todos os dias me exponho a situações que não são do meu quotidiano, que não me são confortáveis e que eu muitas vezes nem sequer gosto, mas me vejo obrigada a fazer. 

Algo que notei é que eu espero sempre o pior das pessoas. Não é novidade para mim nem para ninguém de que eu tenho dificuldade em lidar com os outros, em falar com pessoas estranhas (e mesmo pessoas não estranhas). Mas nos últimos dias, em que ando a respirar fundo muitas vezes antes de pegar no telefone e ligar para um número desconhecido, apercebi-me que estou sempre à espera que me tratem mal do outro lado da linha - e, infelizmente, acho que isso diz muito sobre mim e sobre as minhas relações interpessoais ao longo da vida. Estou sempre à espera que me mandem pastar, que me berrem, que sejam antipáticos - e fico sinceramente surpreendida quando me calham pessoas simpáticas e agradáveis que, no fundo, só me tratam com o devido respeito.

Fiquei surpreendida e, confesso, um bocado magoada com esta constatação (aliás, este é dos assuntos que, embora tente falar e "suavizar", me pesam e doem mais). Mas penso que é o espelho de algo que foi constante em toda a minha vida: passo a minha vida a levar "patadas" dos outros. Acho que é uma espécie de "cruz" que trago comigo, porque desde pequena - mesmo muito pequenita, aí com uns 4 anos - que me lembro de chorar, de me sentir magoada e só por perder constantemente aqueles em quem confiava. Ainda hoje acontece - embora em menos quantidade, porque o círculo de pessoas que me podem causar mossa é cada vez menor. Mas é por isso que eu tenho os chamados "trust issues", que me toldam as relações pessoais por um medo constante e pela espera constante que me dêem com os pés. 

A verdade é que eu, à partida, já não estou disponível para ser magoada e isso faz com que há muitos anos eu não fale com pessoas novas e me interesse por qualquer tipo de relação duradoura; interajo com os outros, mas com um nível de distanciamento grande e que garanta a minha segurança psicológica. E estes últimos dias, em que me vejo obrigada a saltar para a "arena" repleta de "touros" com os cornos ao descoberto, não sabendo se são mansos ou agressivos, têm sido difíceis. Cada vez que pego no telefone é um desafio e de cada vez que desligo é uma conquista. 

Tenho a dizer que tenho tido sorte e que não me têm aparecido touros bravos pelo caminho - verdade seja dita que tudo o que eu quero saber (e escrever) são boas notícias e coisas positivas para os visados (não estou propriamente no Correio da Manhã), mas mesmo assim estou sempre à espera que chegue o dia. Porque a confiança é assim, como um papel amachucado: podemos estica-lo à vontade, mas ele nunca mais na vida fica direito. E eu tenho quase a certeza absoluta que, por muitos anos que viva, este medo (e esta dor) nunca vão desaparecer por completo. Não sou pessoa de pessoas. E por muito que me atire para arenas, nunca vou ser.

25
Out16

Preciso de encontrar "o tal" - e sim, estou a falar de um livro

Achavam que eu estava só desconsolada na comida? Nã... o problema vai para além disso e abrange outra das coisas que mais amo (até porque comer também está claramente no meu top 3 das melhores coisas da vida). Estou a falar das leituras. Pelo menos uma vez por ano dá-me isto e 2016 estava a correr-me muito bem até o fim de Julho. Depois disso as férias começaram a ser demasiado entusiasmantes e cansativas para pegar num livro, a seguir comecei a trabalhar e fiquei assoberbada com o volume de trabalho que tive e o cansaço com que ficava ao fim de todos os dias... e os livros foram ficando na estante, sendo que também nenhum "gritava" particularmente por mim nem me entusiasmava o suficiente para quebrar este ciclo.

Pode dizer-se que na primeira metade do ano li 15 livros, o que é uma média excelente e que adorava poder continuar - mas já tirei o cavalinho da chuva, porque já percebi que agora vai ser difícil continuar com esse tipo de ritmo. No entanto também é verdade que muito poucos desses livros tinham algum conteúdo de grande relevância ou valor: dediquei-me especialmente aos romancezinhos adolescentes que por aqui tinha, principalmente em inglês, e devorei-os até não ter nem mais uma página por onde divagar. Entretanto apaixonei-me pelo Joel Dicker, mas o homem também ainda não escreveu muito, pelo que foi sol de pouca dura.

Entretanto a minha vida está a acalmar e as rotinas estão a estabilizar, pelo que já arranjo forças para pegar num livro antes de dormir em vez de cair direta em cima da almofada. Quem olhar para a barra lateral deste blog, ali para as zonas de leituras, pensará: "uau, tão erudita, a ler vários livros ao mesmo tempo!". Mas não. No fundo, são tentativas falhadas de um regresso à leitura que não está, de forma alguma, a ser fácil. Não são livros maus, simplesmente não são os livros certos. Preciso de "meter a primeira" com algum livro que me prenda mesmo e sei que, a partir daí, já sigo na "estrada" em velocidade de cruzeiro e a ler quase tudo o que tenho por aqui - incluindo todos aqueles livros que tenho posto em stand-by por não me prenderem o suficiente para me manter acordada mais vinte minutos todas as noites.

Em desespero de causa comprei mais um daqueles livrinhos fáceis e com histórinhas de cordel para engatar na leitura - e está a funcionar. Espero ser o suficiente para me fazer chegar à meta dos 20 livros que me auto-propus a ler este ano; caso contrário, bem que fico pelos 15 livros por tempo indeterminado. Ainda assim, estou desconsolada e preciso de um livro que me encha as medidas. Hoje em dia há tanto, tanto, tanto livro que seria lógico que fosse mais fácil encontrar algo de que gostássemos, por haver mais oferta; mas todas aquelas prateleiras das livrarias parecem transformar-se em autênticos palheiros, onde os livros bons são agulhas que agora são cada vez mais difíceis de encontrar. 

24
Out16

"Destralhadora" ao serviço

Hoje a primeira coisa que fiz no trabalho foi destralhar. O projeto que arrancamos foi tão repentino e havia tanta, tanta coisa a fazer numa primeira fase que não havia tempo para nos preocuparmos com pormenores; sentamo-nos todos numa secretária e tudo o que precisávamos era de comida, bebida e abastecimento de eletricidade. Só agora é que as coisas estão a começar a acalmar e hoje foi a primeira fase de um mini extreme makeover lá no escritório. 

Quando lá cheguei tinha uma série de coisas para ver e para decidir se eram para o lixo ou qual o destino que se davam àquelas prendas ali deixadas pelos anteriores "habitantes" lá do sítio. No meio daquilo tudo e da minha satisfação em atirar, literalmente, as coisas para o balde do lixo, disse: "adoro deitar coisas fora!". E deu-me um clique, que até aqui ainda não tinha dado: há anos que ando a destralhar a biblioteca, o meu armário e o meu quarto de uma forma geral, mas nunca tinha percebido que adoro a sensação de despachar coisas. Já aqui tinha falado que diminui para metade a minha roupa, em vários acessos de loucura que vou tendo, mas a "limpeza" tem-se estendido a várias áreas - ainda este fim-de-semana tornei a encher o meu balde do lixo de catálogos e tralhas e só eu sei o prazer que me dá chegar ao fim do dia com o dito balde a abarrotar pelas costuras.

No fundo já sabia há muito tempo, mas hoje racionalizei tudo isto: destralhar é do mais relaxante que há (tenho de me lembrar disto quando achar que a comida é a solução para todos os problemas e stresses) e, juro-vos por tudo, que comecei o meu dia muito mais animada depois de andar a atirar coisas para o saco do lixo. Posto isto, resta-me mostrar a minha total disponibilidade caso o TLC precise daqueles destralhadores profissionais para limpar e deitar literalmente toneladas de coisas para o lixo em casas alheias. O meu email está ali ao lado e eu prometo ser implacável, ok?

 

 

 

23
Out16

Mudam-se os tempos, mas as vontades nem por isso

Ontem levei o meu sobrinho mais velho ao Estádio do Dragão. Ele nunca tinha ido e estava em pulgas, eufórico com a novidade. Leva-lo ao estádio era algo que já há muito que gostava de fazer com ele; foi um momento marcante para mim, lembro-me do quão encantada fiquei quando pisei aquele sítio pela primeira vez e queria muito poder proporcionar-lhe uma experiência semelhante. Como ele começou há tempos a interessar-se por futebol, jogadores e etc., achei que seria a altura ideal.

E adorou, pois claro. Eu fiz questão de ir ver um jogo mais "fácil" (embora, nos dias de hoje e no estado em que o FCPorto se encontra, todos os jogos são uma incógnita), para termos mais probabilidades de ganhar - e vencemos por três, o que já deu para tirar a barriga de misérias e para ele saltar de emoção vezes suficientes. Para além disso, à saída, ainda apanhamos o Helton, que é um querido e estava a tirar fotos com a malta toda - e tirou uma também com ele, por isso o batismo não podia ter sido melhor. A pior parte foi mesmo no fim, porque como em qualquer batismo... apanhamos com água. Muita água. O rapaz até ficou atarantado de tão encharcado que ficou - eu, tia, mais velha e experiente, já estou mais habituada a estas coisas, mas devo confessar que já não apanhava com uma carga de água tão grande há uns anos largos. 

Mas enfim, o mais giro disto tudo eram as coisas que ele me ia dizendo no decorrer do jogo - que eram exatamente as coisas que eu dizia e pensava quando era mais nova! Primeiro disse-me que gostava de ser um daqueles meninos que estão atrás dos painéis publicitários, a apanhar e mandar bolas (eu também dizia que queria ser menino e ir para as escolinhas só para ir para lá); depois ainda se lembrou dos outros meninos que entram com os jogadores em campo, porque também gostava de ir de mão dada a eles - principalmente com o Herrera e o André Silva, os seus preferidos (eu era igual, mas a minha crush era mais o Vitor Baía, o Derlei ou o Benny McCarthy); durante o intervalo começou a dizer que fixe, fixe era estar nos lugares mais baixos para poder falar com os jogadores - e no fim do jogo, quando saímos para a zona das comidas onde existem televisões, viu o André Silva a entregar a camisola a uma miúda e enfatizou ainda mais este pensamento, acrescentando que o melhor lugar era mesmo ao ladinho do túnel (e eu era tal e qual: pedia encarecidamente ao meu pai para ir para os lugares de baixo para os ver mais de perto, algo que ele sempre me negou por se ver muito pior o jogo).

Senti-me um bocadinho velha quando o ouvi repetir tudo aquilo que em tempos ia na minha cabeça e, pior, quando achei que fazia sentido responder as mesmas coisas que o meu pai me respondia a mim. Ok, talvez não tão pragmática (não lhe disse "mas para quê que tu queres uma camisola mal-cheirosa de um jogador de futebol de 20 anos!?"), mas disse-lhe que, de facto, ver os jogos nos lugares de baixo era muito pior e outras coisas que tais. A parte boa é que continuo a ser uma criança como ele em certas coisas: continuo a querer ser pequenina e andar nas escolinhas de futebol para ser apanha bolas e, na verdade, também gostava de ter uma camisola de um jogador qualquer. Também ainda não cheguei à fase de preferir ver os jogos em casa do que no estádio mas devo admitir que aquelas correntes de ar não são boas para ninguém (e sim, passei a minha vida a perguntar-lhe "não tens frio?", "aperta lá o casaco"...) e que, quando cheguei ao carro estilo pingo, só queria um sofá onde me esticar e uma mantinha quente sobre o corpo.

Afinal de contas estou velha, mas só um bocadinho.

 

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22
Out16

Carolina, a desconsolada

A vida corre-me bem, ando (maioritariamente) feliz e ocupada o suficiente para não me lembrar de grandes dramas. Mas há duas coisa que me apoquentam: a primeira é sentir-me uma lontra (e sim, aqui estou a pressupor que todas as lontras são gordas) e a segunda é andar desconsoladíssima.

Se por um lado tento não comer porcarias ou quantidades astronómicas de comida, por outro sinto-me insatisfeita com tudo o que faço ou como. Nem sei bem o que me apetece - para além de picanha em doses industriais, panados de um take away aqui ao lado de casa ou torradas com manteiga. Quero tanto comer qualquer coisa que me satisfaça que acabo por atacar doces, que também não me sabem bem (e depois ainda fico com peso na consicência por os ter comido e não ter desfrutado). Bolos que antes comia sem pensar duas vezes enjoam-me de tão doces; há meses que não toco em coca-cola, o meu guilty pleasure dos fins-de-semana desde que praticamente me conheço; o chocolate (nomeadamente os ovos kinder, que comprei há dias e escondi no meu quarto) faz-me mal e deixa-me mal disposta. Mesmo as comidas salgadas não me têm sabido bem - há dias uma sopa sabia-me a marisco (juro!), acho tudo salgado ou com sabores meio estranhos. Não sei que raio se passa com o meu palato.

Chego ao ponto de ter inveja do meu eu de há um ano e meio atrás. Comia um iogurte magro com uma peça de fruta ao pequeno-almoço (agora? torrada com manteiga, pois claro), gelatinas nos snacks (agora? mais uma torrada com manteiga), sopa ao jantar (agora? o que vir à frente) e coisas saudáveis à sobremesa (agora? bolo). Ainda há pouco fiz um bolo saudável de abóbora mas já provei um bocadinho e sei que não vai passar disso - é desconsolado! Todas essas coisas saudáveis, incríveis e reubeubeu pardais ao ninho são desconsoladas e eu, lontra, não sei que fazer da minha vida. Nessa época acabei por tolerar muito menos o açúcar (que é das poucas coisas que se vai mantendo), mas fui-me gradualmente habituando a coisas mais saudáveis. Neste momento, não estou a conseguir fazer essa transição e estou sinceramente frustrada.

Isto junta-se ao facto de ainda não ir ao ginásio, o que faz com que eu simplesmente fuja dos espelhos espalhados por esta casa (ou noutros locais alheios) e a minha auto-estima tenha sido atirada para o fundo de um poço bem fundo. Arrrrrg.

Enfim, depois disto, o que apetecia mesmo era uma torradinha, não era? (Estão a ver? Lontra.)

20
Out16

O país dos doutores e engenheiros

Sempre se disse (e se ouviu) que Portugal é o país dos doutores e dos engenheiros. Toda a gente tem de ter um prefixo qualquer para se sentir de bem com a vida. São doutores os que não médicos ou doutorados (e os praxistas a partir do segundo ano, que é melhor ainda!), são engenheiros os que só têm o bacharelato e, com o estado das coisas, o estagiário no gabinete de arquitetura já é provavelmente senhor arquiteto. Até a mim me chamam doutora, que é assim a coisa mais estranha e anedótica de sempre - mas enfim, é o país onde vivemos.

E eu sempre soube que isto era assim mas só agora é que estou a entender a extensão do problema e as dificuldades que isso nos pode criar no dia-a-dia. Neste momento, e para mal dos meus pecados, passo a vida a falar com pessoas que não conheço - e a menos que saibamos à partida que aquela pessoa é médica, doutorada, advogada, engenheira (ou qualquer outra coisa que tenha um rótulo associado) é um problema quando nos dirigimos a ela. Eu dou por mim a gaguejar e a dar trinta voltas de forma a que todos os "sujeitos" nas minhas frases sejam omissos, para não fazer asneiras e as pessoas não ficarem ofendidíssimas. Sim, porque se chamamos doutor a um engenheiro cai o carmo e a trindade. E se chamamos senhor a um doutor é um drama. E se não chamamos o que quer que seja a alguém que não é nenhuma das coisas supra-mencionadas... também é provável que essa pessoa fique chateada. Ou seja: é uma gestão difícil.

Eu tenho duas técnicas: a primeira é estar atentíssima sempre que me falam de quer que seja, para apanhar os prefixos de toda a gente; mesmo quando se está em conversa com essa pessoa, dá sempre jeito ir vendo como é se deve interagir. A segunda é, como disse acima e em desespero de causa, nunca chamar a pessoa pelo nome, o que às vezes requer bastante imaginação.

Pronto, já disse o que tinha a dizer. Agora a doutora Carolina vai mazé trabalhar, que a vida não é só andar aqui a mandar uns bitaites. Doutora que é doutora faz coisas sérias.

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    12. N
    13. D